Além Da Transparência
Por Meio Filtrante
Edição Nº 33 - Julho/Agosto de 2008 - Ano 7
As piscinas são uma grande opção de lazer, mas nem sempre seus usuários conhecem qual o tipo de tratamento dado à água. Entre os disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se a ionização, a radiação ultravioleta e o ozônio
As piscinas são uma grande opção de lazer, mas
nem sempre seus usuários conhecem qual o tipo
de tratamento dado à água. Entre os disponíveis
no mercado brasileiro, destacam-se a ionização,
a radiação ultravioleta e o ozônio
por Eng. Ricardo Pacheco
O aumento da consciência
da população em relação à
saúde e ao bem-estar torna
as piscinas uma ótima opção,
já que os exercícios aquáticos desenvolvem a motricidade, sociabilidade e controle respiratório, além de ser uma ótima
fonte de entretenimento, lazer e atividades
fisioterápicas. Todos esses benefícios podem
vir acompanhados de preocupações ocasionadas
pela manutenção inadequada da água das piscinas,
o que torna necessário prover tratamentos mais eficientes de desinfecção. Diante desta crescente necessidade, o mercado oferece inúmeras opções e cabe ao
profissional responsável pela manutenção das piscinas fazer
a melhor escolha, priorizando a saúde dos usuários. Ao
escolher a piscina de uma determinada instituição (academia, clube ou colégio) para praticar atividades aquáticas, as pessoas nem sempre levam em conta o tipo de tratamento dado à água. Isso porque entendem como fator de purificação somente a
sua transparência.
A contaminação invisível é
muito mais comum do que se imagina. Milhares de bactérias, vírus, fungos, protozoários e microorganismos em
geral podem estar presentes
em águas transparentes. Além
disso, as próprias pessoas, ao
entrar na água, adicionam
inúmeros contaminantes, que
podem afetar a saúde das outras (Tabela I).
Dos tratamentos complementares à cloração, disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se a ionização, a radiação ultra-violeta (UV) e o ozônio (O3).
Ionização
O processo de ionização envolve a liberação de íons de
cobre e prata (metais pesados) na água a ser tratada.
Os íons de cobre são responsáveis por quebrar as paredes celulares das algas, impedindo que elas se formem novamente. Os íons de prata, por sua vez,
fazem a desinfecção da água. Neste tratamento não existe a oxidação de material orgânico contido na água (suor, urina, excreções etc). Como a ionização tem a grande desvantagem de ser um processo baseado em
metais pesados (nocivos à
saúde), ela é a menos recomendada.
Radiação Ultravioleta
A luz ultravioleta com comprimento de onda em torno
de 250nm (nanômetros), inativa microorganismos quando expostos à mesma. Para que a luz alcance todo o corpo da água, é necessário que esta não apresente turbidez. Se por acaso houver turbidez na água, o tratamento fica prejudicado, pois a luz não consegue atingir toda a extensão necessária. Desta forma, é necessário garantir a constante limpeza do vidro de isolamento da lâmpada, bem como ter sempre uma água límpida a ser tratada.
Um outro ponto importante a ser lembrado é que, em agrupamento de microorganismos,
a luz incidirá somente sobre os da frente, não atingindo
os que fiquem “protegidos” na
parte de trás.
Este é um processo de tratamento microbiológico, não atuando na oxidação de material orgânico presente na água. É importante notar que existem processos oxidativos utilizando-se UV, inclusive em conjunto com ozonização, porém os produtos oferecidos atualmente para tratamento de piscinas no Brasil não contemplam estes processos.
Os sistemas de ultravioleta comercializados no Brasil funcionam como auxiliares, pois continua existindo a necessidade de aplicá-los em conjunto com o cloro, responsável por garantir a oxidação e desinfecção da água da piscina. Ou
seja: continua sendo imprescindível a manutenção do cloro residual livre (de acordo com
as normas da Vigilância Sanitária) para garantir a segurança dos banhistas.
Ozônio
O ozônio (O3), conhecido como “oxigênio ativo”, é um gás
natural e protege os seres vivos, como um filtro, dos raios
solares malignos. Ele é um poderoso bactericida, algicida, fungicida e viricida (destrói esses microorganismos 3.120 vezes mais rápido que o cloro), além de ser reconhecido como o mais seguro e eficaz método
de tratamento de água do mundo, com aplicações em indústrias, piscinas, águas municipais, medicina e odontologia.
Aplicado na desinfecção da água, o ozônio faz o papel de agente microbiológico e oxidante ao eliminar as cloraminas (reação do cloro com todas as impurezas presentes naágua). Elas são as grandes vilãs
das piscinas, pois agravam problemas alérgicos e respiratórios, causam ardência nos olhos, ressecamento na pele e nos cabelos, descamação do esmalte das unhas, além de deixar cheiro desagradável na água e no corpo. Além de não causar os desconfortos ocasionados pelas cloraminas, o ozônio reduz os casos de otite (inflamação dos ouvidos).
Nota-se que a maior vantagem da ozonização, em relação aos outros tratamentos, se deve ao fato dela atender às duas principais necessidades de purificação da água:
1) oxidação da matéria orgânica (que
não é possível na radiação
ultravioleta e ionização); e
2) desinfecção da água (parcial nos outros sistemas).
Em piscinas com ozônio, também é necessária a manutenção do cloro residual livre (de
acordo com as normas da
Vigilância Sanitária), porém a piscina ficará sem cloraminas, conforme exposto acima.
As principais diferenças entre os tratamentos de ozonização, ultravioleta e ionização, estão listadas na tabela II acima.
Para os resultados desta tabela, foram analisados os equipamentos tipicamente comercializados no mercado brasileiro para tratamento em piscinas. Estes não conseguem inativar muitos parasitas, oocistos e protozoários nocivos à saúde (por exemplo: Giardia e Cryptosporidium) e não fazem processos oxidativos.
Alguns fabricantes de equipamentos no mercado brasileiro, tanto de equipamentos de ozônio como de ultravioleta, pregam a alta redução ou até mesmo a eliminação do cloro. Quando isto é feito, tem-se a impressão de ter reduzido as cloraminas mas, na verdade, a diminuição do cheiro de cloro acontece simplesmente por estar se usando menos cloro, abaixo do residual livre mínimo estabelecido pela lei, tornando a água vulnerável a contaminações. Esta informação é perigosa e irresponsável, visto que coloca em risco a saúde dos banhistas.
Esses três tipos de tratamento são dependentes da quantidade de água que passa pelo sistema de bombeamento e filtração, ou seja, todos tratam a água fora da piscina, na casa de bombas. Desta forma, como os mesmos não têm efeito residual na água, é necessário manter-se o residual de cloro, bromo ou outro oxidante. Em outras palavras, quando a água volta para a piscina, é preciso continuar existindo um
desinfetante para que a água
fique protegida
das contaminações adicionadas através dos
banhistas, até que ela volte a
passar pelo tratamento na casa de bombas.
Conclui-se, portanto, que os
fatores primordiais a serem
considerados
no tratamento
das piscinas estão relacionados à escolha do sistema
mais eficaz, além de sua
correta utilização, que garantirá segurança ao processo de
desinfecção da água e, conseqüentemente, ajudará a garantir a saúde de quem estiver na piscina.
Ricardo Pacheco é engenheiro, mestrando pela Unicamp, e
diretor de engenharia da Panozon Ambiental S/A, empresa nacional especializada em sistemas de tratamento de águas e efluentes com tecnologia à base de ozônio. |