Economia circular, desenvolvimento econômico com uso de recursos naturais
Por Patrícia Simon Mattos
Edição Nº 119 - Novembro/Dezembro 2022 - Ano 21
Buscar eficiência e lucratividade é o binômio que é a meta de todo e qualquer empreendimento. Para isso, é fundamental alcançar elevado nível econômico e um melhor uso de recursos naturais, alcançando um padrão de investimentos que representem novos
Buscar eficiência e lucratividade é o binômio que é a meta de todo e qualquer empreendimento. Para isso, é fundamental alcançar elevado nível econômico e um melhor uso de recursos naturais, alcançando um padrão de investimentos que representem novos modelos de negócios e de otimização de resultados nos processos de fabricação.
A equação prática foi descoberta: menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis, e acelerado crescimento.
Modernamente, é a chamada economia circular
É um projeto de adição e retenção de valor dos recursos e regeneração do meio ambiente, que objetiva produzir sem esgotar os recursos naturais e sem poluir o meio ambiente. Ou seja, preserva a natureza.
A Organização Internacional de Normalização (ISO) está pesquisando para encontrar uma denominação diferente para a economia circular. Segundo ela, a melhor definição é que é um “sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”. Ou seja, a grande meta de todos os países, na busca de pensar a longo prazo para salvar o planeta de uma catástrofe talvez irreversível.
Nesta matéria, procuramos saber, na essência, como o Brasil acompanha o desenvolvimento dessa tecnologia, informando como trabalham e que outros caminhos tecnológicos e estruturais pretendem seguir para alcançar as metas propostas.
Parker avança em tecnologia
Uma das mais importantes empresas do setor, situada em São José dos Campos, no interior do estado de São Paulo, a Parker Hannifin Indústria e Comércio Ltda., fez uma análise completa do que ocorre no segmento relacionado com a economia circular.
Para José Augusto da Silva Moraes, gerente geral da Divisão Filtração, “a economia circular é vital para o futuro do nosso planeta e todas as empresas deveriam inserir o tema nas suas estratégias de negócios, traçando objetivos e planos de ação prioritários”.
A Parker tem dentro de sua estratégia de negócio (The Win Strategy) a iniciativa de ESP (Environmental, Social and Governance), que define metas, ações e controles para que possa atingir seus objetivos para o futuro e permita também contribuir para a proteção do meio ambiente “e das pessoas”.
Os maiores desafios que uma empresa enfrenta são longas distâncias, impostos, falta de mão de obra especializada em um segmento tão novo, falta de matéria prima e de resíduos.
Moraes explica: “Todos sabemos que nossos recursos naturais são finitos, que o clima do planeta está mudando drasticamente, gerando interferência em todo o ecossistema, o que é falta de uma definição da matriz energética do nosso país. Com isso, há uma falta de incentivo público na evolução da indústria 4.0 e na economia circular, assim a Parker está evoluindo independente de incentivos externos e sim pelo empenho e valores dos nossos colaboradores e líderes”.
Os benefícios sociais advindos dessas ações são inúmeros. “Diminuição do impacto no ecossistema, diminuição dos custos, aumento da produtividade, melhoria na qualidade de vida e atende aos anseios da sociedade, o reaproveitamento dos recursos naturais”, diz Moraes.
Um aspecto de grande relevância é quando ele fala de sua apreensão quanto ao futuro. “A indústria dependerá muito da economia circular. Se as empresas não colocarem esse tema em suas estratégias de negócio, provavelmente irão perecer”.
Outro aspecto grave a considerar são as políticas públicas. Para o gerente geral, não temos uma definição da matriz energética do nosso país para o futuro, não há políticas governamentais que incentivem as empresas para irem de encontro a isso. Precisaremos, afirma ele, cada vez mais cobrar dos nossos representantes que esse tema faça parte da agenda.
Paralelamente - continua -, há a considerar as nossas condições climáticas que tem afetado e afetarão cada vez mais o nosso sistema, pois estão se repetindo muito os casos naturais de variações do clima. Plantações são afetadas e há escassez de alguns recursos naturais em algumas regiões.
As empresas precisam se adequar e buscar a estratégia ideal para evoluírem. A Parker faz “controles internos e com verificação mensal de nossas métricas. Também utilizamos alguns sistemas caseiros e contratamos empresas especializadas para fazerem a medição de controles que não conseguimos efetuar internamente”. Todas as estratégias juntas de ESG/Economia Circular representam economia entre 1 e 5%, revela Moraes.
Prolab
Outra empresa de destaque no país, a Prolab Ambiental Ltda., da cidade de Cotia, São Paulo, abordou o tema com considerações de seu diretor Antonio de Oliveira Siqueira, expostas a seguir:
O pensamento e desenvolvimento do conceito de economia circular se apresenta em contraposição ao modelo econômico linear (produção-consumo-descarte), um padrão que produz uma pressão desproporcional na natureza e maior para as populações mais vulneráveis. A economia circular associa o crescimento econômico a um ciclo de desenvolvimento positivo continuado, que poupa e aprimora o capital natural, otimiza a extração e produção de recursos, além de minimizar riscos sistêmicos, com a administração de estoques finitos e fluxos renováveis.
O primeiro degrau para a transição do modelo linear para o círculo acontecer por meio de uma apurada análise das oportunidades de inovação nos modelos de negócios das corporações, aumentando as oportunidades de criação de processos mais eficientes para produção, comercialização e prestação de serviços, expandindo a proposição de valor, capturando valores perdidos e não percebidos por todas as partes interessadas.
São três os princípios da economia circular:
1. Preservação e aprimoramento do capital natural, com a restauração e regeneração dos recursos naturais;
2. Maximização do rendimento de recursos, produzindo a redução de desperdícios e potencializando a circularidade dos recursos;
3. Estimular a efetividade do sistema, gerando impactos positivos para os skateholders, as partes interessadas.
De maneira geral, não há motivos para acreditar que há alguma panacéia ou processo milagroso que resolva de modo concreto os problemas que envolvem a sustentabilidade.
Há sim um conjunto de ações que podem produzir efeitos importantes quando aplicados de maneira planejada e de modo cooperativo entre os vários atores da sociedade.
Ainda assim, se fosse pensar em algum modo de solucionar o problema, a educação e o fomento de virtudes podem produzir os melhores efeitos no longo prazo, haja vista que a causa raiz dos impactos ambientais e sociais são as ações humanas que, por conta de negligência, imprudência e imperícia, produzem os efeitos observados há um tempo bem expressivo.
Serviços Ambientais
A Prolab é empresa de prestação de serviços ambientais, cujo objetivo principal é produzir segurança no manuseio de resíduos, materiais recicláveis e produtos inservíveis, garantindo que todos esses materiais sejam gerenciados da maneira mais sustentável e segura.
Como estratégias, indicamos a priorização de oferta de tratamentos que produzem o reaproveitamento energético e menor parcela possível destinada aos aterros sanitários.
Adicionalmente, propõe soluções economicamente viáveis por meio da compensação tributária das perdas produtivas vias dedução da base de cálculo para a apuração de imposto de renda e contribuição social.
Nossa busca é constante por soluções para as questões ambientais relacionadas aos resíduos, onde destacamos a logística reversa, o desenvolvimento de equipamentos e dispositivos para o pré-tratamento desses materiais, a inovação em processos de gestão para fins de agilização e diminuição da pegada de carbono e outros.
Temos como premissa a inclusão de determinados projetos em parceria com ONGs e Cooperativas, considerando a vulnerabilidade desses atores e necessidade de apoio.
Problemas sérios para a indústria estão na capacitação humana, desenvolver pessoas com conhecimento, inteligência e muita vontade para superar essas dificuldades.
Os benefícios sociais são muitos; quando as pessoas tomam contato, há um grande conjunto de aspectos positivos, como segue:
• Redução na quantidade de resíduos depositados em aterros, apesar de os aterros sanitários serem tecnicamente adequados, ao longo do tempo eles apresentam limites de capacidade e não resolvem a questão do encaminhamento de resíduos, evitando a geração de material para descarte, reduzindo ao máximo o impacto gerado sobre o meio ambiente;
• Redução de preços para o consumidor ou aumento da rentabilidade para as empresas, gerando uma grande possibilidade de ciclo virtuoso na sociedade;
• Eliminação de riscos legais: considerando que os aterros não são forma de tratamento, mas de destinação final de resíduos, legalmente a responsabilidade do gerador permanece, pois o passivo ambiental continuará existindo;
• Diminuição dos impactos ambientais: por meio dessa política, a empresa passa a ter uma visão mais crítica do processo de geração e gerenciamento dos resíduos, produzindo efeitos com a sua diminuição e reaproveitamento em outro ciclo produtivo. Potencialmente, promove os fundamentos no conceito de gestão denominado “5 Rs”, inspirado nos ciclos da natureza: Repensar, Recusar. Reduzir, Reutilizar, Reciclar;
• Benefícios socioambientais: considerando que a gestão dos resíduos por meio da segregação de materiais reciclados pode ser encaminhada por cooperativas de catadores, ela pode gerar renda para os trabalhadores;
• Efeito cascata: com a implantação e implementação de política, a empresa precisará rever métodos, processos e comportamentos, de modo que pessoas serão afetadas positivamente, gerando atitudes ambientais positivas em sua rotina de vida, servindo de exemplo para outros;
• Conservação e recuperação de recursos naturais: especialmente com a reutilização e economia circular, a pressão pela extração de matérias primas fica diminuída, reduzindo a necessidade de recursos naturais dos ecossistemas;
• Redução de custos com destinação, equipamento e pessoal: repensar processos, recusar medidas com potencial gerador de grande volume de descarte e reduzir consumo, possibilitam a mitigação dos custos com gestão e tratamento de resíduos, favorecendo a diminuição de investimentos com equipamento e força de trabalho para o cuidado com essa área;
• Incentivo ao consumo de produtos e serviços com o conceito economia circular: com essa política a corporação oferece bom exemplo para a sociedade, incentivando o consumo baseado na ponderação e na consciência ambiental. Otimização do processo de resíduos: o gerenciamento é otimizado com a adoção de uma política mais enxuta. Evita-se criar um processo e um ciclo produtivo que tenham grande potencial de geração de resíduos;
• Redução nos riscos de acidentes e contaminações: considerando todas as condições estabelecidas, um dos efeitos é a redução de materiais tóxicos e contaminantes no processo produtivo. A idéia é encontrar recursos mais viáveis e sustentáveis na composição do fluxo de operações;
• Aumento da avaliação no mercado: a corporação melhora sua reputação e credibilidade diante do mercado, com a demonstração de sua responsabilidade socioambiental e diminuição dos riscos legais;
• Diminuição da pegada de carbono: havendo diminuição da quantidade de resíduos e o desvio do aterro, a pegada de carbono será diminuída pela menor pressão dos efeitos com o transporte e menor ocorrência de metanogênese;
• Geração do fator exemplo: com o sucesso da disseminação do processo, as possibilidades de mimetismo da concorrência das demais empresas crescem significativamente.
Mas o futuro da indústria não depende exclusivamente da economia circular. Está fundamentado na gestão de pessoas, pois elas poderão pensar nas melhores saídas para qualquer problema, porque a solução não é fatorial, mas multifatorial.
Quanto às políticas públicas, podem até melhorar, mas não suprirão as nossas necessidades. As empresas precisam tomar a iniciativa no que estiver ao seu alcance, dentro do “máximo possível”, afastando o conceito de “mínimo indispensável”, como afirmou Arleen Lorrance: “Seja a mudança que você quer ver acontecer”.
O sistema pode também ser afetado pelas condições climáticas, mas de modo menos perceptível, porém devendo ser tratado como fator importante de ordem macro, levando em conta que nossas ações precisam ser tratadas no modo micro. Os problemas globais devem ser tratados de modo local, onde temos mais possibilidade de controle.
Por fim, a Prolab Ambiental destaca que a economia circular representa hoje uma parcela importante nas questões econômicas das empresas envolvidas, pois para a geradora de rejeito, além de deixar de gastar com o tratamento/destinação final, pode ainda obter alguma receita.
Ao abordar o tema, a nossa revista trouxe para o mercado informações altamente qualificadas apresentadas pelas empresas Parker Hannifin Indústria e Comércio Ltda. e Prolab Ambiental Ltda., sobre aspectos fundamentais que envolvem a conceituação dessa nova realidade empresarial, a economia circular.
Contato das empresas
Parker: www.parker.com
Prolab: www.prolab.eco.br