O mercado de papel e celulose e suas tecnologias
Por Carla Legner
Edição Nº 121 - Março/Abril 2023 - Ano 21
A celulose é um produto florestal essencial para vários setores do mercado e presente em diversos produtos utilizados diariamente, como nas embalagens, caixas de sapato, produtos de higiene pessoal, sacos de cimento, máscaras cirúrgicas
A celulose é um produto florestal essencial para vários setores do mercado e presente em diversos produtos utilizados diariamente, como nas embalagens, caixas de sapato, produtos de higiene pessoal, sacos de cimento, máscaras cirúrgicas, enchimento de comprimidos, etc. Também serve de matéria-prima para fabricação e comercialização de papéis, fraldas, absorventes, tecidos e outros itens.
O território brasileiro conta uma grande área florestal. O Eucalipto e o Pinus são as madeiras mais utilizadas na fabricação da celulose, que começa com o plantio das árvores, cultivadas especificamente para isto. Quando essas plantas atingem o tamanho ideal é realizada a colheita e o corte da madeira que será descascada.
Todas as partes das árvores, após esse processo, são reaproveitadas. As sobras, inclusive, são deixadas no local para serem utilizadas como adubo orgânico, desta forma, a fibra celulósica pode ser considerada um produto renovável e sustentável.
Estamos falando de um mercado bastante promissor, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking dos países produtores de celulose e é o maior exportador globalmente dessa matéria-prima.
Com relação ao papel, em 2019, o segmento representava 1,3% do PIB nacional. Atualmente, de acordo com o relatório anual do IBÁ, o país é o 10.º maior produtor do mundo. Segundo Fernando Scucuglia, diretor de celulose e energia da Valmet, a maior produção é destinada à produção de papéis de impressão (21,7%), tissue (3,7%) e papel cartão (2,6%).
“Dois fatores ajudam o país no setor: condições climáticas favoráveis e baixo custo da produção. O Brasil possui 7,84 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e outras espécies. A celulose de fibra curta vem das florestas de eucalipto, já a celulose de fibra longa sai das áreas de pinus. No Brasil, 85% da produção de celulose é de fibra curta” – ressalta Fernando Scucuglia.
É importante destacar que o setor é formado por grandes players, mas também conta com fábricas de papel, convertedores e fabricantes de papelão, além de fornecedores, que são principalmente empresas químicas. Como se trata de uma cadeia muito grande, qualquer avanço na otimização do processo, gerando ganho de produtividade ou na qualidade do produto final, impacta em resultados consideráveis na produção total.
No setor alimentício, por exemplo, há desde caixas que os frigoríficos usam para transportar seus produtos ao saquinho de pão da padaria, além do papel para as sacolinhas das lojas de varejo dos shoppings e sacos utilizados no delivery.
As grandes redes de vestuário, até recentemente, usavam sacolinhas de plástico para o consumidor levar suas compras, mas nos últimos anos, houve a migração para as embalagens de papel, que são muito mais sustentáveis e têm melhor qualidade.
E falando de embalagens, o mercado brasileiro desse segmento movimenta R$ 110 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira de Embalagens (Abre). Desse total, 31% já são embalagens sustentáveis. “O setor cumpre um importante papel na sociedade no sentido de viabilizar o abastecimento da população de forma eficiente e segura” – afirma Henrique Zugman, diretor de negócios Papel e Florestal da Irani.
E nesse contexto, mesmo com o aumento da digitalização de produtos, serviços e documentos, a indústria de papel e celulose continua sendo estratégica para a economia brasileira, representando investimentos, geração de empregos, renda e arrecadação de tributos.
E-commerce e a sustentabilidade
Diversos fatores indicam um grande potencial de crescimento no segmento de embalagens, mas é possivel detacar dois deles. O primeiro é o comércio eletrônico, onde boa parte dos receios com esse modelo de compras se desfez ao longo da pandemia, agora é uma rotina na vida dos consumidores. Segundo Zugman, essa é mudança veio para ficar e beneficia diretamente o setor de papel e de embalagens de papelão, amplamente utilizadas para entregas de e-commerce.
A outra tendência é a questão ambiental. O mercado de papel e celulose é impulsionado por produtos de alta qualidade em suas aplicações, custo competitivo e sustentabilidade. O processo de fabricação de celulose no Brasil é reconhecido pelas melhores práticas de manejo florestal. Vale destacar que o país é um dos países que mais recicla papel no mundo.
E mesmo com os processos digitalizados, os produtos ainda precisam ser transportados, guardados e acondicionados. E nesse caso falamos desde demandas de uma grande indústria ao pequeno varejo, assim, é evidente que o mercado de embalagens de papel ainda se intensificará muito nos próximos anos, em diferentes segmentos.
“O crescimento do delivery/e-commerce estimula diversos negócios e setores no fornecimento desses itens. E cada vez mais empresas e consumidores buscam insumos, em geral, nos quais a matéria-prima seja reciclável, e o setor de papel e celulose é um dos mais sustentáveis e que tende a ser ainda mais amplamente utilizado” - enfatiza Zugman.
Em termos de processos industriais, o circuito é bem fechado, com aproveitamento dos principais fluxos internos de processo. O consumo de água para fabricação de celulose, assim como a geração e efluentes, tem diminuído significativamente ao longo dos últimos anos, por meio do desenvolvimento de equipamentos e processos mais eficientes em termos ambientais.
O impacto das emissões gasosas também tem sido reduzido através de sistemas de abatimento de alta eficiência e aproveitamento desses fluxos para fabricação de outros subprodutos, tais como metanol e ácido sulfúrico. Já está em operação no Brasil uma unidade industrial “fóssil fuel free”, o que significa que não consome nenhum tipo de combustível fóssil, o que é um marco para o setor.
Além disso, as empresas da área têm apresentado à sociedade programas de responsabilidade social consistentes com as demandas regionais em que estão inseridas, causando transformações significativas e positivas nas comunidades em seu entorno, melhorando a qualidade de vida e a expectativa de crescimento econômico de milhares de pessoas.
Os produtores de celulose e papel, assim como os fornecedores de tecnologia, têm um pipeline constante de projetos inovadores, buscando sempre a melhoria da qualidade dos produtos, redução de custos e impactos ambientais.
A digitalização de produtos e serviços é uma demanda natural de uma sociedade moderna, conectada e urbana, com isso, houve uma redução grande no consumo de certos tipos de papéis, como os de imprimir e escrever, jornais e revistas, etc. Por outro lado, essa mesma sociedade vem desenvolvendo hábitos de consumo em que as embalagens e os papéis sanitários têm protagonismo.
“Durante a pandemia vimos um aumento muito grande das compras via e-commerce, inclusive de alimentos por aplicativos que necessitam de embalagens para serem transportados. O mesmo podemos dizer de outras aplicações sanitárias como lenços umedecidos, fraldas e guardanapos” – explica Scucuglia. Nesse sentido, na verdade, a indústria de papel e celulose não é só estratégica para o Brasil, e sim para o mundo.
Potencial de mercado e novas tecnologias
Alinhadas às tendências emergentes, as áreas de pesquisa e desenvolvimento do setor têm buscado soluções inovadoras. Em um mundo hiperconectado, consciente e com consumidores cada vez mais influentes nos rumos das economias e empresas, não é difícil prever que as fibras celulósicas irão expandir suas aplicações de uma maneira e velocidade que nunca vimos antes.
A substituição de algumas aplicações em que se utilizam plástico, como copos descartáveis, garrafas pets, embalagens, etc., e a substituição de fibras para fabricação de tecidos e outras aplicações na indústria farmacêutica já são uma realidade e os principais players do setor estão muito focados em realizar essa transformação.
Segundo Scucuglia, as perspectivas para os próximos anos são as melhores possíveis e a inovação é parte integrante das atividades dos principais produtores e seus parceiros tecnológicos. “Para o futuro do mercado de celulose, as projeções do agronegócio divulgadas pelo Ministério da Agricultura indicam que, no período de 2021 a 2031, o setor terá um crescimento anual médio de 2,4%, totalizando um aumento de 27,6% ao final do período projetado, saindo de 21.843 mil toneladas em 2021 para 26.597 mil toneladas em 2031” – enfatiza.
Nesse sentido, os principais avanços do setor têm relação com a inovação e com a sustentabilidade. De acordo com Zugman, recentemente, a empresa desenvolveu um papel resistente a vazamentos e condições climáticas adversas, o que ainda era uma barreira neste tipo de produto. Importante destacar que, assim como o papel, o insumo utilizado para permitir essa resistência também usa matéria-prima papel, portanto também biodegradável e reciclável.
A maior utilização de sacos e sacolas de papel tem sua demanda elevada no varejo de forma crescente, o que nos permite prever boas perspectivas de expansão de negócios no setor. A questão sustentável também ganha cada vez mais força, com desenvolvimento de novos produtos, a partir de pesquisas e tendências, se tornando indispensável para o futuro.
“Cabe destacar, ainda, que pesquisas vêm sendo intensificadas pelo setor para a produção de novos papéis e embalagens sustentáveis, e para o aprimoramento daqueles já existentes. Entre as principais linhas de estudo nas indústrias de papel e embalagem está o desenvolvimento de novas barreiras eficientes contra água, vapor, odor e óleo, entre outras, a fim de ampliar o uso do papel para embalagem no mercado” – afirma o diretor da Irani.
Outro avanço importante é a criação de opções mais seguras para os consumidores. A Irani colocou no mercado brasileiro o primeiro papel e embalagem de papel com tecnologia antifúngica, antibacteriana e antiviral do país.
A novidade, aplicada no papel utilizado na produção de caixas e chapas de papelão ondulado e ainda disponível em bobinas de papel (linha BagKraft), tem como objetivo garantir a biossegurança da embalagem, oferecendo higiene, saúde e proteção às pessoas que a manuseiam.
A solução foi desenvolvida pela área de pesquisa, desenvolvimento e Inovação da Irani em parceria com a Nanox Tecnologia, empresa especializada em materiais inteligentes, nanotecnologia e antimicrobianos. “Foram realizados muitos estudos e diversos testes por um período de aproximadamente um ano, até que a solução fosse apresentada de forma inédita ao mercado brasileiro” – afirma Zugman.
O fato é que, esses padrões de consumo vieram para ficar e vão impulsionar a economia mundial e doméstica nos próximos anos. Em conexão com essa demanda crescente, temos a força da indústria de papel e celulose brasileira, caracterizada pelo custo competitivo, qualidade do produto e sustentabilidade das operações. Sendo assim, segundo Scucuglia, é possível dizer que a fabricação de fibras celulósicas produzidas no Brasil é o “estado da arte” em termos de qualidade, custo competitivo e práticas sustentáveis.
Contato das empresas
Irani: www.irani.com.br
Valmet: www.valmet.com