A História Dos Filtros No Brasil

Conhecidos no início como os “patinhos feios” do mercado de filtros automotivos, os irmãos Gurgel enfrentaram sérias dificuldades e deram a volta por cima, com ousadia e irreverência.


A História Dos Filtros No Brasil

Fundada no início da década de 50 na cidade de São Paulo, a Tecfil teve sua trajetória marcada por altos e baixos comerciais, superados com uma bem estruturada sucessão familiar. Depois da administração de Bartolomeu Gurgel, filho do então idealizador e fundador da empresa, Abílio Gurgel, a Tecfil sofreu uma série de mudanças que, alguns anos mais tarde, culminaram na formação de uma nova política administrativa, já sob o comando dos irmãos Arthur e Abílio, netos do fundador da marca.
A atitude de reerguer a empresa, no entanto, só foi possível graças ao pulso firme de uma mulher, Maria Helena Gurgel, matriarca da família. Com a morte de Bartolomeu, a esposa e mãe de cinco filhos, chamou a atenção dos rapazes para os negócios, exigindo dos filhos comprometimento e força para retomar a empresa e transformar as dívidas adquiridas na década de 80, em lucro.
Apesar da família estar unida nesse momento, coube aos irmãos Arthur e Abílio - recém-formados pela Fundação Getúlio Vargas, ficarem à frente das ações que eram costuradas por todos da família e cuja gestão tinha o toque de Dona Maria Helena. Todos estiveram envolvidos nesta reconstrução.
O grande recomeço ocorreu em 1984. Naquele ano, o falecimento de Bartolomeu Gurgel agravou ainda mais a situação, uma vez que a empresa estava seriamente endividada e as chances de reverter o negócio pareciam impossíveis, principalmente
pela ausência do fundador. Mas Arthur e Abilio se uniram e encararam o desafio para fazer uma nova Tecfil. Acompanhe a seguir, a entrevista que Arthur Castro Gurgel nos concedeu em sua casa, para contar a história que levou os herdeiros e sucessores da Tecfil a recuperar a empresa, que é hoje líder no mercado de reposição de filtros automotivos.

A História Dos Filtros No Brasil


A Tecfil teve início em 1953, no dia 20 de março, em São Paulo. Começamos na rua Bresser, no Brás, como a maioria das empresas. Na época, meu avô era vendedor de motores da Cummins na Mesbla e percebeu uma grande oportunidade de negócio no segmento de filtros. Afinal, como a maioria dos produtos disponíveis no mercado era importada, os empreendedores brasileiros deveriam adotar uma postura imediatista para suprir as necessidades das indústrias automobilísticas que se instalavam no País.


Meu avô tinha dois sócios, mas a união durou pouco. Logo, ele assumiu o controle total da empresa, com o intuito de atender o mercado de reposição.


Tudo o que produziamos era vendido. Tínhamos uma administração voltada para atender as exigências de dentro da fábrica, com uma estamparia. Tratava-se de uma empresa voltada para a produção.


A administração da época se preocupava unicamente com as exigências de produção. O comercial era fraco. Meu pai trabalhava na empresa nesta época e tinha herdado 50% do patrimônio com a morte de minha avó. A princípio, meu avô foi o único dono por uns 15 anos, as desavenças de foco entre os dois fizeram com que comprasse a parte do meu avô, tornando-se o único proprietário. Nesta época, a empresa estava muito mal financeiramente. Como já dito, a gestão comercial deles era muito fraca, praticamente nula. Não sei ao certo como era feito o cálculo de preços, mas não estava funcionando.


Apesar de ter um perfil técnico, meu pai era um homem preparado, e quando ficou no comando da empresa, conseguiu reverter a situação. Houve uma reestruturação nos negócios e alguns anos mais tarde, a empresa estava muito bem e tinha uma situação financeira muito sólida. Tudo começou quando ele resolveu deixar de pagar aluguel e construir uma planta nova para a sede da Tecfil, em Itaquera, São Paulo. Mal podia imaginar que isso iria trazer o maior problema de sua vida.


Ele estava bem financeiramente e achou que na época, era o melhor a fazer. Eu até concordo que a compra de uma casa própria e a ampliação da estrutura seja um bom negócio para sair do aluguel, mas a situação é outra quando falamos de uma empresa, é diferente. Ao comprar e investir em construção, como foi o caso, ele descapitalizou a empresa. E não se tratava nem de um grande galpão, mas a construção pesou no balanço da Tecfil.


Com a morte de meu pai, minha mãe exigiu uma postura dos filhos em relação aos negócios da família. Éramos cinco irmãos, sendo três homens e duas mulheres. Não deu outra, a responsabilidade pela gestão da empresa recaiu em minhas mãos e de meu irmão, Abílio, em 1984, dada a nossa vivência em empresas. Para nós, foi o ano do recomeço.


A empresa tinha dívidas muito maiores que seu próprio faturamento anual. Tínhamos que agir de imediato, pois existia um prédio recém-construído em Itaquera (SP), uma porção de problemas e as cobranças não paravam de chegar. Não havia tempo para pensar em nada. Tentamos até vendê-la para a Donaldson, mas para nossa sorte e felicidade, o negócio não deu certo. Aos poucos, começamos a renegociar e saldar as dívidas contraídas em nome da Tecfil e fomos salvando a empresa, praticamente quebrada. A grande saída foi quando começamos a fazer investimentos pesadamente no departamento comercial, focando cada vez mais nas vendas de produtos Tecfil.



Espalhamos representantes pelo Brasil. Passamos a visitar clientes no País inteiro, nos aproximamos deles. O foco eram as vendas. Até porque, o perfil da empresa era mais técnico. No fundo, desde jovens, eu e o Abílio sabíamos que teríamos que cuidar dos negócios da família. Em dez anos, na época da inflação e daqueles preços loucos do mercado, que mudavam todos os dias, a empresa estava recuperada. Demos um grande salto, afinal, com a famosa URV – Unidade Real de Valor - refizemos a lista de preços, e conseguimos aumentos de 30% nos produtos. Obviamente, investimos muito na qualidade. Nunca fizemos filtros ruins, mesmo porque se fossem ruins nós não venderíamos, porque competíamos com empresas como Filtros Mann, Fram, Irlemp, Donaldson, Logan, Inpeca e outras.

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A partir do momento que investimos em vendas e no
marketing, a empresa começou a decolar e a melhora ficou visível até hoje. Não é a toa que nós somos o maior faturamento há alguns anos, só em filtros e acessórios no mercado de reposição. Nosso negócio é produzir e comercializar filtros. Como eu disse, focamos em uma vasta rede de representantes bem remunerados e comissionados.


De Itaquera, mudamos em 1984 para Cumbica, em Guarulhos (SP). Em 2000, optamos pela compra de um terreno de 60 mil metros quadrados para sediar a fábrica. Obviamente, só fizemos isso quando a situação permitiu e não afetou os negócios. Afinal, os encargos de financiamento da época se mostraram mais atrativos que o valor de um aluguel.

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Nunca esperei que chegássemos a este ponto. Algumas pessoas do segmento nos achavam os "patinhos feios" do mercado, não éramos bem vistos, tinha e ainda tem aquela coisa de experiência de mercado e com o próprio negócio. Acredito que você tem que ir à luta quando precisa e nós precisávamos. Nossa família nos preparou para isso e pudemos receber a melhor educação, isso fez a grande diferença, trabalhamos e revertemos todos os problemas em soluções. Entendo tudo isso, afinal é duro para uma multinacional encarar uma empresa familiar que passa a ser administrada por jovens de 30 anos. O fato é que hoje, nossa empresa é maior que muitas outras do segmento. Não temos o faturamento das concorrentes, mas superamos em número de fabricação de peças, atingindo 3,5 milhões e meio de filtros por mês.


Hoje atendemos 14 marcas privadas. Quando voltamos ao Sindipeças, em 1992, existiam 40 marcas de filtros no Brasil. Todas foram sendo vendidas, outras quebram, afinal ninguém era capitalizado ou tinha a qualidade necessária para vender filtros.
Alguns vendiam por um preço muito baixo e não resistiram à concorrência.


No começo sim, mas hoje compramos poucos filtros de terceiros. Procuramos fazer da Tecfil uma fábrica simples e prática. Aliás, para se ter uma fábrica de filtro hoje em dia, só é preciso uma estamparia, uma plissadeira, estufa, cola, embalagem adequada e boa administração empresarial. Isso é claro, atrelado a um bom marketing de vendas.


Não tiraria o valor do produto, mas agregaria. Nos últimos anos crescemos muito, temos quatro diretores e uma equipe de gerentes de fábrica. Atualmente eu e o Abílio cuidamos do conselho administrativo, das metas e estratégias de negócio.


É preciso ir à luta, encarar o dia-a-dia dos negócios sem ficar escondido atrás de uma mesa de escritório. A venda de filtros é estratégica, basta entender que todo carro precisa de um e dançar conforme a música, sempre estar atento aos movimentos do mercado neste sentido. De qualquer forma, ainda acredito que no futuro as multinacionais é que vão reinar neste segmento.


O que nós fizemos e continuamos fazendo é o que nossos pais nos ensinaram e sempre fizeram: trabalhar muito e estudar, buscando através do conhecimento e das técnicas, ferramentas básicas que possam ajudá-lo. É preciso conciliar todas essas ferramentas no foco do negócio, aplicar uma a uma e os resultados começam a aparecer. Tenham certeza de quando os resultados aparecerem - e eles aparecem - sua empresa vai arrumar uma porção de adjetivos, bons e ruins, ela e você ficam no foco das atenções. Mas não se preocupe com isso, é uma preocupação que você deve deixar para os outros. Enquanto eles se preocupam com a sua empresa e com você, a empresa vai crescendo e mantendo a liderança. Por que o seu papel dentro da gestão é fazer com que o time de negócios não perca o foco e persiga sempre o sucesso.


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