Cuidados com filtros de ar-condicionado na pandemia e na chegada da primavera
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 106 - Setembro/Outubro de 2020 - Ano 19
Com a chegada da primavera cresce a importância dos cuidados na manutenção e higienização dos filtros do ar-condicionado, aparelho que faz parte dos sistemas de climatização dos ambientes
Com a pandemia do coronavírus e a chegada da primavera, cresce a importância dos cuidados na manutenção e higienização dos filtros do ar-condicionado, aparelho que faz parte dos sistemas de climatização dos ambientes Aquecimento, Ventilação, Ar-Condicionado e Refrigeração (AVAC-R). E a preocupação com o contágio do Covid-19 fez redobrar a atenção sobre o uso de ar-condicionado. “Uma maneira de diminuir o risco de contágio é elevar o volume de renovação de ar nos ambientes climatizados” – indica o engenheiro Bruno Duarte Lopes, diretor da Difusar.
Outra dica: “A primavera é momento ideal para preparar seu sistema de climatização para os próximos meses mais quentes” – orienta Fabio V. Guerra, consultor técnico da AirLink Filtros Industriais.
Estes filtros removem do ar local partículas de poeiras, ácaros, fungos e bactérias que fazem mal à saúde das pessoas. A chegada da primavera agrega mais um fator de risco às pessoas. “É nesta época que as flores começam a liberar pólen para a reprodução. Este ingrediente a mais no ar pode ser o causador de rinite ou crises alérgicas” – comenta Lopes.
“A primavera é uma estação seca, com isso, os filtros recebem quantidade maior de contaminantes, o que torna a vida útil dos elementos filtrantes menor nos equipamentos” – ressalta Ricardo Fozzatti, diretor da Volans Filtros. Ele alerta que quando os elementos filtrantes estão saturados, podem causar o desenvolvimento de colônias de bactérias que serão lançadas no ambiente a partir do momento que o ar-condicionado passe a funcionar.
Fazer a troca dos filtros de forma adequada, seja em ambientes, seja nos veículos, faz o equipamento funcionar com eficiência e evitar problemas. “A pandemia do coronavírus é um agravante, mas hoje já convivemos com outros tipos de bactérias e vírus nocivos ao ser humano, que podem ser minimizados dentro do veículo com o uso correto dos filtros” – aponta Victor Bertes de Souza, coordenador de vendas e engenharia para América do Sul da Freudenberg Filtration Technologies (FFT).
De acordo com a Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (ASHRAE), citada por Guerra, a ventilação e a filtragem dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado podem reduzir a concentração no ar de Sars-CoV-2 – causador do Covid-19, chamado de novo coronavírus – e o risco de sua transmissão pelo ar. “Espaços não condicionados podem causar estresse térmico às pessoas, ameaçar diretamente a vida delas e diminuir a resistência à infecção. Em geral, desabilitar os sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado não é recomendado para reduzir a transmissão do vírus” – adverte.
Os cuidados com a qualidade do ar em relação a partículas, micróbios, vírus e gases devem ser considerados em qualquer situação, com inspeções regulares e verificação, por perda de carga, do seu nível de entupimento. “No caso da pandemia, é recomendado que tenha periodicidade menor de intervalo entre inspeções, mas o filtro será trocado quando atingir o parâmetro de troca: perda de pressão ou dano mecânico, como furo e falha de vedação” – salienta o engenheiro Oswaldo Bueno, consultor técnico da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e coordenador do ABNT/CB-055, Comitê Brasileiro de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Plano de manutenção
O Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) de sistema de climatização é uma ação obrigatória a todos os edifícios de uso coletivo e público baseada na Lei 13.589/2018, que visa eliminar/minimizar riscos à saúde das pessoas e assegurar boa qualidade do ar nos espaços. “Fazer um plano de manutenção dos sistemas de ar condicionado, principalmente em edifícios, condomínios, shoppings, indústrias, centros de convenções, hospitais e laboratórios, previne ou diminui, ao máximo, os riscos à saúde dos ocupantes dentro de ambientes climatizados” – afirma Guerra.
Um sistema de filtragem bem dimensionado, que atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), deve passar por manutenção periódica para que a eficiência da filtragem seja contínua. “Para o PMOC, manter limpas e higienizadas as casas de máquinas, tomadas de ar externo e unidades condicionadoras, além de que seus filtros sejam substituídos nos períodos adequados” – salienta Guerra. Ele diz que a união da limpeza e higienização das unidades condicionadoras, como serpentinas de resfriamento, bandejas de condensados, rotores e volutas dos ventiladores, e da parte interna delas é fundamental para o bom funcionamento do sistema de filtragem.
Normas
A Portaria 3.523/98, que estabelece realizar a manutenção e limpeza dos sistemas de ar-condicionado, foi criada pelo Ministério do Trabalho para garantir a qualidade do ar dentro dos ambientes. Enquanto a Resolução 176/00 da Anvisa define padrões de referência para a qualidade do ar interno em ambientes públicos e coletivos e os métodos a serem empregados pelas vigilâncias sanitárias para fiscalizar a qualidade do ar.
A norma ISO 16890:2016 – Filtros de ar para sistemas de ar-condicionado, segundo Guerra, está sendo introduzida no mercado e traz mudanças nos métodos de teste de filtros e níveis de classificação de filtragem. O principal argumento desta nova norma é o foco na proteção de pessoas, aproximando testes de laboratório à realidade do campo.
Hoje, segundo ele, o mercado brasileiro atua com três normas para classificar a filtragem dos filtros:
• As normas EN779:2012 (europeia) e NBR16101: 2012 (brasileira) classificam os filtros de ar grossos, médios e finos;
• A norma EN1822:2009 (europeia) classifica os filtros absolutos com métodos de testes diferentes devido à maior eficiência dos filtros.
O objetivo é garantir ar filtrado para pessoas, processos e controle da contaminação do meio ambiente. “A finalidade é buscar constante melhoria na qualidade do ar dos ambientes de diversos segmentos, protegendo os processos produtivos contra possíveis contaminações, evitando, principalmente, a dissipação de doenças respiratórias e controlando o ambiente de poluições” – afirma Guerra, da AirLink.
Benefícios dos filtros
“A renovação do ar, o uso correto da classe de filtragem, a periodicidade de inspeção e de substituição do filtro e a higienização dos equipamentos e dos dutos garantem a qualidade interna do ar do ambiente de filtragem” – ressalta Bueno, da Abrava. No caso de falha neste processo, ocorre a chamada Síndrome do Edifício Doente (SED).
A SED envolve doenças por microrganismos infecciosos e partículas químicas em prédios fechados. Segundo o médico Marcello Bossois, coordenador técnico do Brasil Sem Alergia, a OMS orienta que o diagnóstico da doença se faz com a presença de dois ou mais sintomas pelo menos duas vezes por semana, no interior do prédio, e diminuem quando a pessoa deixa o local. A qualidade do ar de um edifício pode ser estimada pela porcentagem de absenteísmo por doença e reação alérgica ligada à baixa qualidade do ar por causa da alta concentração de contaminantes físicos, químicos e biológicos.
Bueno cita que o sistema respiratório humano possui excelente capacidade de filtragem para partículas de 0,4 micrometro e acima. Segundo ele, para proteger uma pessoa, é preciso eficiência de 50% para partículas iguais ou menores que 0,4 micrometro, um filtro M5, filtros com eficiência inferior não trazem melhor resultado às pessoas.
A questão é que por volta de metade dos prédios no Brasil sofre com a Síndrome do Edifício Doente, segundo estimativas. A SED pode causar rinites, faringites e laringites. Quando mal tratadas, causam infecções, como asma brônquica e pneumonia, conforme aponta a Dra. Patrícia Schlinkert, também integrante do Brasil Sem Alergia. Ficar exposto aos fatores causadores da SED – como infiltrações, má qualidade do ar, ácaros e poeira – pode provocar ou agravar alergias respiratórias e/ou dermatológicas. Segundo o Ministério da Saúde, hoje, cerca de 35% dos brasileiros têm alergia.
Falta de manutenção
“A falta de manutenção pode causar problemas de saúde e técnicos, como a má funcionalidade do ar-condicionado. No veículo, o filtro trocado regularmente também ameniza doenças alérgicas” – enfatiza Souza, da FFT.
Durante o processo de filtragem, o acúmulo de contaminantes aumentará a perda de pressão de passagem do ar. “Se não tiver um sistema de compensação, por exemplo, variação de rotação do ventilador ou abertura de registros de compensação, irá reduzir a vazão de ar insuflada e a capacidade de refrigeração e de higienização do ar interno” – adverte Bueno.
Guerra cita os tipos de partículas e contaminantes que os filtros capturam e retêm:
• Poeira e sujeira;
• Pólen;
• Mofo e esporos de mofo;
• Fibras e fiapos;
• Partículas de metal, gesso ou madeira;
• Cabelos;
• Bactérias e microrganismos.
Todo o ar que entra no ambiente acabará passando pelo filtro de ar no sistema HVAC. Por esse motivo, é imprescindível mantê-los limpos no aparelho de ar-condicionado. Filtros de ar obstruídos e sujos são a principal fonte de mau funcionamento do sistema de climatização. Guerra fornece exemplos de problemas provocados pelos filtros de ar sujos:
• Nos casos mais extremos, podem danificar o equipamento de refrigeração;
• Reduzem o fluxo de ar dentro do sistema HVAC, o que faz com que os ventiladores de tratamento de ar trabalhem mais e se desgastem mais rapidamente;
• Não podem remover particulados e contaminantes de maneira eficaz, fazendo esses materiais retornarem ao ar interno;
• Causam a acumulação de contaminantes no duto do sistema HVAC;
• Fazem com que o equipamento de climatização trabalhe mais, aumentando o uso de energia e as contas mensais dela.
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Manutenção preventiva
No caso de veículos, Souza, da FFT, diz que o manual e o check-list de manutenção das concessionárias já contemplam o passo a passo, períodos e outros, o que tem ajudado na conscientização do usuário final. No mercado de After Sales, a indicação é de seis meses até um ano, ou 10 mil Km – o que vier primeiro. Dessa forma, o condutor manterá o ar dentro da cabine livre de partículas nocivas à saúde. A manutenção preventiva deve ser realizada com a troca do filtro. Passos básicos:
1. Abertura do local para acesso à caixa de ar (exemplo: porta-luvas);
2. Retirada da tampa de acesso ao filtro;
3. Retirada do filtro;
4. Substituição do filtro por um filtro novo;
5. Encaixe da tampa adequadamente.
Na opinião de Guerra, da AirLink, os custos de reparo de HVAC podem ser consideráveis e apenas o começo. Segundo ele, é preciso levar em conta os custos de inatividade da produção de uma fabricação; da corrosão de equipamentos de tecnologia em um datacenter; de trabalhadores de escritório doentes com baixa qualidade do ar; ou da perda de clientes em um restaurante desconfortável. “A manutenção preventiva regular do HVAC, que inclui limpeza ou troca programada do filtro, substituição de juntas, medições de fluxo de ar e testes de queda de pressão, ajuda a evitar muitos desses problemas” – indica.
Os filtros só terão o desempenho especificado quando cuidados corretamente. “A filtragem adequada de HVAC mantém os ambientes internos limpos e livres de poeira e partículas que podem reduzir o rendimento do produto ou criar outros riscos à saúde das pessoas. Fazer a manutenção do filtro mantém limpos os dutos de HVAC.
Se os filtros atingirem a perda de carga final, podem romper e aumentar ainda mais a contaminação por vírus, bactérias e fungos. Por todos esses motivos, é essencial estabelecer a frequência de troca de filtro apropriada” – explica Guerra.
De acordo com ele, os filtros devem ser trocados imediatamente:
• Se os filtros ficarem úmidos;
• O crescimento microbiano no meio filtrante for visível;
• Quando os filtros estourarem ou ficarem danificados à medida que o ar passa pelo meio filtrante.
Depois de especificar o grau de filtragem e selecionar um filtro, é importante prestar muita atenção à instalação correta do filtro. “O objetivo é evitar o desvio de ar, o que causa contaminação em ambientes. Faça isso, certificando-se de que todo o ar do sistema passe pelo filtro” – orienta Guerra. Para evitar problemas mais tarde, considere estas dicas de instalação dadas por ele:
• Verifique se há danos na mídia do filtro, como rasgos ou orifícios, e substitua os filtros danificados;
• Cheque se a mídia está selada no quadro para evitar o desvio de ar;
• Instale o filtro de acordo com a direção do fluxo de ar indicada na estrutura;
• Confirme se os elementos de fixação do filtro estão no lugar e corretamente instalados;
• Certifique-se de que a estrutura de fixação dos filtros está em bom estado e também a qualidade das molduras nos filtros. Molduras de baixa qualidade e que não são resistentes à umidade podem estourar poucos dias após o uso;
• Na instalação, evite frestas entre os filtros. Coloque borrachas ou outro vedante para garantir a estanqueidade dos filtros.
Após a instalação e operação dos filtros, Guerra explica que eles devem ser monitorados e mantidos para fornecer a filtragem máxima, sem exceder a capacidade do ventilador de alimentação ou levar a vazamentos sem filtragem de ar. Segundo ele, a durabilidade dos filtros depende das horas de funcionamento da instalação e da qualidade do ar que é filtrado.
Em zonas urbanas com alto índice de contaminação, os filtros podem durar menos. Em ambientes onde o ar é mais limpo, a vida útil será maior.
É orientada a aplicação de manômetros para medir os diferenciais de pressão. Além disso, é importante seguir as recomendações do filtro e do fabricante/fornecedor do sistema HVAC para determinar os procedimentos e frequências de manutenção e troca de filtros. E não se esquecer de documentar todas as inspeções e ações corretivas.
Guerra cita os benefícios da manutenção preventiva do ar-condicionado:
• Minimiza a emissão de poluentes e partículas nocivas no ambiente;
• Diminui o consumo de energia do equipamento;
• Reduz os riscos de falhas e quebra do aparelho;
• Aumenta sua vida útil;
• Aumento da eficiência do equipamento;
• Ar mais saudável, puro e de qualidade;
• Maior conforto térmico.
Na inspeção programada, verificam-se falhas de estanqueidade por onde há passagem do ar sem filtrar – podendo ser somente encaixe malfeito que deve ser corrigido –, filtro perfurado ou com perda de carga superior ao valor especificado que precisa ser substituído.
Bueno diz que o filtro a ser substituído deve ser considerado como material contaminado:
a) O profissional qualificado deverá estar protegido com os equipamentos necessários: roupa, máscara, luvas e óculos de segurança;
b) O trabalhador capacitado deverá instruir o profissional de todas as etapas do procedimento e sobre o uso de acessórios para a remoção e o transporte seguro do filtro caixas bag in e bag out e a destinação final conforme os procedimentos de material contaminado.
Para equipamentos que têm o indicador de diferencial de pressão, a saturação do filtro pode ser notada com facilidade. “Em outros equipamentos nos quais esse marcador não existe, como ar condicionado de residências, de pequenas salas ou de veículos automotores, carros, caminhões ou máquinas agrícolas, pode-se verificar visualmente quando o elemento filtrante está impregnado. Outra maneira de identificar a saturação do elemento filtrante é observar o fluxo de ar que vai diminuindo e já não tem o mesmo volume de quando o elemento filtrante era novo” – explica Fozzatti, da Volans.
Ele diz que os filtros veiculares são fabricados em poliéster para uma sobrevida e podem ser lavados com água e sabão neutro. Depois, serem secos ao sol e, então, recolocados no veículo. “Não podem ser montados úmidos, precisam estar secos” – enfatiza. Para aparelhos de ar condicionado pequenos, se o filtro for plástico, também pode ser lavado com sabão neutro e colocado ao sol para secar e a saturação deve ser acompanhada com mais rigor. No caso dos filtros permanentes, devem ser lavados com sabão neutro constantemente e só montados depois que estiverem secos, de preferência, no sol.
Proteção contra o Covid-19 |
Manutenção corretiva
É imprescindível ficar atento a todos esses fatores citados e realizar periodicamente a manutenção preventiva para evitar a quebra inesperada do ar-condicionado. “Quando uma falha ocorre, um defeito ou pane é identificado, a manutenção corretiva é a ação que garante um bom funcionamento do aparelho, propiciando um ambiente mais seguro e livre de contaminantes ou partículas nocivas” – afirma Guerra.
Ele elenca os principais objetivos da manutenção corretiva do sistema de ar-condicionado:
• Aumentar a vida útil do equipamento;
• Conservar o equipamento limpo e evitar a proliferação de fungos e bactérias;
• Minimizar o consumo de energia;
• Impedir que o equipamento tenha quebras repentinas;
• Melhorar a qualidade do ar do ambiente interno;
• Proporcionar maior conforto térmico;
• Evitar a proliferação de doenças.
Depois que os procedimentos básicos forem abordados, são sugeridas algumas ações para os sistemas de HVAC, conforme Guerra:
• Aumente a ventilação do ar externo, mas tenha cuidado em áreas altamente poluídas. População menor no edifício aumenta a ventilação efetiva por diluição por pessoa;
• Desative a ventilação controlada por demanda (DCV);
• Recirculação do ar mínima possível. Na estação de clima ameno, isso não afeta o conforto térmico ou a umidade;
• Melhore ao máximo a eficiência de filtragem conforme a capacidade do seu equipamento;
• Na instalação, evite frestas entre os filtros. Coloque borrachas ou outro vedante para garantir a estanqueidade dos filtros;
• Mantenha os sistemas em operação por mais horas, se possível, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Contatos
Abrava: www.abrava.com.br
AirLink: www.airlinkfiltros.com.br
Difusar: www.difusar.com.br
Freudenberg: www.freudenberg.com
Volans Filtros: www.volans-filtros.com.br