O mercado de Filtros durante a pandemia e perspectivas para 2021
Por Carla Legner
Edição Nº 108 - Janeiro/Fevereiro de 2021 - Ano 19
Os filtros são equipamentos utilizados em toda indústria, mas podemos dizer que estão inseridos no nosso dia a dia no mercado automotivo e residencial. Servem para retenção de partículas, e assim evitar que impurezas atrapalhem o resultado final
Os filtros são equipamentos utilizados em toda indústria, mas podemos dizer que estão inseridos no nosso dia a dia no mercado automotivo e residencial. Servem para retenção de partículas, e assim evitar que impurezas atrapalhem o resultado final de um processo, ou que danifiquem os equipamentos no qual são empregados. Existem inúmeros tipos de filtros e processos de filtração, mas independente de qual, esses itens são de suma importância para todos os sistemas.
Nos últimos anos, é possível notar uma tendência e uma preocupação da população com os equipamentos de filtração de água, em casa, e com os filtros dos próprios veículos. A qualidade da água que consumimos deixou de ser um exagero e se tornou sinônimo de eficiência, economia e sustentabilidade. Há investimentos em produtos com foco em design e funcionalidades que atendem à variadas necessidades, afim de oferecer água pura e tratada.
Para Paulo Galina, gerente de marketing da Lorenzetti, trata-se de um mercado em crescimento, mesmo com a crise gerada pelo Covid-19. “Acreditamos que a pandemia trouxe um novo comportamento ao consumidor. Ao passar mais tempo no lar, as pessoas se motivaram a promover reformas e reparos nos ambientes e, como consequência, buscaram novos produtos que pudessem agregar praticidade no dia a dia”- destaca.
Para ele, outros fatores que contribuíram no impulsionamento do setor estão ligados à economia, como a liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o Auxílio Emergencial, que impactaram positivamente grande parte da população. No caso dos veículos, é cada vez mais evidente que os filtros, além de melhorar a qualidade do ar interno, são fundamentais para todo o desempenho do automóvel, pois garantem maior eficiência, menor desgaste de determinados itens do carro, além de proteção e conforto, evitando danos à injeção eletrônica e também nos demais sistemas e peças do motor.
Os filtros automotivos, especialmente os de cabine, tem um papel ainda mais importante nesse momento de pandemia, já que tem a função de reter as partículas de poeira e eliminar todo tipo de impureza presente no ar que entra no interior do veículo. “Visto esse cenário, pudemos observar uma maior busca por manutenção e limpeza dos sistemas de ar condicionado e troca dos filtros” – afirma Viviane Vedovatto, responsável pelo trade marketing no Brasil da Bosch.
Assim como no setor residencial, para muitos fabricantes, o automotivo vive um momento de crescimento. “Com a pandemia, as pessoas que precisam se locomover estão evitando o transporte público e realizando o trajeto de carro. Esta situação trouxe um movimento expressivo de uma frota que estava parada e consequentemente trouxe muita manutenção e troca de filtros” – afirma Cristian Rodrigues Neto, SEO da Wega Motors.
E não é só os automóveis, ele destaca ainda que o segmento de duas rodas em função do “delivery” é um setor que está totalmente aquecido. “Todos os nossos clientes que trabalham o mercado de duas rodas estão batendo recorde de vendas neste segmento” – destaca Cristian Rodrigues Neto. Por outro lado, a linha pesada e de transporte de passageiros é a única que está prejudicada no momento. Em contrapartida, o transporte de cargas continua, a linha amarela está aquecida e a de construção também.
“Na linha pesada em um primeiro momento o mercado de On-Highway (caminhões) foi bastante impactado, tanto no fornecimento do item original como na reposição, mas em junho ele começou a se recuperar atingindo níveis pré-pandemia já em julho. E neste período o mercado de Agricultura e Minerações não apresentaram queda, superando qualquer expectativa” – completa Maria M Silva, representante da Cummins.
Isso porque, a questão de saúde se tornou foco e gerou uma preocupação maior com a qualidade do ar e a troca dos filtros. “O mercado ainda precisa voltar a se estabilizar para que tenhamos total conhecimento dos efeitos da pandemia. Já que passamos de uma queda de volume para níveis recordes, ainda é cedo para mensurar os impactos e todas as mudanças que teremos frente ao novo consumidor e o novo modo de consumir” – completa Robson Quito, especialista da linha de Filtros da Delphi Technologies.
Pandemia e principais desafios
De maneira geral, 2020 foi um ano delicado. A pandemia gerou inúmeras perdas e um cenário muito incerto. Vidas foram perdidas, aumento do desemprego e aumento da crise econômica que o país vivencia. Não é um cenário fácil e, infelizmente, ainda sem perspectivas de volta à normalidade. Todos os setores foram impactados, porém, aos poucos as oportunidades foram surgindo.
De acordo com Viviane foi um ano de muita aprendizagem em todos os aspectos, principalmente em relação as novas tendências de consumo e desde junho houve uma rápida retomada e que superaram os níveis do ano anterior. “Foi um ano muito desafiador, onde a pandemia atingiu o mercado como um todo, principalmente nos primeiros meses de isolamento social quando havia medidas de restrição de circulação. Porém, desde julho já percebemos uma retomada. No setor automotivo, nós observamos um aumento na demanda de serviços de manutenção preventiva para que a vida útil do veículo seja prolongada e essa perspectiva também se aplica para o mercado de filtros automotivos” – destaca.
Ela conta ainda que nesse período a empresa precisou se adaptar e repensar a forma de fazer negócio. “A Covid-19 assustou a todos do mercado, então o pensamento estratégico foi essencial para mantermos os negócios funcionando. Nós buscamos formas de estar próximos dos clientes e atender suas necessidades e demandas de forma rápida, ocupando espaços que foram deixados por alguns concorrentes que não tiveram a capacidade de reagir com a mesma rapidez” – afirma.
Na Delphi não foi diferente. Segundo Quito, o mercado de filtros em 2020 começou a todo vapor, consolidando o ano anterior de recordes históricos, mas “infelizmente, com a chegada da pandemia o cenário mudou: tivemos a quarentena iniciada no mês de março e isso impactou diretamente a circulação de veículos e, consequentemente, o volume de vendas, mas nos mantemos fortes. A partir de junho, o mercado começou a apresentar uma retomada e, aos poucos, superou as expectativas” – completa.
Como o ano está sendo muito atípico, Neto destaca que apesar da recuperação e do crescimento, falar de números ainda é muito cedo. “Entendo prudente aguardarmos ao fechamento do ano, mas até agora podemos dizer que estamos tendo um crescimento de dois dígitos no geral e conquistando os nossos objetivos em resultado financeiro também, quesito fundamental para continuar crescendo nos negócios de um jeito sustentável” – explica.
Ele conta também que a estratégia da empresa foi em estar sempre próximos de todos os elos da cadeia, o que se mostrou, com o tempo, uma decisão totalmente assertiva. “Diante da pandemia, a primeira coisa que lembramos é que empresas são pessoas e não números, então, considerando a nossa responsabilidade com o nosso time, fomos provavelmente a única fábrica de filtros que tomou a decisão de não demitir ninguém por conta da pandemia e de fato, aproveitar as oportunidades de contratação que apareceram no mercado para melhorar ainda mais o nosso time” – ressalta.
A adaptação e o cuidado foram peças fundamentais para todas as empresas nesse período. Nesse sentido, a Lorenzetti realizou alguns ajustes nas fábricas e escritórios, com o intuito de manter os colaboradores em total segurança e respeitando protocolos sanitários. “Mantivemos um bom ritmo de produção, com objetivo de conseguir atender a grande demanda que nos foi apresentada. Acreditamos que o mercado de purificadores de água foi um dos grandes impulsionadores para os negócios da empresa nesse ano, que tem sido histórico em termos de vendas” – conta Galina.
No caso da Cummins, Maria afirma que a empresa sempre teve a segurança dos seus colaboradores como a sua prioridade máxima, então após avaliar todos os riscos e tomar todas a ações necessárias para garantir a segurança de todos os funcionários, decidiu manter as operações das plantas de Filtros e Geradores, pois tratavam-se de produtos essenciais para ajudar o Brasil a enfrentar a pandemia.
E se não bastasse toda os problemas, a pandemia trouxe uma outra questão: a falta de matéria prima. Neto explica que muitos fabricantes, sem saber o que ia acontecer diminuíram os estoques, mas a retomada rápida pegou todos desprevenidos, o que gerou a falta de matéria prima, como consequente falta de produtos de todo tipo e a inflação.
“No início a pandemia provocou uma histeria generalizada onde observamos muitos varejos, atacados e distribuidores adotando a postura Cash is King, o que resultou em uma rápida baixa nos níveis de estoques da cadeia, e forçou a indústria a frear fortemente suas atividades. No entanto pouco tempo após a instalação do lockdown observou-se o início de um reaquecimento no consumo de autopeças, que em pouco tempo atingiu volumes superiores aos vividos anteriormente. Hoje o mercado está diferente, com outras prioridades e até mesmo com uma curva de consumo e um mix de venda diferente do que era” – afirma Felipe Anholon, diretor do Grupo Sogefi.
Novidades e perspectivas para 2021
Segundo Anholon, apesar de todas as dificuldades, o ano trouxe também coisas boas, como por exemplo a implementação da cultura de reuniões a distância e operações remotas. Além disso, também deu ênfase a uma tendência que já exista por favorecer perfis profissionais mais generalistas, criativos e resilientes. “Estamos reavaliando a maneira como atendemos o mercado, levando em conta o novo-normal, dando ênfase as parcerias e explorando a proximidade com nossos clientes para desenhar uma operação mais eficaz e adequada para cada mercado e região que atendemos” – ressalta.
A empresa optou por deixar os lançamentos de novas tecnologias para o segundo trimestre, visto que todo cenário de escassez deve ainda perdurar até março de 2021, porém a previsão é de realizar fortes aportes para desbravar novos mercados através da aplicação de novas tecnologias nas linhas de produtos.
“Iniciaremos o ano ainda sob muita pressão por disponibilidade de peças, enquanto ainda enfrentaremos também muita limitação em obter matéria-prima como aço, embalagens, materiais plásticos e afins. No que diz respeito a restabelecer nossas operações, podemos afirmar que já estamos com todos as fabricas operando, com todos os turnos ativos e bastante ocupados. O grande limitador hoje é disponibilidade de matéria prima, e provavelmente ainda será na entrada de 2021” – afirma o diretor do Grupo Sogefi.
O fato é que haverá desafios de todos os tipos, principalmente pela falta de produtos no mercado em geral, além disso, há também toda uma equação de custos elevados, seja pela situação cambial, pela falta de matéria prima, ou também por questões cambiais no mundo e pela falta de containers.
Na Wega, por sua vez, há um cenário no qual todas as frotas estão crescendo e sendo renovadas, surgindo novos modelos de filtros que logo estarão disponíveis para atender o mercado. Segundo Neto, em 2021 o desafio será manter o nível de entregas, prestigiando os clientes e mantendo um patamar de preços competitivos com responsabilidade, gerando lucro aos acionistas para continuar investindo forte neste mercado. Além disso, manter o trabalho de comunicação com todos os elos da cadeia.
“Pelo menos no nosso foco, que é a reposição, nosso mercado se manteve aquecido, por isso acredito em um 2021 de consolidação e crescimento. De fato, temos projetos de ampliação importante do tamanho do nosso CD para nos preparar não só para o crescimento deste ano 2021 como dos próximos anos. Como sempre comento, oportunidades não duram para sempre, e quando aparecem temos que estar prontos para aproveitar e continuar crescendo” – afirma Neto. A empresa prevê continuar crescendo em níveis de dois dígitos.
Em 2020 mesmo como todas as incertezas, a Cummins manteve os lançamentos da linha de filtros de combustível E-Top e dos kits de manutenção para geradores. “Para 2021 iremos manter o foco no desenvolvimento de novas tecnologias de mídia filtrante Nanonet e Stratapore, vamos prosseguir com o desenvolvimento de produtos para aplicações nos novos motores Euro VI e avançar no desenvolvimento de novos itens para o mercado de reposição. Felizmente nós estamos finalizando 2020 de uma maneira bem robusta, o que vai nos permitir entrar em 2021 em um nível de vendas superior ao que iniciamos 2020, o que nos deixa muito confiantes e animados” – conta Maria.
Para Quito, a principal mudança para o próximo ano é em se reinventar e fazer diferente. “Sempre há espaço para o novo, e queremos sempre surpreender positivamente nossos clientes. Nós tivemos que nos adaptar ao novo contexto, e será assim que iremos em busca dos nossos objetivos em 2021” – afirma. Em relação a novas tecnologias, ele conta que sempre há novidades no mercado.
“A indústria automobilística trabalha incessantemente na busca do aperfeiçoamento, lançando novos produtos e inovando sempre. Acredito que em 2021 não será diferente. A tendência é que pouco a pouco o mercado volte ao seu ritmo normal, com as fábricas trabalhando normalmente, e todos em segurança com a liberação da vacina”- completa Quito. Na Delphi, há um plano de lançar novos produtos e deixar o portfólio cada vez mais completo.
De acordo com Viviane, os novos desafios do setor estão voltados a eletrificação, redução de emissões, direção autônoma e conectividade e digitalização. “O setor automotivo é uma área que está sempre em evolução e constantemente aparecem novas tecnologias, por isso, é necessário se adaptar e se preparar a elas, tanto na capacitação da mão de obra quanto na aquisição de equipamentos adequados para fazer o correto diagnóstico e manutenção dos veículos, especialmente quando termina o período de garantia da fábrica” – explica.
Ela acredita que a retomada para 2021 ocorrerá de forma lenta e gradual e será preciso adaptação ainda mais voltada para o meio digital e mudar as estratégias para a realidade atual. “As tendências do setor automotivo já estavam relacionadas a digitalização dos processos, mas a Covid-19 intensificou ainda mais esse trabalho. A transformação digital no setor automotivo já é uma realidade, mas é preciso intensificar as estratégias de e-commerce, oferecer serviços de qualidade e atendimento especializado e aprimorar o relacionamento com o consumidor final, sempre acompanhando as tendências de consumo e tecnologia que vão surgindo conforme o tempo” – afirma a representante da Bosch.
Quando pensamos em filtros residências, Galina conta que o desafio agora é superar as soluções que já estão no mercado, acompanhando de perto o “novo normal” presente no cotidiano das pessoas. Ele destaca que nos últimos anos, há notadamente uma tendência em espaços gourmet funcionais e completos, desta forma, grande parte dos itens que compõem o ambiente estão sendo estudados de maneira cuidadosa, com objetivo de ampliar o conforto e a praticidade.
“É necessário se manter atento à essa nova realidade que toda a população atravessa. O comportamento do consumidor será a principal referência para definirmos as próximas ações. É nítido que as pessoas passaram a ter ainda mais cuidado com a saúde, e isso reflete na qualidade da água consumida. Sendo assim temos sempre que avaliar a maneira de atendimento, exposição dos produtos e na concepção dos itens, analisando funcionalidades que possam dialogar com esse momento” – completa o gerente da Lorenzetti.
Contato das empresas
Bosch: www.bosch.com.br
Cummins: www.cumminsfiltration.com
Delphi Technologies: www.delphiautoparts.com
Lorenzetti: www.lorenzetti.com.br
Sogefi: www.fram.com.br
Wega Motors: www.wegamotors.com.br