A Hora E A Vez Dos Latinos
Por Meio Filtrante
Edição Nº 31 - Março/Abril de 2008 - Ano 6
Fabricantes do segmento residencial, industrial e automotivo comentam sobre como são os negócios nos países vizinhos e o contínuo crescimento que vem beneficiando toda a América Latina
Fabricantes do segmento residencial, industrial e automotivo comentam sobre como são os negócios nos países vizinhos e o contínuo crescimento que vem beneficiando toda a América Latina
por Tiago Dias
No começo de 2007, o Global Auto Report (Relatório Global sobre Automóveis), deu um panorama
do que todos os fabricantes relacionados a autopeças sentiam naquele começo do ano: considerável crescimento na China, Índia e América Latina. Os bons ventos sopraram realmente para os latinos e acabou fazendo velejar inclusive o segmento de filtros e seus sistemas.
Quanto à estimativa para 2007, David Oksman, Gerente de Exportação da Sogefi Filtration, fabricante de filtros automotivos, entre eles da marca Fram, dá as boas notícias: “É verdade, realmente aconteceu isso. E no segmento de
filtro o crescimento vai se consolidar cada vez mais”.
O crescimento no mercado de filtros foi um pouco diferente em relação a outros segmentos. “Houve desenvolvimento fora destes mercados. Nós mesmos abrimos novos clientes em outras regiões”, conta José Ricardo Almeida, Account Manager da
SOFAPE - Sociedade Fabricante de Peças, fabricante do filtro Tecfil, entre outros.
Almeida ainda explica que os investimentos da SOFAPE são direcionados à automatização das linhas de produção. “Assim, diminuímos os custos e nos mantemos competitivos no mercado internacional”, esclarece.
Sérgio Monteiro, Gerente Geral da Divisão Filtração da Parker, acrescenta que mesmo
com a moeda valorizada, sua Divisão segue exportando e incluiu à lista países em desenvolvimento, como Turquia e África do Sul. Quanto às exportações da empresa, Monteiro explica. “É realizada através das subsidiárias da Parker localizadas em outros países, para venda a clientes montadores e através de
tradings que atuam no aftermarket”, explica.
Envolvendo-se com o mercado internacional
Independente das táticas das empresas para
adentrar o mercado internacional, seja vendas
diretas ou através de tradings, o sucesso bateu na porta do segmento de filtros e
seus sistemas no Brasil. Em parte, principalmente, pelo mercado brasileiro ser o mais organizado da América do Sul, possuir
uma indústria pujante no setor e por conta
da leva de investimentos, conforme explica Patrício: “A valorização cambial não é uma exclusividade do Brasil, e países como Chile e Colômbia estão mais suscetíveis à presença de filtros importados, cujo impacto é muito menor no Brasil. Podemos dizer, na verdade, que o mercado brasileiro é o mais organizado inclusive na América Latina”.
Já Monteiro, da Parker, vê o caminho e os bons resultados dos países emergentes, incluindo aí o Brasil, como transitórios. “Ainda há muito que crescer em termos de cultura de filtração”. Segundo ele, a grande maioria dos brasileiros ainda não têm a conscientização da importância de utilizar filtros, seja dentro da residência ou no veículo da família – este problema ocorre por vezes em empresas que não efetuam a troca dos elementos filtrantes nos períodos recomendados.
“A maioria utiliza filtros apenas se for mandatório. Como os filtros não produzem resultados, nem transformações, não se enxerga o valor da filtração”, explica.
O nível de exportação e importação inclusive segue crescente nestes países, resultado de uma maior estabilidade política e econômica. “Boas referências fora do Brasil, são o Chile e a Colômbia. O Chile, por exemplo, segue como o mercado automotivo mais concorrido do mundo”, comenta Patrício.
Já o mercado de filtros residenciais está em expansão em todo o mundo. A informação é de Antônio Carlos Camargo, Diretor Industrial da
Brasfilter/Purificadores Europa, que inclusive comentou sobre a característica do uso dos filtros na América Latina: “Países como o México, com mais proximidade com os Estados Unidos, têm por particularidade não utilizar o filtro em cima da
pia, mas sim, diretamente na tubulação de água, dentro do gabinete da pia, fora da visão do usuário”.
De um modo geral, a exportação hoje em dia segue como um mercado ainda importante e em crescimento. Para o segmento de filtros e seus sistemas, seja no setor automotivo, industrial ou
residencial, as dificuldades enfrentadas na exportação quanto à rentabilidade face ao rate atual são, no entanto, as mesmas de quaisquer empresas.
De um modo geral, o mercado é amplo, em termo de concorrência – tanto local quanto internacional. Outro fator também ajuda a entender a logística da produção de filtros e seus sistemas. É quase unânime, entre as principais empresas fabricantes, de que o filtro é produto de baixa tecnologia, o que não significa ausência de qualidade, mas sim, commodity de baixa técnica. “Isso possibilita a criação de muitas fábricas em diversas partes do mundo”, diz Almeida, da SOFAPE.
A proliferação de empresas, por conta dessa
facilidade tecnológica, abre espaço para produtos não confiáveis e de originalidade e qualidade duvidosas. Disseminam-se assim cópias e filtros
ineficientes. Porém, segundo Almeida, felizmente
esses produtos ficam restritos à uma fatia do
mercado mínima. “O grande share de marcado
ainda é detido pelas multinacionais do setor”, esclarece.
Semelhanças
Na questão do filtro automotivo, o mercado brasileiro segue, via de regra, uma tecnologia vinda
da Europa, no que se refere aos filtros para veículos
de passeio. Para veículos pesados há também a
importante participação de empresas de origem
norte-americana, mesmo que a quase totalidade
das montadoras neste segmento seja de origem européia.
“Numa economia globalizada nem falaria em semelhanças, os produtos praticamente são idênticos”, explica Helmut Zschieschang. Diretor
Geral da Hydac no Brasil, ele comenta que a empresa não exporta mais. “Os componentes é
que são exportados e montados nos equipamentos que o cliente exporta”, conta.
Mas há alguns pontos que acabam fazendo a diferença, como explica Oksman, da Sogefi
Filtration: “Nós não temos tanta cobertura como em outros países, onde as companhias são mais abrangentes. Como não temos mercado interno,
não temos como desenvolver isso do mesmo modo que lá fora”.
No segmento residencial, os produtos brasileiros
têm tido um ganho considerável em função das certificações de qualidade, assim como em
outros países, e o trabalho desenvolvido pela
Abrafipa – Associação Brasileira das Empresas
de Filtros, Purificadores, Bebedouros e Equipamentos para Tratamento de Água.
“Sem dúvida alguma, os problemas relacionados à contaminação da água fazem com que as pessoas se protejam com a aquisição de equipamentos
para tratamento de água de uso doméstico.
A própria mídia divulga notícias relacionadas ao consumo
de água de má qualidade, que
têm servido de alerta para a população da região”, diz Moacyr Domingues, presidente da associação.
Importações/Exportações
De toda maneira, são muitas
as particularidades desse mercado, seja na própria América Latina, quanto em qualquer outro
canto do mundo. Com tantos detalhes específicos, fica difícil generalizar sobre o nível de importação e exportação fora do
Brasil. “Seria superficial e inexato generalizar a América Latina
ou outros países, mas normalmente ocorre da seguinte forma: os países que detém maior qualidade, escala de produção, aliado a baixo custo e boa imagem da marca, mantêm os maiores níveis de exportação”, explica Almeida, da Sofape.
Países com pequenas produções normalmente vendem regionalmente para os vizinhos, mas principalmente fazem concorrência com os filtros provindos destes
locais com alta produção e competitividade. “Estes países com baixos níveis de produção, acabam importando bastante para suprirem a demanda interna. No caso do Brasil, temos muitas fábricas com capacidade produtiva elevada e não necessitamos importar tanto quanto os demais países da América Latina”, conclui.
Helmut também comenta que
há troca de peças entre as
montadoras em diversos pontos
do mundo. “Acaba sendo difícil
avaliar como é a importação e
exportação dos países latinos, já
que as montadoras fazem essas trocas. Um possível motivo são as vantagens fiscais”, explica.
Cultura e conscientização
As pessoas na América Latina, de uma maneira geral, possuem consciência da importância em se utilizar filtros. “Principalmente no Brasil, e é crescente esta consciência. Mas é um trabalho de orientação a longo prazo, principalmente levando-se em conta o poder aquisitivo da região”, comenta Patrício, da Ahlstrom.
A conscientização sobre a importância do consumo de água
de qualidade, por exemplo, é crescente no mundo inteiro.
“A industrialização das cidades, o aumento populacional e a dificuldade na manutenção periódica das tubulações e reservatórios são alguns fatores que
contribuem para a contaminação das águas, por isso é natural
que as pessoas se previnam adquirindo purificadores de água”,
esclarece Antônio Carlos Camargo, da Brasfilter/Purificadores Europa, que dispõe de um
departamento específico e trabalha com exportação direta
aos distribuidores internacionais autorizados.
A cultura da comercialização
de filtros automotivos é similar aos dos brasileiros, onde a abordagem dos fornecedores acaba sendo fundamental nessa campanha de conscientização.
Mas para Almeida, ainda há outros tipos de filtros que não são conhecidos pela grande maioria, o que abre ainda um espaço para crescer em determinados nichos de mercado. “Como exemplo, temos os filtros de cabine/ar condicionado, pois a maioria das pessoas desconhece a importância ou muitas vezes até a existência deste tipo de filtro”, diz. Oksman reafirma: “É um nicho bom, mas ainda não é totalmente trabalhado. É necessário fazer a lição de casa, o pessoal aqui no Brasil não tem total consciência da importância do uso de filtro em diversos segmentos, imagina implantar isso lá fora”.
Concorrência A América Latina compete no mercado automotivo com os europeus e, recentemente, com os asiáticos, que começaram a se fazer presentes na disputa que inclui até os países da própria América Latina. Já no segmento industrial, o maior concorrente é os Estados Unidos, pela tecnologia desenvolvida pelos norte-americanos. China e Coréia são grandes potências competitivas no segmento em geral. A China, por exemplo, veio mostrando pouco a pouco suas garras, ou seja, custo baixo. David Oksman, Gerente de Exportação da Sogefi Filtration, comenta que na Coréia a qualidade vem sendo percebida nos produtos e serviços. “Basta reparar que o preço já não está tão em conta como antes e, infelizmente, o que move esse mercado é o preço”. No segmento residencial, a América Latina compete com o Estados Unidos, China, Índia, Japão, Israel, para citar alguns. “Competimos em grande parte com os Estados Unidos, onde não há o costume de utilizar caixa d’água e por característica empregam abrandadores para diminuir a dureza da água. De maneira geral, tanto a Europa quanto a Ásia também se destacam e vêm crescendo no mercado latino. Por exemplo, nas feiras internacionais das quais participamos, como a WQA Aquatech e outras, presenciamos aparelhos com sistema UV produzidos na Índia”, comenta Antônio Carlos Camargo, Diretor Industrial da Brasfilter/Purificadores Europa. A própria China está trabalhando com diversos produtos para tratamento de água, cada vez mais visando o mercado latino-americano. “Infelizmente, para nós brasileiros, nossas exportações foram prejudicadas em 2007 em função da desvalorização do dólar, que afetou diversos setores no País”, conta Camargo. |
Tipos de filtros
Para o setor automotivo, há fábricas em todos os países do continente, em maior ou menor escala.
Não é a toa que é o segmento de filtros mais bem
difundido na América Latina. Já entre os fabricantes
de filtros industriais, o Brasil segue como referência dentro da América do Sul. Fora esses nichos, os filtros hidráulicos, de ar e de gases aparecem em grande escala. Helmut, da Hydac, enumera os filtros fabricados ao redor da
América Latina. “Por ordem de grandeza: filtros para água potável (residências), filtros para as montadoras (carros, máquinas agrícolas e máquinas para construção); filtros para processo e filtros
para aplicação industrial (unidades hidráulicas,
sistemas de filtragem)”. Segundo a ABRAFIPA, no
segmento residencial o mercado de purificadores mais avançados vem ganhando espaço e muitas indústrias brasileiras exportam para esses países, mesmo que a indústria de filtros cerâmicos ainda seja significativa na América Latina.
Tecnologia na América Latina
Quando a questão é a tecnologia empregada no mercado latino, mais uma vez o Brasil segue como referência, dessa vez acompanhado do México,
como explica Patrício, da Alhstrom.
“Isso acontece principalmente por concentrarem
os mais importantes fabricantes de filtros, assim como os maiores mercados automotivos. Na parte industrial, creio que estamos um pouco à frente, uma vez que o México é abastecido via Estados Unidos com esta linha de produtos, e porque
temos boas referências de fabricantes no Brasil, alguns com excelente qualidade”.
Cópias de filtros originais também são casos correntes em toda região. “Na América Latina
encontram-se diversas empresas de marcas multinacionais, marcas famosas, o que facilita a implantação e desenvolvimento de produtos”, conta Oksman.
Essa facilidade tecnológica, graças ao know-how do mercado globalizado, divide-se em dois pólos distintos mas complementares, como explica Helmut, da Hydac. “A tecnologia pode se dividir
em importada, das respectivas matrizes, e em nacional, própria”.
A tecnologia vem se modernizando ao longo do tempo, o que pode ser observado no grande volume de produtos que já ostentam o selo de certificação do Inmetro, mesmo não sendo obrigatório. “De maneira geral, o
processo de melhoria da água
utilizado na região, está centrado
no emprego de membranas, lâmpada ultravioleta, elementos minerais, carvão ativado e fibras ocas para retenção de bactérias”, explica Domingues.
Investimentos Vinicius S. Patrício, Gerente de Vendas da Divisão Filtration da Ahlstrom, conta que o mercado de filtros na América Latina vem buscando agregar novas tecnologias e desenvolvimentos. “Os investimentos estão mais concentrados nas áreas de produção e processo, em capacidades e intensos programas de melhoria contínua, principalmente entre os maiores fabricantes”, opina. “As empresas multinacionais já acordaram para essa realidade e estão entrando com força total no segmento de tratamento de água, fazendo parcerias e adquirindo outras empresas”, conta Antônio Carlos Camargo, Diretor Industrial da Brasfilter/Purifica dores Europa. |
Perspectivas
As perspectivas para o futuro,
na maioria das opiniões coletadas para essa reportagem, são
positivas, principalmente a respeito dos constantes aumentos
de custo dos principais commodities: aço, químicos e celulose.
“De toda forma, a frota de veículos segue crescendo significativamente na Ásia e América do Sul, a despeito de uma maior estabilidade nos Estados Unidos e oeste da Europa. Os mercados na África, apesar dos volumes absolutamente menores, também
tiveram um aumento importante, assim como China, Índia
e, em menor escala, Brasil”,
explica Patrício, da Ahlstrom.
Segundo os fabricantes, há espaço para crescimento em todas as áreas, tanto no Brasil quanto no resto do mundo.
Alguns fatores agora são mandatórios, como as questões ambientais – cada vez mais presentes no dia-a-dia das pessoas e empresas. “Esse mercado continuará em crescimento independente da conjuntura global, em função de exigências cada
vez maiores do meio ambiente”,
orienta Helmut.
De modo geral, Almeida comenta que, considerando o dólar nos
patamares atuais, as perspectivas são de estagnação, pelo menos para 2008. “Esse será o ano em que os exportadores estarão renegociando contratos e preços. Somente em 2009 voltarão a crescer e desenvolver novos mercados”, explica. No caso da retomada do dólar, a análise muda conforme os níveis de valorização da moeda, assim como as particularidades de
cada país.
“As perspectivas são boas, desde que se tenha preço. Os preços desse segmento andam um pouco fora do mercado. Existem produtos americanos de custos baixíssimos. Com um filtro brasileiro ao lado, a preferência do consumidor certamente será pelo mais barato”, esclarece Oskman.
Há uma movimentação crescente de empresas multinacionais na busca por uma fatia
do mercado latino-americano, que ainda tem muito a crescer. “Por isso, a tendência de investimentos no setor é uma realidade em expansão, tanto
no comércio, indústria e no mercado focado em certificações de
qualidade, que já está se movimentando para atender a demanda dos próximos anos”, conta Domingues, da Abrafipa.