Com projeção internacional, Fenasan aponta prioridades em inovação e científico-tecnológico no Brasil
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 125 - Novembro/Dezembro 2023 - Ano 22
Com recorde de público, expositores e trabalhos técnicos, o 34º Encontro Técnico AESabesp/Fenasan 2023 – Congresso e Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente teve diversas atrações com foco em disseminar a Cultura da Sustentabilidade
Com recorde de público, expositores e trabalhos técnicos, o 34º Encontro Técnico AESabesp/Fenasan 2023 – Congresso e Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente teve diversas atrações com foco em disseminar a Cultura da Sustentabilidade, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e a ESG (Ambiental, Social e Governança). Promovido pela Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESabesp), com cocoordenação da Associação dos Especialistas em Saneamento (Aesan), o evento ocorreu entre 3 e 5 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
O espaço da Fenasan foi ampliado e integrado à Waste Expo Brasil, feira voltada a serviços, máquinas e equipamentos para a gestão dos resíduos sólidos, totalizando 36 mil m² de área de exposição. Estiveram presentes mais de 21 mil visitantes e 280 empresas de diversos países. O Encontro Técnico recebeu 1.500 congressistas, com profissionais da Alemanha, Colômbia, Peru e Vietnã, entre outros. “O evento é um grande ponto de encontro do saneamento na América Latina e pólo de negócios, networking, promoção de tecnologia e inovação” – enfatiza Helieder Zanelli, diretor de Inovações da AESabesp e da Fenasan.
O “Saneamento Ambiental na Globalização do Desenvolvimento Sustentável” foi a diretriz desta edição, que trouxe, na programação, temas universais em pauta nas principais empresas, entidades e profissionais do setor: avanços do saneamento ambiental após o Novo Marco Legal, ESG, gestão da emissão de gases de efeito estufa, drenagem, resíduos sólidos, gestão de ativos e transformação digital, entre outros.
Foram apresentados 400 trabalhos com alto nível técnico. “Tivemos mesas e painéis com alguns dos maiores especialistas do País, salas lotadas e muita interação do público. A atualidade dos temas e o caráter propositivo das discussões foram destaque” – relata Agostinho Geraldes, diretor do Encontro Técnico.
Ainda comemorando o êxito de 2023 e já começando a planejar a edição de 2024. “A Diretoria da AESabesp e a Comissão, formadas por voluntários, se empenham para realizar edições cada vez melhores. Contamos com a atuação conjunta e intensa de funcionários, colaboradores e prestadores de serviços” – afirma Olavo Sachs, presidente da Comissão Organizadora, destacando o trabalho integrado para o sucesso do evento.
O crescimento contínuo do Encontro Técnico e da Fenasan reflete a trajetória da AESabesp de compartilhar conhecimento, tecnologia e inovação. “A associação trabalha em consonância com os temas mundiais e pela promoção da Cultura da Sustentabilidade, reunindo corpo técnico de alto nível. Todos são parte deste sucesso” – afirma Luciomar Werneck, presidente da AESabesp.
ODS e ESG
Nesta edição, foi lançado o Selo Sustentável, que reconhece as empresas expositoras que atendem aos requisitos definidos pela AESabesp, os conceitos de ESG e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A Associação apresentou também duas grandes iniciativas de projetos culturais, educativos e profissionalizantes alinhados aos conceitos de ESG e aos ODS 6 e 11 sobre água e saneamento e cidades e comunidades sustentáveis:
• A Escola Nacional de Saneamento (Enasan) que oferece capacitações de engenharia e fortalece o profissional do setor que atua nas necessidades das eficiências técnicas;
• O Instituto Água, com atividades socioambientais e educativas, cuja concepção integra o Museu Água de São Paulo, iniciativa da AESabesp para estimular a população a conhecer a história do saneamento e a importância da água e do meio ambiente.
Crédito de carbono
Para compensar o consumo de energia, água e resíduos gerados nos três dias do evento, a SMARTie Carbon neutralizou a pegada de carbono com créditos de carbono das Unidades de Valorização Sustentáveis (UVSs), parques multitecnológicos de tratamento e valorização sustentável de resíduos residenciais, comerciais e industriais, do Grupo Solví. Os créditos das UVSs, comercializados pelo SMARTie Carbon, visam mitigar os impactos das mudanças climáticas com cobenefícios socioambientais à sociedade, nova dimensão de ESG.
Setor privado avança
A mesa redonda “Avanços do saneamento ambiental após o Novo Marco Legal” trouxe um balanço do que já foi feito e o que está em andamento no saneamento. Segundo Hilton Oliveira, da Comissão Organizadora do evento, a mesa debateu as melhorias e deficiências na prestação dos serviços, mostrando experiências de empresas públicas e privadas após o Novo Marco Regulatório, Lei 14.026/2020, que sofreu alterações com os Decretos 11.466 e 11.467 de 2023.
A palestra “Panorama da Participação Privada no Saneamento 2023 – A Década do Saneamento”, apresentada por Ilana Figueiredo, superintendente técnica da Associação das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon/Sindcon), trouxe uma visão do setor em três etapas:
• A primeira, o que aconteceu nos últimos 10 anos;
• A segunda, os ganhos recentes com a atualização da lei;
• A terceira parte, o olhar para o futuro do saneamento.
A executiva mencionou os leilões realizados, os investimentos contratados entre 2020 e 2023 e demonstrou como o atendimento do setor privado evoluiu em todo o Brasil. “Hoje, 24% da população brasileira é atendida pelo operador privado” – declarou Ilana, que mostrou a projeção do setor privado para a universalização no atual ritmo de investimentos. “Nossa estimativa, com base em 43 projetos, é de R$ 61 bilhões previstos em parcerias com o setor privado, beneficiando 32 milhões de pessoas”, relatou.
Foi indicado onde o setor precisa evoluir. “É importante considerar as peculiaridades do setor, que é extremamente complexo. Essa complexidade é subestimada e sujeita a simplificações. Medir os resultados, os avanços, não é simples. Existem indicadores que não traduzem o real atendimento. O setor exige um esforço de regulação muito grande” – salientou Alceu Bittencourt, presidente da Associação Nacional de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).
Cíntia Araújo, superintendente de Regulação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), destacou que o saneamento básico se divide em quatro pilares: metas claras, atração de capital, economia de escala e harmonia regulatória. “Diante de tudo que tem sido feito, fica clara a importância de se discutir a regulação. Realmente, se não tivermos vários reguladores bem estruturados, não vamos avançar. Precisamos de monitoramento para que os projetos sejam bem-sucedidos e temos trabalhado muito nesse sentido” – enfatizou.
A harmonização da regulação é fundamental. “Se não houver avanços na regulação, não vamos avançar na universalização. Precisamos de mais informações no setor de saneamento. O Congresso da AESabesp é excelente por produzir trabalhos técnicos e conteúdos relevantes para quem atua no setor. Precisamos de muitos comparativos. É com base nesse arcabouço informativo que construímos as normas e avaliamos como estamos avançando” – esclareceu Cíntia.
Produção do Brasil
Especialistas do setor discutiram métodos inovadores para reduzir perdas de água no abastecimento público. Foram apresentados cases bem-sucedidos em gestão de perdas tanto em municípios com Administração Pública quanto Privada, além das tecnologias disponíveis hoje.
Paulo Massato, consultor especialista em saneamento, fez uma retrospectiva de como a tecnologia e os diagnósticos de perdas evoluíram nas últimas décadas na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “Houve um grande ganho. A Sabesp possibilitou aprendizado na experimentação e aplicação de novas tecnologias para reduzir perdas. Desde o método rudimentar de preencher planilhas até os modernos hidrômetros e tecnologias que detectam perdas na rede por meio de algoritmos. Entretanto, ainda perdemos uma represa Guarapiranga cheia por ano em São Paulo, por furtos ou problemas do sistema. O Japão levou 50 anos para chegar de 3% a 5% de perdas. Há muito ainda a ser feito” – relatou Massato.
Gabriel Buim, diretor-executivo da Águas Guariroba, apresentou o case de Campo Grande/MS, a concessão mais antiga da Aegea Saneamento, que implantou diversos processos e tecnologia e conseguiu resultados consistentes. “Saímos de 56% para 19% de perdas” – afirmou.
Victor Arroyo, diretor para a América Latina da Isle, apresentou um trabalho realizado para uma entidade do governo do Reino Unido.
Foram identificadas 280 tecnologias disponíveis para a gestão de perdas, desde localizar, prevenir e reparar.
Arroyo demonstrou disparidade nos diversos países analisados quanto a:
Produção de Conhecimento Científico (Pesquisas)
X
Efetivo Desenvolvimento de Tecnologias Aplicáveis no Mercado
Exemplos:
• Nos Estados Unidos, o desenvolvimento tecnológico acompanha de perto a produção acadêmica;
• Enquanto a China dispõe de grande produção científica, mas quase não tem tecnologias desenvolvidas;
• O Brasil aparece no estudo com pouca produção em ambos os aspectos.
Inovação
Painel mostrou os resultados do estudo realizado sobre as percepções de especialistas e sanitaristas das prioridades de inovação no setor de saneamento no Brasil para os próximos anos. Iniciativa do Fórum de Gestão do Conhecimento e Inovação em Saneamento, o estudo, composto por empresas públicas, privadas e de economia mista e associações do setor, foi coordenado por Márcia Aires, diretora de Relações com o Setor de Saneamento da SBGC.
A Coordenadora de Inovação Corporativa da SBGC, Denise Pithan, apresentou a pesquisa/sondagem exploratória. Klaus Paz, gestor de Inovação na Aegea Saneamento, apontou os 10 temas prioritários que necessitam de inovações. Entre os destaques, tratamento de água e esgoto, distribuição e coleta, eficiência energética e recursos hídricos. “A busca por eficiência e implantação de inovações não se faz somente com tecnologia. A influência das pessoas nesses processos também é essencial” – ressaltou Klaus Paz.