Uso Do Ozônio Como Alternativa De Tratamento De Efluentes Hídricos Foi Tema De Workshop Na Petrobras Refinaria De Capuava
Por Nelson Roberto Cancellara
Edição Nº 10 - Julho/Agosto/Setembro de 2004 - Ano 3
A utilização da tecnologia do ozônio para tratamento de efluentes industriais está sendo cada vez mais difundida no Brasil devido aos excelentes resultados que vem sendo apresentados principalmente...
está sendo cada vez mais difundida no Brasil devido aos excelentes resultados que vem sendo apresentados principalmente no cenário internacional.
Essa técnica foi tema do workshop ocorrido no dia 20/04 na Refinaria de Capuava no qual participaram técnicos e pesquisadores da Petrobras e IPEN.
O evento ocorreu em decorrência dos estudos que estão sendo realizados na Gerência de Otimização RECAP pelo químico Nelson Roberto Cancellara, na busca de novas tecnologias para tratamento e reaproveitamento de águas, tendo em vista a ineficiência dos processos químicos convencionais em matrizes complexas.
Segundo Nelson um defensor desta tecnologia, "Uma das grandes vantagens na utilização do Ozônio no tratamento de água com matrizes complexas, reside no fato de não haver formação de sais indesejáveis como por exemplo cloretos que ocorrem em conseqüência dos processos químicos como é o caso do Dióxido de Cloro".
Continua Nelson: "A transformação parcial do material orgânico em CO2 ou em subprodutos de curta vida, o residual puramente inorgânico onde todos os cátions usualmente presentes, pela ozonização podem ser levados ao seu maior estado de oxidação, é um dos atributos do caráter oxidante do Ozônio".
O foco central do evento na RECAP foi a apresentação de um anteprojeto e dos resultados analíticos das várias correntes de águas industriais tratadas com Ozônio produzido em um reatorpiloto.
Como palestrante, foi convidado o engenheiro Olli Kalervo Tikkanen da OKTE Engenharia e Consultoria, que fez uma explanação das várias aplicações de Ozônio nos diversos segmentos industriais. O engenheiro Olli apresentou na oportunidade um anteprojeto que ora está em estudo, para tratamento de água da RECAP conforme solicitado.
Trabalhando com o ozônio desde 1992, o engenheiro Olli obteve também vários conhecimentos sobre o assunto na Alemanha, tendo desde então desenvolvido um grande número de testes, testes-piloto e contando inclusive com patentes requeridas. Na oportunidade, falou da aplicabilidade do ozônio na Europa, onde é amplamente utilizado em diversos setores de atividades industriais, tendo seu uso ampliado principalmente após a Segunda Guerra, apesar
da sua primeira aplicação Industrial em tratamento de água ter ocorrido em 1860.
Um dos principais motivos da ampliação da tecnologia do Ozônio na Europa em tratamento
de água para fins domésticos, deve-se à descoberta nos anos 70 da presença de dioxinas
e outros produtos cancerígenos oriundos dos tratamentos com clorogás em correntes e efluentes que possivelmente continham agrotóxicos, pois tais compostos ficam incorporados à água tratada chegando assim à população. O Ozônio se constitui hoje em um dos meios mais eficazes para destruir o Antraz.
Na Ásia a ampliação da tecnologia do Ozônio tem sido incrementada tanto para tratamento de água como para o tratamento de esgotos urbanos e seus respectivos lodos, devido as restrições ambientais assim como pela exigüidade de áreas de aterro.
Olli, discorreu sobre a aplicabilidade do Ozônio, informando que as aplicações no Brasil ocorrem em segmentos têxteis, atuando como branqueador de fibras e na indústria do papel e celulose no branqueamento da celulose (os maiores reatores de Ozônio instalados no mundo em fábrica de celulose).
O Ozônio nesses casos vem substituindo os processos convencionais, porém são nos tratamentos de água para todos os fins, inclusive hospitalares e farmacêuticos que se tem observado um incremento significativo desta tecnologia. Segundo Olli, os benefícios da aplicação do Ozônio no tratamento de água são vários, pois no processo não há formação de dioxinas que se presentes não resistem à ação de sua ação oxidante.
Também tem como vantagem seu maior poder de desinfecção se comparado ao Dióxido de Cloro e ao Cloro, ficando para este último o papel importante de guarda da desinfecção, com aplicação de um residual.
O Ozônio pode ser obtido em reator específico pela ação de descargas elétricas numa atmosfera de oxigênio conforme ilustração abaixo, numa reação perfeitamente controlável. Na seqüência, todo Ozônio que não for consumido no processo é destruído sendo convertido em Oxigênio.
Esquema típico da célula de geração de Ozônio
fonte: OKTE/Wedwco
Tabela de poder de oxidação relativo
clique na imagem para amplia-la
Tabela de taxa de desinfecção relativa
clique na imagem para amplia-la
Esquema de Ozonização e Filtragem (projeto OKTE)
clique na imagem para aplia-la
Os testes na RECAP
Na RECAP os testes com Ozônio foram
feitos em duas fases; a primeira para
observar qualitativamente a ação no
processo de oxidação à partir de um
reator piloto de geração de Ozônio.
Na segunda fase, já com os resultados
preliminares (vide fotos), foi montada
uma estrutura para efetivamente medir
o desempenho do processo.
Na oportunidade foram escolhidas
amostras de interesse que após terem
sido tratadas
com Ozônio, levadas
para análise em laboratório externo de
acordo com a Portaria 1469 – do Ministério
da Saúde a qual utiliza um critério
mais restritivo destinada à avaliação
de água potável, muito embora
não fosse esse o objetivo.
Na seqüência, algumas fotos da aplicação
e ação do Ozônio realizada na
Petrobras -RECAP.
Comparação visual de amostra de água bruta antes e depois da ozonização |
Água industrial antes e após ozonização |
Detalhes de 3 fases de ozonização |
Os detalhes apresentados, vieram de encontro aos laudos
de análises confirmando a superior performance do processo
de ozonização.
Os estudos na RECAP passaram assim para um nível de avaliação
mais crítico, quando se estudará a viabilidade técnica
e econômica.
Em muitos seguimentos industriais encontramos aplicações
de Ozônio; na seqüência; citamos dois exemplos visuais de
aplicações em setores críticos no que diz respeito aos seus
efluentes.
A foto abaixo se refere a um estudo de aplicação em
efluentes de tinturaria onde é mostrado em seqüência o
decaimento da cor pela ação do Ozônio.
A foto ao lado se refere a ação do Ozônio em um efluente de matriz extremamente complexa roveniente de fabricação de papel. |
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Detalhe de comparação da amostra recebendo Ozônio |
Mas se a aplicação do Ozônio é um processo por assim dizer
excelente, por que não é difundido quanto merece no Brasil?
A tecnologia de utilização do Ozônio tem um custo de implantação
aparentemente alto quando confrontada com
os processos tradicionais, porém uma instalação nova ocupa
uma área 25% menor que a convencional, e em caso de
ampliação de instalações existentes, o Ozônio se torna extremamente
competitivo, pois permite a ampliação da capacidade
hidráulica das plantas, sem aumentar os
decantadores existentes, modificando apenas as vazões
bombas e dos filtros de areia. Poucas empresas no Brasil detêm
a tecnologia de aplicação correta de ozônio este é o
principal motivo do seu quase desconhecimento no Brasil.
Contudo se no mundo a opção por essa técnica cresce à
passos largos, se já temos aqui implantado e em pleno funcionamento
um dos maiores conjuntos de reatores de Ozônio
que se tem notícia, algo nos sugere que a opção por essa
tecnologia deve passar por quebra de paradigmas além
dos criteriosos estudos de viabilidade técnica e econômica.