Introdução À Filtração De Cervejas Os Auxiliares Filtrantes
Por Eng° William R
Edição Nº 10 - Julho/Agosto/Setembro de 2004 - Ano 3
Filtração é o processo no qual uma mistura de líquido e partículas contidos em uma suspensão, são separados pela passagem desta através de um meio filtrante contendo material poroso, sob o efeito de um diferencial de pressão. A separação ocorre...
Filtração é o processo no qual uma mistura de líquido e partículas contidos em uma suspensão, são separados pela passagem desta através de um meio filtrante contendo material poroso, sob o efeito de um diferencial de pressão. A separação ocorre por retenção
das partículas sólidas neste leito.
O diferencial de pressão aumenta no decorrer da filtração que transcorre até o limite dimensional do equipamento ou sistema.
No caso específico de Filtração de Cervejas esta teoria é totalmente válida e mais especificamente é o processo com o qual as células de levedura e outras substâncias causadoras de turbidez presentes nas etapas Pós-Fermentativas são removidas do produto líquido. Além do aspecto visível da turbidez, estas substâncias devem ser retiradas, pois do contrário poderiam alterar certas características do
produto ao longo do tempo dependendo das condições de transporte e estocagem.
O processo de filtração de cervejas é considerado um processo complexo pelo número de variáveis a serem controladas que o mesmo impõe e a dinâmica dos equipamentos envolvidos.
Como é considerada uma das etapas finais do processo produtivo, falhas de controle e variações impactam diretamente no produto acabado.
São vários os equipamentos e tecnologias empregadas e neste artigo estaremos dando especial atenção aos Aspectos Gerais da Tecnologia de Filtração dos Meios/Auxiliares Filtrantes mais usados atualmente. Em artigos futuros, após o entendimento dos pontos apresentados, este tema será tratado conjuntamente dentro dos Cálculos de Filtração somados às características dos principais Equipamentos usados.
Filtração de Cerveja – Conceitos Gerais
O Processo de Produção
Antes de iniciarmos o assunto principal deste artigo, vamos a alguns conceitos básicos do Processo de Produção de Cervejas para o entendimento dos objetivos da Filtração.
O Processo de Produção de Cervejas
pode ser dividido em 3 etapas básicas:
- Produção do Mosto
- Fermentação e Maturação
- Filtração
O processo se inicia com a Produção
do Mosto Cervejeiro, onde através de
processos térmicos, açúcares, proteínas
e demais substâncias existentes no
malte de cevada são solubilizados emágua cervejeira para a produção do
Mosto. Este Mosto produzido nesta etapa,
recebe também lúpulo que dará as
características de aroma e sabor típicos
do produto final.
A etapa seguinte é a Fermentação e
Maturação que pode ser considerada
chave dentro do Processo de Produção,
pois nela ocorrem as principais
transformações que no conjunto e no
futuro, resultarão no produto final bruto.
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Estas transformações ocorrem por
meio das Leveduras do gênero Saccaromyces,
que são adicionadas ao Mosto
resfriado em Tanques de Fermentação.
Sob condições controladas de
tempo, temperatura e contra-pressão,
a transformação é levada a cabo por
inúmeras reações bioquímicas. Estas
transformações vão desde a básica
Transformação de Açúcares, onde os
Açúcares Fermentecíveis são
em Álcool e Gás Carbônico, passando
por outras infinidades de reações
envolvendo cadeias de elementos
mais
complexos.
Ao final do processo de Fermentação
e Maturação, praticamente já temos o
Produto Final, mas o mesmo está turvo
em relação ao que conhecemos por ter
muitas partículas em suspensão, como
leveduras residuais e outras causadoras
de turbidez. Devido a fatores culturais
e regionais uma cerveja nestas condições
pode não ser aprazível ao consumidor
e por isso se faz necessário que
esta passe por um processo de filtração
para a remoção deste material. Esta
fase seria a 3ª etapa do Processo Produtivo.
Durante o processo de filtração, não
existe alteração no paladar e das características
do produto já adquiridas
nas etapas anteriores, ocorrendo apenas
a remoção da turbidez indesejada e
uma maior estabilização e equilíbrio físico-químico de suas características gerais.
Todo este processo faz com que haja um
impacto positivo no equilíbrio do produto
no mercado durante o tempo normal de
validade, sob as diferentes condições impostas,
desde que normais.
Principais Equipamentos
Conforme figura acima os elementos
filtrantes são dispostos uns sobre os outros
de maneira a formar uma unidade compacta
formando assim a área filtrante
definida como a área sobre a qual se forma
bolo filtrante. Um eixo horizontal transversal
aos elementos filtrantes faz a distribuição
do fluxo do produto filtrado e não
filtrado através do filtro. A filtração se processa,
exclusivamente, pela parte superior
dos elementos filtrantes onde o filtradoé recolhido pela parte inferior destes e
direcionado ao canal de distribuição formado
pelo eixo central.
O processo de filtração de cervejas é
considerado um processo complexo
pelo número de variáveis à serem
controladas que o mesmo impõe
e a dinâmica dos equipamentos
envolvidos.
As operações de enchimento e formação
das pré-camadas são simples mas
devem ser feitas com muito cuidado,
sendo cada uma delas variáveis de
acordo com cada fabricante e tipo de
cerveja. Após o preparo do Filtro que
pode durar um par de horas, inicia-se o
processo de filtração de cervejas. Ao
longo do processo, cerveja turva entra
pelo filtro e recebe uma dosagem
de Auxiliares Filtrantes. Estes juntamente
com os já existentes no interior do Filtro,
farão o papel de agentes de retenção
ou filtração, impedindo que o material
sedimento turvo passe para as etapas
seguintes. Na saída do filtro após o
processo de filtração, teremos a cerveja
clarificada da forma que conhecemos.
Com o tempo, este sistema de filtração
vai se colmatando e o diferencial de pressão
Entrada X Saída se eleva até o limite
de dimensionamento do equipamento,
quando o ciclo é interrompido. O sistema
é limpo e reinicializado outro novo caso necessário. O tempo de um ciclo tem uma
série de variantes, mas considera-se 12
horas como um tempo de referência mínimo
adequado para os processos modernos.
Tipos de Filtração
A performance da filtração de um líquido
está ligada a capacidade de um leito
filtrante em reter partículas e permitir o
fluxo do líquido. Com relação as características
do leito, será relevante a capacidade
de retenção, a porosi-dade
e o formato das partículas, que constituem
o leito.
Essa retenção de sólidos das partículas
pela filtração de superfície, é a principal
caraterística deste tipo de processo,
o que garante a eliminação
da maior parte dos
formadores de turvação.
A filtração por profundidade
tem a característica
de reter as partículas
pequenas, aprisionadas
no interior dos poros. A
grande vantagem dos
auxiliares filtrantes é que
conseguem reter material
das duas formas acima
descritas, atingindo o
grau de limpidez desejado
no líquido. Enfim a filtração
dará o brilho, ajudará
a estabilidade
coloidal, microbiológica
e organoléptica da cerveja,
necessários a um
produto industrializado.
Filtração de Superfície
O meio filtrante é caracterizado
por possuir uma
superfície porosa, muito
fina e com caminhos tortuosos.
O mecanismo de
separação das partículas
neste caso é de bloqueio
mecânico/físico. O efeito
de retenção de partículas
é devido ao diâmetro
destas serem maiores que o dos poros
do meio/material filtrante. Neste processo,
as partículas que não podem
passar através dos poros de um meio
filtrante, são retidas em uma camada
a qual torna cada vez menor ou com
mais resistência.
Filtração por Profundidade
É caracterizada pela espessura do
meio filtrante. A maioria dos filtros são
feitos por deposição de materiais
particulados como perlitas, diatomitas,
celulose e algodão, unidos por ação
mecânica de fluxo passante e depositados
sobre uma peneira metálica, os
chamados elementos filtrantes. A formação
destas camadas de auxiliar
filtrante, dá a este uma espessura considerável
e fornece um longo e tortuoso caminho ao fluido.
As particulas passam para o interior do meioporoso e a estrutura em forma de labirinto do material filtrante faz com que as párticulas fiquem aderidas às rugosidades e reentrâncias dos poros. Estas partículas são geralmente menores que os poros do meio filtrante. Assim como no caso anterior, altas vazões, choques de pressão e turbulência podem eliminar este efeito. |
Auxiliares Filtrantes
Os Auxiliares Filtrantes desempenham
um dos papéis mais importantes dentro
do Processo de Filtração de Cervejas.
A sua escolha, característica, origem,
homogeneidade e forma de emprego
impactam grandemente nos resultados
de filtração, não somente em
termos de qualidade do filtrado como
em produtividade do processo.
Os Auxiliares Filtrantes são um grupo de
substâncias em forma de pó classificadas
conforme sua origem. Durante o
processo de preparo dos Filtros, são
depositados por sobre os elementos
filtrantes do equipamento, durante o
procedimento de preparo da pré-camada,
forman do um gradiente de
permeabilidade, bloqueando a passagem
de substâncias insolúveis pelos
efeitos de filtração por superfície e por
profundidade que já discutimos. Existem
vários tipos, características e fornecedores
de Auxiliares Filtrantes disponíveis.
A seleção dos diferentes tipos
para a cerveja em questão leva
em consideração uma série de estudos
avaliando, por exemplo: a característica
da cerveja que será a base
do processo de filtração, as especificações
do produto que se deseja obter,
o tipo de instalações disponíveis e
sua condição de operação. Não existe
uma receita fixa para todos os sistemas
de filtração, já que processos
bioquímicos são variáveis naturalmente,
bem como características de Matérias
Primas da mesma forma, mesmo
para um sistema de filtração comum,
as composições de auxiliares filtrantes
devem estar sempre sendo adequadas.
A avaliação constante dos itens
acima descritos e técnicas de preparo
fazem a diferença no resultado. É por
este motivo que é muito difícil de se
encontrar na bibliografia conhecida,
informações profundas sobre o assunto.
A seguir, será feita uma abordagem
sobre os principais tipos de Auxiliares
Filtrantes usados em cervejarias, suas
características e aplicações.
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Diatomita
A diatomita pode ser utilizada
calcinada ou ao natural. Ao natural teremos
partículas muito finas o que ocasionará uma filtrabilidade baixa, resultando em ciclos de filtração muito curtos,
no entanto com alto poder de retenção.
Para se obter partículas maiores,
com um maior grau de permeabilidade,
a diatomita é calcinada em
um forno à altas temperaturas.
Durante este processo de calcinação, internas do produto, fazendo variar aos
mais diversos graus suas características
de permeabilidade, retenção e fluxo.
A mistura / combinação destes mais
graus, atenderão as necessidades variáveis
e comuns dos sistemas de filtração
modernos.
Perlita
A Perlita é um mineral de origem vulcânica
composta principalmente de
Silicato de Alumínio Hidratado. O mineral
resfriou-se e petrificou-se rapidamente,
ocorrendo o aprisionamento de
porções de água em suas moléculas,
denominada de água de constituição
ou de cristalização. Essa rocha é triturada,
seca, classificada, e aquecida a
900ºC.
Isto provoca uma grande expansão,
que gera um material levíssimo, com
partículas que podem chegar a 20 vezes
seu volume original. Em seguida é
moído e classificado de acordo com
seu uso específico atendendo a maior
ou menor retenção de sólidos presentes
em uma mistura, durante uma
filtração.Veja figura abaixo.
As suas principais características são:
Devido sua baixa densidade, a Perlita
ocupa um espaço muito maior em relação
a diatomita dentro dos filtros ;
Forma uma torta de baixa compressibilidade
e muito porosa;
Não possui porosidade interna, portanto
não filtra por ação de profundidade
tendo maior dificuldade de reter
partículas pequenas;
Celulose
O Auxiliar Filtrante composto de celulose
consiste de um produto obtido
através da polpa de Madeira e Fibras
de Algodão. Não são polpas ou fibras
comuns. Devem ter tamanhos, resistência
e elasticidade específicas para
esta aplicação, o que os transforma em
produtos muitas vezes de preço elevado.
Normalmente sua utilização se resume
à 5% do total usado no sistema
de Auxiliares Filtrantes.
Apresenta algumas características que
conforme a aplicação pode trazer significativos
resultados em algumas aplicações:
Forma uma Pré-Camada muito regular
ajudando na distribuição das partículas
;
Ajuda na clarificação da cerveja.
Como possui cargas eletricamente carregadasatrai certos tipos de partículas
de cargas opostas. Esta característica
não existe nas perlitas e diatomitas
e por isso constitui um diferencial em
certas aplicações;
A utilização de celulose
em composição
com a terra, dá ao
meio filtrante uma maior
elasticidade e portanto
o leito filtrante
resistirá mais a variações
de pressão ;
As Fibras de Celulose
são utilizadas como
Auxiliares Filtrantes em
combinação com
Diatomitas e Perlitas
proporcionando maior
versatilidade aos controles
dos parâmetros
da filtração.
As Fibras de Celulose Fibras de Celulose
misturadas as Diatomitas, são elementos
que modificam a permeabilidade
do meio e aumentam o grau de retenção
do mesmo. Por exemplo, em geral
os Auxiliares Filtrantes Grossos tem alta
permeabilidade e coeficiente de retenção
baixo.
De acordo com a região do globo onde eles existiram, encontraremos |
O inverso ocorre com os Auxiliares Filtrantes Finos. Se agregarmos teores entre 10 a 20% de Fibras
de Celulose a
estes auxiliares, serão modificados os
respectivos Graus de Retenção e
Permeabilidade.
Os Graus de Diatomita grossa (Permeabilidade > 0,9 darcies) vão ter aumentados
o seu Poder de Retensão. Esta é a principal vantagem das fibras de celulose.
Devemos levar em conta que para utilizar
as Fibras de Celulose, além dos
graus ideais de Diatomita que vamos
utilizar como base, existem uma série
de tipos de Celulose que se diferem por
Longitude, Diâmetro e Grau de Permeabilidade
das Fibras.
Conclusão
Esta é a 1ª parte deste assunto que poderia
se estender por várias outras páginas.
É muito importante que o leitor
tenha entendido os principais conceitos
abordados até o momento, já que
nas próximas edições devemos estar
utilizando com um pouco mais de informações
e detalhe, como a Operação
Básica dos Equipamentos dos Sistemas
de Filtração. Infelizmente a bibliografia
sobre o assunto não é grande
e um profissional para adquirir experiência
neste assunto deve coletar
informações em diversas fontes como
livros, artigos técnicos, com os fornecedores
de Auxiliares Filtrantes e Sistemas
de Filtração, além de lógico uma
grande carga de experiência
operacional no dia-a-dia. O tempo e a
dedicação são os maiores diferenciais
para que este profissional se transforme
em um bom especialista de filtração,
mas mesmo assim surpresas poderão
ainda fazer parte de alguns de
seus dias.
Bibliografia
KUNZE, WOLFGANG
Technology Brewing and Malting
7ª Edição - VLB Berlin
LEWIS, MICHAEL J. and YOUNG,
TOM W.
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Chapman & Hall, 1996
HOUGH, J.S.
Biotecnologia de la Cerveza y
de la Malta
Editorial Acribia, 1995
HARDWICK, WILLIAM A.
Handbook of Brewing