por Tiago Dias

As previsões de mudanças climáticas trouxeram preocupação para muitas pessoas. Inundações, derretimento de geleiras e furacões são algumas delas. Quando focamos o assunto somente em Água, essa preocupação aumenta: Fortes secas e dificuldades no abastecimento. Mesmo sendo um dos países mais ricos em volume de água no mundo, o Brasil sofre com problemas relacionados à esse bem tão necessário.
Uma parte da população, por exemplo, não tem acesso ao saneamento básico, requisito mínimo para se manter uma qualidade de vida.
Dia 22 de março de cada ano é a data definda pela Assembléia Geral das Nações Unidas para ser o Dia Mundial da Água, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Se a população ainda não é totalmente consciente quanto à essa preservação necessária durante o ano, pelo menos neste dia é reservado para reflexão desses problemas e de como podemos reverter, ou pelo menos frear, essa situação.
Poupar recursos, reciclar a água, economizar na torneira são algumas ações pequenas, mas que fazem toda a diferença. Para informar e educar pessoas, diversos projetos são formados, pois, se a educação ambiental avançar como é preciso, a sociedade aprenderá a discutir esses temas, principalmente se essa discussão contar com a presença de estudantes.
Organizações e escolas de diversas cidades no Brasil se mobilizam para mostrar aos jovens que é preciso fazer alguma coisa. E que eles são peças fundamentais para a preservação da água no planeta. Dentro deste contexto, a educação ambiental tem um importante papel de informação, orientação e sensibilização para os assuntos relativos à água. Este fato reforça cada vez mais a relevância do desenvolvimento de trabalhos educativos. Economizar requer simples mudanças de hábito como, por exemplo, evitar jogar lixo nos rios, o cuidado na lavagem de calçadas e fechar a torneira enquanto escova os dentes. "Outro uso que demanda muita água é o banho. De todo o volume consumido por uma família brasileira, em média 55% sai do chuveiro. Pequenas atitudes como estas resultam em impactos positivos para os recursos hídricos", comenta Antônio Félix Domingues, Coordenador-Geral das Assessorias da ANA - Agência Nacional da Água.
Um exemplo de trabalho de conscientização nas escolas é o projeto Caminho das Águas, implementado no município de Santo André/SP em 1998, quando o SEMASA Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André criou o Departamento de Gestão Ambiental e sua Gerência de Educação e Mobilização Ambiental. Preferencialmente, o público atingido é o escolar, por considerarmos seu forte potencial e multiplicação. "Alunos, professores e funcionários das unidades escolares, são estimulados à discussão e reflexão a respeito dos recursos hídricos, baseados na realidade local, para que desenvolvam atitudes adequadas à manutenção e conservação dos mananciais e contra o desperdício", comenta Ivan Corrêa, encarregado da área de educação ambiental do Departamento.
A metodologia do projeto consiste na realização de trabalhos dentro da sala de aula, mas focando também nos estudos de campos e em parques, onde os participantes têm a oportunidade de visualizar nascentes e discutirem sobre o ciclo da água e sua importância. "Os alunos também visitam a ETA (Estação de Tratamento de Águas) para conhecer as diversas etapas do tratamento, e participam de uma atividade de coleta de amostras de água e de algum córrego mais próximo às escolas, para realização de testes dos níveis de oxigênio e contaminação presentes nas mesmas". Ao final do projeto, alunos e professores organizam uma grande exposição dos trabalhos desenvolvidos ao longo do período.
Conhecer o caminho das águas, desde a nascente até o seu retorno ao rio, serve para os alunos como um instrumento de reflexão e apoio ao desenvolvimento de um trabalho educativo mais amplo, realizado de forma conjunta entre o poder público, escola e comunidade.
O papel de uma escola é educar seus alunos e, para isso, é necessário ultrapassar as fronteiras dos conteúdos acadêmicos. "Hoje, se não tivermos uma postura e uma consciência ambiental, reparando os danos causados ao meio ambiente e evitando novos desastres ecológicos, a continuidade e a qualidade de vida estarão comprometidas", comenta Daniel Contro, Direção Geral do colégio Pueri Domus – Unidade Jardim, também em Santo André. A unidade capta água pluvial (reservatório de 45 mil litros) para utilização em jardinagem e lavagem de pátio e abordagens educativas sobre o uso racional da água incluídas no projeto pedagógico.

Relatórios
A necessidade de zelar pela água vai além da básica sobrevivência humana, como explica Domingues, da ANA. "A preservação é fundamental para o desenvolvimento econômico dos países. E com o Brasil isso não é diferente". Considerando o Relatório das Nações Unidas, em setembro de 2002, cerca de 20 países e 40% da população mundial enfrentam escassez de água, e que 2 milhões de pessoas morrem a cada ano por ingerirem água contaminada."Para 2025, segundo a ONU, teremos uma séria crise de abastecimento de água, atingindo 2,8 bilhões de pessoas; conflitos violentos já atingem 70 regiões do planeta. Sensibilizamos os munícipes para que cada um observe suas atitudes em relação ao consumo racional da água, utilizando-a para suas necessidades, mas sem desperdiçá-la", comenta Corrêa. Segundo a ANA, 62,7% da utilização de água no Brasil estão voltadas à irrigação. No mundo, a agricultura consome cerca de 7,2 quatrilhões de litros por ano, que corresponderiam à descarga do Rio Amazonas por quase dois anos, ou seja, quase 75% do uso total de água no mundo.

Plano de recursos
A falta de saneamento básico, juntamente com o uso inadequado da água na agricultura, aparece como um dos principais fatores da degradação dos recursos hídricos brasileiros. No início de 2006, o Ministério do Meio Ambiente apresentou seu Plano de Águas. "O Brasil teve um grande avanço na área de recursos hídricos a partir da PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos. Por meio deste instrumento legal, as instituições governamentais, os setores usuários de água e as comunidades vêm amadurecendo na estrutura da gestão desses recursos", comenta Domingues.

Elaborado ao longo dos três últimos anos, o documento se baseia na divisão hidrográfica brasileira para a elaboração de diagnósticos e definição de metas, programas de investimento e de educação ambiental. O PNRH também aponta a necessidade do uso sustentável da água em diversos setores, tais como indústria, agricultura, setor elétrico, saneamento e pelo próprio cidadão. Em todo o Brasil, comitês de bacia e consórcios intermunicipais de bacias hidrográficas têm surgido. Somente nos rios de domínio da União, já existem oito comitês de bacia criados. Nos rios estaduais foram instituídos mais de 110 comitês. "Estas entidades possibilitam uma gestão eficaz da água. Em bacias mais afetadas em termos ambientais, por exemplo, a cobrança pelo uso da água pode ser aplicada. Enfim, a água tem sido cada vez mais bem cuidada", explica Domingues.
Desses pontos chaves, especialistas já estão encontrando alternativas de se reduzir o uso excessivo da água para determinadas atividades, como a taxa pela captação de água é uma delas, um outro exemplo é o reúso e o tratamento de água que já são uma realidade em diversos nichos, como por exemplo, em condomínios e indústrias.

Participação
A participação da comunidade é fundamental para qualquer política de gestão das águas, como diz a jornalista Cecy Oliveira. "E ela só irá participar ativamente na medida em que estiver informada sobre as reais condições dos mananciais, as causas e conseqüências da degradação e as medidas, equipamentos e tecnologias disponíveis", comenta.
Cecy é a jornalista responsável pela Revista Água Online, que desde 2000 tem o objetivo de ser um canal de articulação, organização e disseminação de informações e análises sobre temas relativos ao saneamento ambiental. A Revista pode ser acessada através do site www.aguaonline.com.br e é abrigada pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Ações em Saneamento Ambiental (Ibeasa). Sem a consciência da sociedade sobre a importância da preservação dos recursos hídricos, fica impossível garantir água de boa qualidade para esta geração e as futuras. Mas ter consciência do problema não é o bastante; é necessário a participação de todos no trabalho de preservação deste bem tão essencial. "Não basta apenas chamar a atenção da população através de manchetes alarmistas. O Dia Mundial da Água tem que ser todo o dia. Tem que levar a população a olhar os mananciais que estão próximos, a participar do trabalho dos comitês de bacias, a exigir de seu parlamentar medidas que garantam os recursos necessários ao saneamento ambiental, a uma gestão participativa dos recursos hídricos e a valorização da água como insumo necessário à manutenção de todas as formas de vida", comenta Cecy.
A educação é o caminho mais seguro para este desenvolvimento. Tanto para os jovens estudantes quanto às pessoas que já não freqüentam mais as escolas: no dia 22 de março é necessário fazer uma análise, conscientizar e agir.