Máquinas de triturar materiais diversos ajudam a despoluir o planeta
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 115 - Março/Abril 2022 - Ano 20
Com o crescimento populacional no planeta, a quantidade de materiais utilizados na fabricação de produtos e em serviços dos mais variados aumentou e se diversificou. E é preciso dar conta de todo esse volume produzido quando eles são descartados
Com o crescimento populacional no planeta, a quantidade de materiais utilizados na fabricação de produtos e em serviços dos mais variados aumentou e se diversificou. E é preciso dar conta de todo esse volume produzido quando eles são descartados para não gerar caos à saúde das pessoas e ao meio ambiente com poluição de ar, solo, fauna, flora e água. Aí é que entram em ação as máquinas de triturar ou moinhos para facilitar a recirculação destas matérias-primas depois de descartadas, aumentando sua vida útil para outros usos, fazendo a economia circular e ajudando a limpar e despoluir o planeta.
Vantagens de triturar
Segundo Rafael Augusti Cerri, engenheiro mecânico da Rone Moinhos, a maior vantagem de triturar é evitar que um material vá para o meio ambiente e dependa do processo de decomposição para “sumir”. “Com a moagem dentro do processo de reciclagem, aproveitamos, ao máximo, a vida útil dessa matéria-prima tão versátil que é o plástico” – comenta.
Para o empreendedor que investe nas máquinas de triturar há muitas vantagens. “A maior vantagem será financeira, porque, com menor perda de material, o empreendedor conseguirá maior lucro” – menciona Cerri.
Outro tipo de material reciclado são os fios elétricos. A reciclagem de fios elétricos economiza e polui menos. “Obtém-se economia de cerca 50% em energia do que no processo para extrair o metal da natureza. Com isso, é emitido menos carbono na atmosfera” – esclarece Wallyson Ferreira, gerente de vendas da EcoRobust.
Outro benefício é evitar a queima de fios, prática comum no Brasil. “A queima de fios é prejudicial ao meio ambiente e libera gases tóxicos extremamente perigosos. A prática já está proibida no Brasil há anos, sendo prevista em lei de poluição atmosférica, com pena que varia de 1 a 4 anos, além da multa de dois salários mínimos” – discorre Ferreira.
A fragmentação de papel também sempre foi muito importante. “As fragmentadoras são importantes aliadas no descarte seguro de papéis. Ao se fragmentar papel previne-se que folhas com informações confidenciais acabem sendo acessadas por pessoas não autorizadas” – salienta Matheus Moreira, do depto. comercial da Triturare. Segundo ele, a necessidade de triturar papel aumentou com a nova legislação Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige que todas as pessoas e empresas tenham controle e cuidado com informações de terceiros.
Com relação ao meio ambiente, as fragmentadoras de papel auxiliam na separação dos resíduos recicláveis. “O papel do cesto da fragmentadora já está todo separado de outros tipos de resíduos e materiais, facilitando muito a reciclagem do papel” – enfatiza Moreira.
De acordo com André Luís Lavignati, diretor da Tria Plastics, os materiais termoplásticos têm um ciclo praticamente infinito de recuperação. “Tudo o que é reaproveitado deixa de virar resíduo ou lixo e reduz a mineração” – ressalta.
Processo
“A quantidade, a forma de alimentação e a descarga variam de acordo com o material que está sendo processado na máquina de triturar” – explica Cerri, da Rone Moinhos. Segundo ele, o operador coloca o material no bocal do moinho de forma manual, por esteira, pá carregadeira ou automatizada. O moinho processa o material até ficar na medida de grãos previamente escolhidos e o material triturado sai pela parte inferior do equipamento. O material é retirado do modo que melhor atenda ao processo e layout do cliente. Algumas das opções são por gaveta, ventilador de média ou alta pressão, entre outras.
Etapas de processamento dos fios elétricos, segundo a EcoRobust:
As fragmentadoras de papel são automáticas. “Basta o usuário inserir as folhas na abertura para a máquina iniciar a fragmentação. As folhas são puxadas e trituradas pela fragmentadora” – explica Moreira, da Triturare. A quantidade a ser inserida por vez depende da capacidade do equipamento. “Varia de 10 a 20 folhas nas máquinas pequenas e médias, e até 50 folhas por vez nas máquinas de grande porte” – exemplifica.
O processo das fragmentadoras é bem simples e fácil. “Todas as fragmentadoras possuem um compartimento com cesto onde os papéis picados são depositados. A maioria das máquinas possui sensor para avisar quando o cesto está cheio e é hora de esvaziá-lo” – conta Moreira.
O tamanho do corte, resíduo final pós-fragmentação, depende do modelo e é regulamentado pela norma alemã DIN 66399 com níveis que variam de 1 a 7. De acordo com Moreira, o menor é para máquinas que cortam o papel em grandes formatos (menos seguro) e o maior para máquinas que cortam em pedaços muito pequenos (maior segurança). “O nível mais comum no mercado é o 4, que corresponde a uma partícula de papel com tamanho máximo de 4 x 40 mm, suficiente para a maioria dos tipos de documentos” – afirma.
A trituração ou a moagem de materiais plásticos é feita de várias formas. Já o processo de reciclagem é classificado em dois grupos:
• Pós-industrial – Materiais plásticos limpos oriundos de scraps gerados dentro do processo de transformação de termoplásticos, como injeção, sopro, extrusão, termoformagem etc;
• Pós-consumo – Materiais sujos oriundos do lixo urbano, como garrafas PET, embalagens de Polipropileno (PP) / Polietileno (PE) / Poliestireno (PS) / Polietileno tereftalato (PET) etc., filmes flexíveis, produtos descartáveis etc.
Fonte: Tria Plastics.
No processo pós-industrial, os materiais são triturados na linha produtiva ou de forma centralizada. “Assim que a linha gera o scrap, há um tipo de equipamento para cada segmento da transformação plástica e o scrap pode ser moído e reaproveitado direto no processo. Outra forma é transportar esse scrap para uma central de moagem e recuperá-lo escalonadamente. O processo de moagem pós-industrial é realizado de forma limpa e seca” – ilustra Lavignati, da Tria Plastics.
Já o processo pós-consumo é mais complexo, segundo ele. Demanda separação dos diversos tipos de peças, por material (triagem), pré-descontaminação, moagem inicial com inserção de água, lavagem, decantação, secagem e, muitas vezes, uma segunda moagem, além da regranulação do material (extrusão).
A trituração / moagem também é feita por diferentes tipos de equipamentos. Os mais encontrados no mercado, segundo ele, são os trituradores tipo Shredder e moinhos convencionais de facas rotativas e facas fixas.
“O sistema Shredder tem rotor equipado com pastilhas – lâminas quadradas –, trabalhando em baixas rotações (80 RPM). Nele, há um sistema de pressão com força hidráulica que pressiona o material a ser triturado contra o rotor de pastilhas, fragmentando o material plástico” – descreve Lavignati.
O moinho convencional de rotor com facas planas – cuja quantidade é definida por processo e cada fabricante – gira a velocidades variáveis de 200 a 580 RPM estabelecidas por tipo de processo e as facas rotantes passam muito próximas a duas facas fixas. O corte se dá de forma paralela ou em formato de tesoura definida pelo fabricante.
Na parte inferior da câmara de moagem, fica uma peneira classificadora com furos que determinarão o tamanho desejado do material moído: 5 mm, 7 mm, 9 mm, 10 mm etc.
“O material retorna ao corte por várias vezes até que atinja dimensões menores que o diâmetro dos furos da peneira classificadora e atravesse por ela. Na maioria das vezes, esse material já estará pronto para o consumo, que pode ser utilizado como carga / mistura com material virgem ou utilizado 100% moído, de acordo com a qualidade obtida no processo de moagem” – relata Lavignati.
Volume
“Dentro do mercado, a produção é tratada em kg/h. Com isso, o cliente pode adequar ao seu turno de trabalho e saber a produção diária” – expõe Cerri, da Rone Moinhos. De acordo com o engenheiro, a empresa dispõe de diversas linhas e tamanhos de moinhos para atender desde pequenas produções até clientes que processam 5.000 kg/h. Pode também trabalhar com várias linhas e atender até produções maiores.
O mercado de fios elétricos tem grande demanda. “A quantidade de fios elétricos varia de 500kg por dia até 100 toneladas por mês, dependendo da demanda na empresa de manufatura reversa” – informa Ferreira, da EcoRobust.
A escolha do modelo da fragmentadora de papel é baseada na demanda do cliente, quantas pessoas vão utilizar a máquina e o porte da empresa:
• Os modelos de pequeno porte fragmentam em torno de 500 a 1.000 folhas por dia;
• As máquinas de médio porte costumam fragmentar cerca de 3.000 a 5.000 folhas por dia;
• As máquinas de grande porte – industriais ou grandes escritórios – podem fragmentar até uma centena de milhares de papéis por dia.
Fonte: Triturare.
Como o volume é estabelecido por tipo de processo em kg/h, existem equipamentos que trituram desde 10 kg/h até 10 ton/h.
Em processos pós-industriais, in-line, são muito utilizados:
• Pequenos equipamentos de 10 kg/h – moagem de canais de injeção plástica;
• Equipamentos de 200-300 kg/h – sopro / injeção;
• Equipamentos de 800 kg/h – produção de peças automotivas.
Em processos centralizados para reciclagem pós-consumo:
• A Tria trabalha com produtividades em torno de 3 ton/h em períodos contínuos de 6 dias por semana (20 horas por dia).
Fonte: Tria Plastics.
Transformação
No que o material triturado será transformado depende muito da aplicação desejada. “No ramo plástico, o mais comum são clientes que reaproveitam o material moído a fim de transformar a chamada perda, que significa o material a ser moído, em uma nova peça, não desperdiçando matéria-prima” – aponta Cerri, da Rone Moinhos.
A empresa atende outros diversos ramos da indústria. “Alguns clientes trituram o plástico ou qualquer outro material, com exceção de metal ferroso, com o objetivo de diminuir o espaço físico que o produto ocupa, reduzindo também o valor do frete, seja para descarte, seja para encaminhar ao comprador do material” – ilustra Cerri.
Enquanto os fios elétricos, geralmente, retornam para a indústria em forma de matéria-prima para fundições. “Esse material tem a condição de voltar a ser cobre ou mesmo liga para outros metais” – cita Ferreira, da EcoRobust.
Os materiais moídos / triturados seguem para reúso por tipo de processo. “Pós-industriais, são misturados no material virgem e reaproveitados no próprio processo. Pós-consumo, o material recuperado pode ser vendido moído ou seguir para regranulação (extrusão), onde é agregado valor e será vendido por um preço mais alto que o material moído” – define Lavignati, da Tria Plastics.
No que serão transformados dependerá de cada tipo de termoplástico (PP/PE/ Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS)/Poliamida (PA)/PET etc.) e de cada tipo de processo. “Os materiais termoplásticos recuperados podem ser usados em quase todas as aplicações onde são utilizadas as resinas virgens” – diz.
Custo e mercado
O custo das máquinas de triturar varia muito de acordo com o processo que o cliente utilize e a capacidade de seu sistema. “Por mais automatizado que seja o equipamento, ele necessita também de um operador e um mecânico para fazer a manutenção preventiva a fim de conservar a produtividade da máquina” – afirma Cerri, da Rone Moinhos.
Vale a pena investir em máquinas de triturar para fios elétricos. “O custo de triturar fios elétricos gira em torno de R$ 1,5/kg a R$ 2,50/kg. A venda do material separado traz um lucro de mais de 80%. A economia circular se fortalece por se tratar do último ciclo dos fios elétricos no mercado” – destaca Wallyson Ferreira, da EcoRobust.
O custo das fragmentadoras de papel é relativo à aquisição da máquina:
• Modelos de pequeno porte custam, em média, R$ 1.000,00 para poucas folhas e baixa demanda;
• Modelos de médio porte estão na faixa dos R$ 2.500,00 a R$ 5.000,00;
• Máquinas grandes têm maior variação de preço pela demanda que podem atender. O modelo mais em conta custa R$ 7.000,00;
• Máquinas de altíssimo desempenho chegam a passar dos R$ 50.000,00.
Fonte: Triturare.
No caso do plástico, não é possível mensurar um custo médio, porque cada processo tem um custo específico. “Nos processos pós-consumos, não existem políticas ou incentivos para a montagem das linhas nem educação sobre a importância do plástico, quão fácil é sua reciclagem e quanto é menor o custo de se reciclar plásticos comparado a vidros, papel etc.” – avalia Lavignati, da Tria Plastics.
Contato das empresas
EcoRobust: www.ecorobust.com.br
Rone Moinhos: www.rone.com.br
Tria Plastics: www.triaplastics.com
Triturare: www.triturare.com.br