Mf - Edição Especial Filtech - Brasil: Que Venham Os Ventos De Fora!
Por Roberto Dumas Damas
Edição Nº 100 - Setembro/Outubro de 2019 - Ano 18
O Brasil inicia o ano de 2019 com uma certa esperança econômica. Grande probabilidade de reforma da previdência, que se mostrou factível, reforma tributária no Congresso com o objetivo de diminuir a burocratização existente no processo de recolhimento
O Brasil inicia o ano de 2019 com uma certa esperança econômica. Grande probabilidade de reforma da previdência, que se mostrou factível, reforma tributária no Congresso com o objetivo de diminuir a burocratização existente no processo de recolhimento de tributos das empresas, agressivo plano de privatização, reforma do mercado de gás natural, eliminado de vez o monopólio de fato da gigante Petrobras no segmento em questão. Enfim, um verdadeiro choque de liberalismo necessário para o destravamento do PIB potencial do país, permitindo um crescimento sustentável e sem intempéries de ordem de excesso de demanda.
Há de se aplaudir o novo governo sobre suas iniciativas liberais e capitalistas, por mais que para alguns segmentos isso possa significar instabilidade. Aliás, como dizia o economista austríaco Joseph Schumpeter, a antítese do capitalismo é a estabilidade em si. Empresas morrem e devem morrer, principalmente àquelas que não se renovam e não sucumbem às benesses do estado prejudicando maiorias desorganizadas em detrimento de minorias organizadas. A concorrência vinda de novos acordos comerciais, como a da União Europeia e o Mercosul, busca justamente acordar o espírito animal do capitalismo. A concorrência obriga as empresas a se inovarem, apesar da instabilidade em que enfrentam nesse cenário. Mas esta instabilidade como força motriz do capitalismo é o que limita a mediocridade das empresas e maximiza o bem-estar da maioria da população, que pode aproveitar produtos melhores, mais baratos e inovadores. Esse é o Brasil que parece se desenhar com o novo governo.
Mas em que sentido Brasil parece trilhar o caminho do crescimento? Inicialmente pela reforma da previdência, a qual no atual momento ainda depende de aprovação do Senado em dois turnos. Nosso país por um bom tempo acreditou que o governo poderia prover tudo, acreditando na falácia perigosa de que por ser um direito garantido pela constituição, automaticamente transformava os recursos infinitos. Ledo engano econômico. Ao aprovar a reforma da constituição, tão necessária quanto a veracidade da nossa nova realidade demográfica, o Brasil retira de sua cabeça a espada de Dâmocles. Com um dinâmica explosiva da dívida pública, a perspectiva de economia de quase R$1 trilhão pelos próximos 10 anos, automaticamente leva os agentes econômicos a requererem menores retornos para financiar o governo (tesouro). Menores retornos, menores juros e menor custo de oportunidade permitem que o investimentos na formação bruta de capital sejam desengavetados, impulsionando também o consumo das famílias. Certamente uma reforma necessária e felizmente quase aprovada pelo senado depois de duas aprovações com folga no congresso, porém ainda não suficiente.
Muito há por fazer como forma de evitar uma inflação de demanda ou como muitos comentam o "voo da galinha", quando um aumento da demanda acaba batendo na capacidade produtiva suscitando pressões inflacionárias e obrigando a autoridade monetária a elevar juros, derrubando o nível de atividade econômica. Felizmente essa consciência macroeconômica parece fazer parte do mindset dessa nova equipe econômica. Prova disso, são os vários planos de concessão (greenfield) e privatização lançados pelo Ministro da Economia que confere a devida importância em melhorarmos nossa capacidade produtiva e competitividade também. Este último como prova do quase fechamento do acordo comercial do Mercosul, o qual o Brasil faz parte juntamente com a Argentina, Paraguai e Uruguai, com a União Europeia e outros acordos de livre comércio em andamento. Após 20 anos de negociação, entre idas e vindas ideológicas, finalmente o país e o Mercosul logrou lançar a pedra angular do tão almejado acordo.
Por parte dos países do Mercosul, estes poderão ter as tarifas de exportação eliminadas pelos 28 países da União Europeia para produtos como carne, suco de laranja, café, açúcar, etanol, peixes, frutas, crustáceos e óleos vegetais brasileiros. Somente em 2018, o Brasil exportou 349,000 toneladas de açúcar e 43 milhões de litros de etanol. Durante o período de 10 anos de transição, os membros do Mercosul continuarão submetidos à quotas de exportação de 99,000 toneladas de carne bovina por ano. Estima-se que para cada R$ 1 bilhão exportado pelo agronegócio são consumidos cerca de R$300 milhões de bens industrializados, como aço, produtos químicos e máquinas e equipamentos.
Apesar do norte certeiro por parte da equipe econômica, o cenário ainda é desafiador. Principalmente dado os ventos de proa que continuam vindo do exterior: Recessão na Alemanha, possibilidade de um Brexit sem acordo e tensões políticas na Itália com Matteo Salvini podendo passar a ocupar a posição de primeiro ministro, prejudicando o cenário econômico das três principais economias da União Europeia. Isso sem falar da crise da Argentina, principal compradora de nossas exportações de carros e autopeças. Do lado dos EUA e a China os sinais parecem não ser dos melhores, mas as retaliações dos chineses em cima de Donald Trump impondo pesadas tarifas sobre importação de soja e carne bovina, acaba por beneficiar o agronegócio brasileira que tem se aproveitado das rusgas dessas duas potências.
Sem dúvida o cenário externo é desafiador, assim como o foi em 1982 (crise da LATAM), 1994 (Crise do México), 1997 (Crise da Ásia), 1998 (Crise da Rússia), 1999 (Crise do Brasil), 2000 (estouro da bolha dot.com) e 2007 (Crise da subprime), mas desde então difícil algum analista discordar de que o Brasil esteja tão bem preparado para lidar com essas intempéries do exterior. Inflação controlada e abaixo da meta de 4.25% (3.8% últimos 12 meses), déficit em conta corrente de apenas 0.77% do PIB, largamente financiado por investimentos diretos (4.2% do PIB) e não investimentos voláteis, reservas internacionais da ordem de US$388 bilhões, que possibilitam o Brasil a ser credor líquido no exterior, reforma da previdência praticamente aprovada, menor taxa de juros dos últimos 20 anos (SELIC - 6.0% ao ano), plano robusto de privatizações e concessões etc.
Sentimos que uma nova opção acertada se mostra em nossas diretrizes econômicas. O cenário externo como afirmamos será extremamente desafiador como um país emergente, mas se avaliarmos outros países emergentes, certamente o Brasil será um país de destaque positivo em meio a essa confusão no cenário externo.
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