Papel Principal Contra Emissão De Poluentes
Por Meio Filtrante
Edição Nº 28 - Setembro/Outubro de 2007 - Ano 6
Na luta para diminuir a emissão de poluentes no ar, diversos projetos trabalham com um dos vilões: os veículos. Filtro utilizado em ônibus é exemplo de uma boa idéia
Na luta para diminuir a emissão de poluentes no ar, diversos projetos trabalham com um dos vilões: os veículos. Filtro utilizado em ônibus é exemplo de uma boa idéia
por Tiago Dias
O uso dos combustíveis fósseis e não-renováveis vem crescendo já há muitos anos. Durante esse tempo, pesquisas foram realizadas para
medir o tamanho do impacto de sua utilização
no meio ambiente. Porém, muitas vezes, os
resultados se restringiam apenas aos pesquisadores. Aos poucos o assunto começa a ser difundido de maneira mais abrangente, aquecimento global e biodiesel já servem como pauta nas salas de reunião de empresas e órgãos governamentais, rendendo bons resultados práticos.
Segundo a resolução 315/2002 do CONAMA,
estão previstos para 2009 novos combustíveis de padrões com níveis eficientes, o que facilitará a utilização de outros tipos de filtros em programas de controle da poluição do ar, já que o combustível com baixo teor de enxofre, por exemplo, é essencial para a diminuição da emissão de poluentes.
O lançamento comercial do diesel com 500 ppm de enxofre em 2005 pela Petrobras, por exemplo, já possibilitou a criação do Programa de Retrofit para veículos em uso.
Retrofit são ações ou equipamentos aplicados em veículos, com tecnologia para controle de emissão.
O projeto estipula a média de poluentes que determinada frota de ônibus pode emitir. “O diferencial nesse projeto é que a empresa que cuida da frota escolhe seus próprios métodos para que ocorra a redução desejada, respeitando seu próprio capital. Não é uma imposição tecnológica”, comenta Gabriel Murgel Branco, diretor da EnvironMentality - Tecnologias com Conceito Ambiental.
As empresas de transporte coletivo podem escolher diversos meios e equipamentos para utilizar nos ônibus, ou seja, pode-se optar pela instalação de catalizadores ou filtros, ou até mesmo troca de ônibus por modelos híbridos ou a gás. O que interessa no final, é que a frota de ônibus consiga estar dentro dos limites de emissão.
O limite estipulado obedece à pesquisa realizada por Gabriel Murgel Branco junto com a SP Trans, que cuida do transporte público no município de São Paulo. Branco, idealizador do Proconve, principal programa federal de controle da poluição para veículos, pesquisou sobre a emissão de poluentes em diversos corredores de ônibus da cidade. “Dessa pesquisa, comprovamos que os corredores possuem um nível altíssimo de poluição, duas vezes maior que a dos quarteirões nas proximidades, pois o tráfego de ônibus é maior”. Por esse motivo, os ônibus acabam sendo o objeto de maior interesse em projetos desse tipo. Justamente nesses corredores de ônibus a concentração de pessoas é maior e, consequentemente, a exposição delas à poluição é proporcional.
Um projeto coordenado pelo Departamento de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP pesquisou o impacto da poluição na saúde da população. Os resultados mostram que o nível de poluição atmosférica pode aumentar até 12% o risco de morte por doenças respiratórias. A exposição de uma pessoa saudável por meses a níveis relativamente baixos de poluição, por exemplo,
pode provocar doenças respiratórias, agravar o quadro de quem já tem esse tipo de problema e também levar à morte. São cerca de 3 milhões de toneladas de poluentes, sendo 90% deles emitidos pelos gases dos veículos automotores.
Com consultoria da EnvironMentality e parceria entre a EMTU - Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, o IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas e a Cetesb - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, o Projeto-Piloto para sistemas Retrofit foi iniciado e, em sua primeira fase, visa equipar ônibus urbanos da Região Metropolitana de São Paulo, adotando-se os critérios técnicos propostos pela AFEEVAS - Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul, para a verificação da eficácia de redução das emissões pelos sistemas.
Com um aparelho de medição, que ainda não existe no Brasil, o projeto desenvolveu uma série de procedimentos para atestar a qualidade dos equipamentos, entre eles, filtros e catalizadores.
Filtros como solução
Por semana, cada ônibus produz, em média, um quilo e meio de poluentes. Diante desse número, o Engenheiro Mecânico Sérgio Sangiovani e o Físico Paulo Roberto procuraram a Secretária de Meio Ambiente de Diadema para que fosse testado um filtro, criado por ambos.
Basicamente o processo é bem simples, serra-se o cano do ônibus e nele se encaixa o equipamento. Segundo os inventores, o equipamento surgiu após muita pesquisa, observação e tentativas. “É um sistema original que baseia a filtração pelas ondas de choque do fluxo de gás”, comenta Paulo Roberto. “Seu elemento filtrante é composto de alumínio e aço inox, podendo ser reutilizado”.
Segundo o físico, em testes o filtro teve 70% de eficiência na retenção de partículas com diâmetro de 2,5 micra. “Já conseguimos evitar até 60% da emissão de material particulado. Em grandes centros urbanos, utilizando o filtro em grande escala em motores a diesel, poderemos reduzir até 40% da poluição de material particulado”, comenta Paulo Roberto.
O filtro chamou a atenção de José Jacinto de Oliveira, Diretor Presidente da ETCD – Empresa de Transporte Coletivo de Diadema, que resolveu fazer o teste em alguns ônibus de sua frota. Hoje, após dois anos, os filtros estão instalados em cerca de 50 ônibus da ETCD. Segundo José Jacinto, o filtro retém até 70% do material particulado emitido pelos escapamentos dos ônibus, entre os poluentes da queima do óleo diesel. “Os resultados são extremamente satisfatórios, tanto para o meio ambiente como para a saúde da população”, comemora. Altamente nocivos, os gases que saem dos tubos de escapamento desses ônibus, quando concentrados, parecem borra de café. “Mesmo você não vendo a fumaça preta, existem estas partículas dentro dos gases que devem ser retidos. Isso vai para dentro dos pulmões, para o meio ambiente”, comenta Paulo Roberto.
Poluente retido vira material para reformar pneus |
Programas e projetos eficientes
Diante do quadro agravante que pesquisas como a de Branco vêm mostrando, a CNT - Confederação Nacional do Transporte - lançou o Despoluir, Programa Ambiental do Transporte. “Temos como objetivo promover o engajamento dos empresários do setor, dos transportadores, dos caminhoneiros autônomos, dos taxistas e da sociedade na conservação do meio ambiente, para que atuem na construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, comenta Gustavo Filice de Barros, da Coordenação de Projetos Especiais da Confederação.
Com o projeto, a CNT espera que o setor de transporte brasileiro assuma sua parcela de responsabilidade na construção de um mundo ambientalmente mais equilibrado, promovendo uma série de ações para atingir tal objetivo.
Segundo a CNT, o setor hoje conta com 146 mil empresas de transporte e 733 mil transportadores autônomos, totalizando 2,5 milhões de trabalhadores no segmento, que geram cerca de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a conscientização de todo esse número já é um grande passo adiante para uma atuação em caráter global.
O DESPOLUIR é estruturado em dois Grupos de Projetos: o Grupo A - Projeto Transporte -
está voltado para melhorar o desempenho ambiental do setor, com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes pelos veículos. Já o Grupo B - Projeto Cidadania para o Meio Ambiente - busca transformar os agentes do setor em multiplicadores da educação ambiental
para toda a sociedade, especialmente para os usuários de transporte. Será promovido ainda o uso do selo Despoluir, que identificará os veículos que estão em conformidade com as normas ambientais.
Sobre a possível utilização de
filtros em alguma fase do projeto, Barros comenta que há a
preocupação constante do programa junto a novas tecnologias e meios para ajudar no objetivo de reduzir o nível de poluição emitido. “A boa manutenção do
veículo sempre ajuda na diminuição de emissão de poluentes.
Existe a reciclagem de ar do sistema de ar condicionado dos veículos. Também o catalisador tem um importante papel na diminuição de emissão de gases. Ações que vão ao encontro dessa iniciativa são apoiadas”, comenta.
Para Paulo Roberto, a população deve cobrar que o transporte público polua menos. “As emissões irão retroceder quando nós começarmos a utilizar combustíveis mais limpos, quando as montadoras receberem subsídios para lançamento de novos veículos com baixas emissões”, declara. Barros
acredita que o sucesso desses projetos, programas e parcerias conscientizará cada vez mais as pessoas. “Na medida em que esses projetos apresentem resultados de viabilidade econômica,
ambiental e social positivos, achamos que a indústria automobilística deve verificar a possibilidade de adotar novas tecnologias que venham auxiliar a atender os padrões exigidos
nas normas”.
Projetos como estes podem parecer uma solução parcial, mas, antes de tudo, são peças importantes e eficientes para a redução da emissão de poluentes no ar, graças aos equipamentos (como os filtros), pessoas e parcerias que vêem uma solução para este problema.