Sistemas Para Aproveitamento De Água De Chuva
Por Carla Legner
Edição Nº 101 - Novembro/Dezembro de 2019 - Ano 18
Em tempos de crise, aproveitar água da chuva, assim como reusar o esgoto tratado são novas realidades no Brasil. Atualmente é possível, inclusive, utilizar os dois sistemas em conjunto, de maneira a melhorar, e muito, a eficiência hídrica de um empreendim
Em tempos de crise, aproveitar água da chuva, assim como reusar o esgoto tratado são novas realidades no Brasil. Atualmente é possível, inclusive, utilizar os dois sistemas em conjunto, de maneira a melhorar, e muito, a eficiência hídrica de um empreendimento, seja residencial, comercial ou industrial.
Existe, hoje, diversos sistemas de aproveitamento de água de chuva no mercado, mas em primeiro lugar é preciso entender o que são, para que servem e como se classificam esses sistemas. De acordo com a norma 15527 da ABNT, que se aplica para o setor, entende-se como água de chuva a água resultante de precipitações atmosféricas coletada em coberturas e telhados, onde não haja circulação de pessoas, veículos ou animais, sempre para uso não potável.
Ainda de acordo com a norma vigente, os aproveitamentos permitidos são em sistema de resfriamento de água, comuns em prédios com torre, com ar condicionado; descarga de bacias sanitárias e mictórios; lavagem de veículos e pisos; reserva técnica de incêndio; uso ornamental, como em fontes, chafariz e lagos; e para irrigação paisagística.
De acordo com Sergio Kochen, representante da Reuságua, sendo mais comum o uso em paisagismo e lavagem de piso.
"É um erro muito comum as pessoas acharem que qualquer água de chuva pode ser aproveitada, somente as de cobertura podem e devem ser utilizadas, pois são mais limpas. Apesar dessa água não ser para consumo, pode haver o contato com a pele, desta forma, é recomendado ainda sua desinfecção, que pode ser feita por meio de cloro, ozônio ou ultravioleta, matando completamente qualquer bactéria" - completa Kochen.
Existem duas vertentes quando o assunto é aproveitamento de água da chuva. A primeira delas trata dos sistemas aéreos, que podem ser distribuídos em diversos pontos do imóvel armazenando um volume considerável de água, e a segunda são as cisternas. Em relação a tubulação, no caso da água de chuva, o cano deve ser de cor lilás, para diferenciar. Lembrando que esse sistema deve ser sempre independente e em hipótese nenhuma ter conexão cruzada com qualquer outro cano.
Sibylle Muller, engenheira da AcquaBrasilis, explica que captação de água de chuva pode ser feita por qualquer pessoa em sua residência ou empresa. No entanto, é importante realizar uma boa separação de sólidos e é fundamental fazer a desinfecção da água captada. "Essa água deve ser considerada um recurso adicional a ser aproveitado em épocas de chuva para complementar o consumo, substituindo parcialmente o consumo de água potável, preservando a mesma para fins mais nobres" - completa.
A redução de oferta de água atingiu níveis preocupantes em São Paulo, entre 2014 e 2015. Ninguém ousava lavar uma calçada, carro ou encher uma piscina de plástico sob pena de ser denunciado. O aproveitamento da água de chuva se tornou a alternativa mais barata e sustentável para evitar o esgotamento desse recurso tão importante.
Os processos
Kochen costuma classificar os sistemas em dois tipos. O primeiro deles é o sistema simples, normalmente utilizados em residências. O processo é simples, como o próprio nome diz, a água do telhado passa por um filtro, onde dependendo da situação não é necessário um filtro muito sofisticado e eficiente, e é depositada em um reservatório para ser usada. Não tem sistema de bombeamento, é feito tudo manual. Por meio de uma torneira basta encher baldes e utilizar.
No outro sistema, chamado de convencional, a água é filtrada, pressurizada (ação de uma bomba) e higienizada (uso de cloro). Tudo de forma automatizada, ou seja, saem diretamente nas torneiras, para esse tipo de água, disponibilizadas no imóvel. Vale ressaltar que a tubulação deve ser sempre separada. É um processo inteligente, como no caso dos chuveiros. Quando queremos água quente basta abrir torneira indicada que o sistema entende.
Cada fabricante tem seu processo de tratamento. A AcquaBrasilis dimensiona os sistemas conforme a necessidade de cada cliente, levando em consideração a área de captação, o índice pluviométrico do local da instalação e o consumo previsto de água de chuva tratada. Em geral, são sistemas automatizados, sem necessidade de intervenção humana para o funcionamento, com retrolavagem automática do filtro e montados em "skids" ou dispostos conforme projeto, atendendo as necessidades de cada cliente.
Com relação aos filtros, há vários tipos, graus de sofisticação e automação. Os do tipo peneira são separadores de sólidos grosseiros e pesados. Tem os filtros do tipo bag e cartucho, que lembram coadores de café, e filtros de leito misto, que são dimensionados para a vazão de projeto e devem conter uma ou mais camadas de material filtrante e carvão ativado, dependendo da qualidade de água desejada.
Sibylle explica ainda que estes sistemas podem também ter acionamento manual e montados conforme as condições de cada local e de acordo com o projeto. Por fim, há sistemas com membranas que produzem qualidade de água superior, que pode ser aproveitada em fins específicos que justifiquem um custo mais alto.
De acordo com Koche, a Reuságua inovou em seus sistemas e criou um processo diferenciado, que necessita de menos manutenção e otimiza espaço. "No processo convencional normalmente é utilizado filtro de areia, que necessita de retro lavagem. Os sistemas oferecidos pela nossa empresa utilizam filtros do tipo bag ou cartucho, dispensando a necessidade da retrolavagem, além disso nosso gabinete tem o tamanho de uma máquina de lavar, que cabe em qualquer local" - ressalta.
Luiz Augusto Antonin, diretor-presidente da Casa da Cisterna, destaca ainda que para uma boa qualidade da água, além do filtro, recomenda-se o uso de alguns itens, um deles é o Freio d´água. Depois de filtrada a água passa por este local com a finalidade de evitar que ela se movimente muito e agite os sedimentos depositados por decantação no fundo do reservatório. O sifão-ladrão descarta o excesso de água e evita a entrada de odores e insetos nos reservatórios. Por sua vez, o conjunto de sucção capta a água próxima à superfície, onde está mais limpa para o uso. Finalizando, o realimentador serve para controlar a entrada de água potável no reservatório de água de chuva nos períodos de estiagem.
"O volume do reservatório deve ser dimensionado levando em consideração a área de captação, regime pluviométrico e demanda não potável a ser atendida. O reservatório deve ser fechado e prever mecanismos que evitem a entrada de insetos, roedores ou outros animais"- enfatiza Antonin.
Um sistema eficiente pode garantir a redução de até 70% no consumo de água potável, o que nos dá a ideia da economia possível. Além disso, de acordo com Hiago Vilar, coordenador de marketing da EcoCasa, o sistema valoriza o imóvel e quando utilizado em larga escala em grandes centros urbanos corrobora com a diminuição de enchentes ao "compensar" a área hipermeabilizada das edificações.
Para ele, o principal cuidado é em relação a filtração e desinfecção da água. Tudo depende da finalidade e é altamente recomendado um estudo especializado antes de iniciar um projeto, principalmente para manter um volume de água satisfatório disponível durante os períodos de estiagem.
Sibylle destaca também que o aproveitamento de água de chuva é importante porque permite reduzir o consumo de água potável em fins não potáveis, trazendo benefícios ambientais e financeiros por levar a uma redução da conta de água dos usuários. Além disto, o consumo parcial da água de chuva diminui os volumes de água que irão para as galerias públicas de águas pluviais, minimizando os efeitos de chuvas muito fortes em regiões com tendências a enchentes.
As cisternas utilizadas para captação e reaproveitamento de água de chuva servem para armazenamento de água por longos períodos. De acordo com Vilar, na história, estes sistemas foram cruciais para o desenvolvimento das civilizações justamente pela possibilidade de armazenagem de água em períodos de estiagem. Hoje em dia a maioria das cisternas são enterradas devido ao tamanho. No Brasil, a média de cisternas para uso residencial varia de 10.000 litros até 30.000 litros, dependendo do consumo de água potável e da disponibilidade de chuvas em cada região.
Hoje, há no mercado, diversos tipos cisterna para essa finalidade. Antonin explica que para quem já tem sua casa construída pode optar pelas cisternas aparentes, ideais para uso em casas e escolas. São compactas, leves, práticas e de fácil instalação. Podem ser colocadas nas laterais da casa, na área de piscina ou em qualquer espaço que seja plano. Há modelos de 600L, 750L de 1000L e de 1050L.
Esse tipo de cisterna tem um design moderno e inovador e se integra perfeitamente à decoração do ambiente. A maioria delas já vem com filtro e clorador e está disponível em diversas cores. Além disso, recebem tratamento antimicrobiano e ultravioleta, que evitam a proliferação de fungos e algas, prolongando a durabilidade da água. Além das cisternas aparentes, há outros tipos de reservatórios que podem ser enterrados, com capacidade que varia entre 750 litros e 25 mil litros. São ideais para empresas, condomínios, prédios, hotéis, escolas e outros órgãos públicos e privados.
Cisternas aparentes: desenvolvidas em polietileno rotomoldado com proteção contra raios ultravioletas e antimicrobiano, vedadas à entrada de insetos, como o mosquito da dengue. Podem ser instaladas em um espaço reduzido da casa, em cima de uma calçada na lateral ou atrás da casa, sem necessidade de obra. Aí, basta conectar na calha e esperar chover. Depois, é só aproveitar a água.
Cisternas enterradas ou subterrâneas: são excelentes opções para quem busca aumentar a capacidade de armazenamento de água. Devido ao tamanho e grande volume de armazenamento, geralmente são enterradas.
A cisterna oferece outros benefícios aos usuários e ao planeta, se levado em consideração que é uma solução sustentável. Ela pode ser instalada em qualquer local próximo a edificação, pois o sistema de reúso de água da chuva é flexível e atinge qualquer ponto. Não é grande e serve para espaços otimizados. "Sem dúvida, as cisternas são as soluções mais sustentáveis para captar e aproveitar a água de chuva, possibilitando a economia da água potável e uma redução na conta de água. Muitas residências brasileiras já aderiram às cisternas e usam água de chuva para diversas atividades" – destaca Antonin.
Hoje é possível encontrar no mercado as cisternas aparentes que não necessitam de obra. Como são compactas, podem ser instaladas em um espaço reduzido da casa. Vale ressaltar que a maioria das cisternas já vêm com tratamento antimicrobiano e proteção contra raios ultravioletas, preservando a água em ótimas condições por mais tempo. Além disso, já vêm com todos os acessórios necessários para a instalação e perfeito funcionamento.
Captar de água de chuva é a forma mais eficiente e sustentável de economizar água potável. "Apesar dos sistemas caseiros não apresentarem o mesmo desempenho de um sistema profissional, aproveitar água da chuva, mesmo que de forma caseira, é um importante exercício de consciência ambiental" – completa Vilar.
Contato das empresas
AcquaBrasilis: www.acquabrasilis.com.br
Casa da Cisterna: www.casadacisterna.com.br
EcoCasa: www.ecocasa.com.br
Reuságua: www.reusaguasp.com.br