O segmento de Nãotecidos vem se consolidando bastante no Brasil. Nos últimos cinco anos, o setor investiu mais de R$500 milhões em aumento de capacidade instalada. Além disso, anualmente, são investidos cerca de US$15 milhões em atualizações, reposições e manutenção de máquinas e equipamentos de grande porte e alta tecnologia.  
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (ABINT), estima-se que em 2022 foram produzidas 387 mil toneladas desse material no Brasil.  É um segmento de capital intensivo e responsável por cerca de 18.000 empregos diretos. 
Mas o que de fato são os Nãotecidos? Conforme a norma NBR-13370, trata-se uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu ou manta de fibras ou filamentos, orientados direcionalmente ou ao acaso, consolidados por processos mecânicos, químicos, térmicos ou combinações destes.
O termo, do inglês nonwovens, foi criado para designar um amplo grupo de têxteis produzidos por métodos não convencionais, ou seja, o nome se dá pois durante a sua fabricação não passa por teares, o que o diferencia dos tecidos tradicionais. 
De acordo com Laerte Guião Maroni, conselheiro da ABINT, na maioria dos casos, as fibras/filamentos representam a principal matéria na fabricação desses itens. Sua proporção nos produtos finais varia de 30% a 100%. As fibras podem ser artificiais (viscose, vidro, silicone, acetato), naturais (lã, algodão como, sisal, cashmere, asbestos, metálicas e cerâmicas), sintéticas (poliéster, polipropileno, poliamida, polietileno, policarbonato, acrílica). 
Seu uso atende às mais exigentes necessidades do mercado. Isso é possível por causa de características como maciez, aspereza, ou sedosidade; flexibilidade ou dureza; absorção ou adsorção. Além disso, podem ser rígidos (travados) ou alongáveis (flexíveis); porosos, lisos ou compactados.
“Para conseguir essas propriedades, os Nãotecidos recebem alguns tipos de tratamento/acabamento, tais como: termofixação, resinagem, chamuscagem, corte na largura ou no comprimento, tingimento, estampagem, laminação, costuras, dublagem e outros”, destaca Marcio Luiz, gerente comercial/técnico da Ober. 

Nesse sentido, sua fabricação combina tecnologia de diversas indústrias, como a têxtil, a papeleira, de couro e de plástico. A primeira parte do processo é a Formação da manta (Web Forming), onde a mesma, ainda não consolidada, é formada por uma ou mais camadas de véus de fibras ou filamentos obtidas por três processos distintos: Via Seca (Dry Laid); Via carda/ cardagem (carded); e Via aérea/ fluxo de ar (air laid).
No processo Via Carda (Carded), as fibras são paralelizadas por cilindros recobertos por dentes penteadores formando mantas anizotrópicas, que podem ou não ser cruzadas em camadas. Já no processo Via Aérea/Fluxo de Ar, as fibras são suspensas em fluxo de ar e depois são coletadas numa tela formando uma manta. 
Por fim, no processo Via Úmida (Wet Laid), que também trabalha com matérias-primas na forma de fibras, estas são suspensas em meio aquoso e depois são coletadas através de filtração por um anteparo em forma de manta.
A segunda etapa é a Consolidação da manta (Web Bonding). Após a formação do véu é necessário realizar a união das fibras ou filamentos, que consiste de três métodos básicos que podem ser combinados entre si. O primeiro deles é o Mecânico (fricção).
Este pode ser por Agulhagem (needlepunched), onde as fibras ou filamentos são entrelaçados através da penetração alternada de muitas agulhas que possuem saliências / barbelas; Por Hidroentrelaçamento (spunlaced ou hidroentangled), no qual o entrelaçamento das fibras ou filamentos é feito pela penetração na manta de jatos d’água a altas pressões; ou por Costura (stichbonded), através da inserção de fios de costura na manta ou processo sem fios, que trabalha com as próprias fibras do nãotecido para realizar a costura.
O segundo método é o Químico (adesão), por resinagem (resin bonded), onde os ligantes químicos (resinas) realizam a união das fibras ou filamentos do Nãotecido. Por fim, temos o Térmico (coesão), que é o termoligado (thermobonded), no qual as ligações das fibras ou filamentos são realizadas pela ação de calor, através da fusão das próprias fibras ou filamentos. 
Assim, é importante destacar que os critérios para classificação desses itens são quanto à sua gramatura (leve, médio, pesado e muito pesado), à formação da manta (via seca, úmida e fundida), à consolidação dela (mecânico, químico e térmico) e, ainda, quanto aos acabamentos do material, às matérias-primas utilizadas e às propriedades das fribras/filamentos. 

Versatilidade de aplicações
O Nãotecido está presente no dia a dia e em quase todos os setores. São utilizados como  material para acabamento e insumos,  direto ou indireto, de produtos como fraldas, absorventes, lenços umedecidos, vestimenta de proteção hospitalar e para a indústria, automóveis, vestuário, construção civil, filtração e até mesmo produtos agrícolas. Esta diversidade se traduz em uma grande versatilidade de aplicações. 
No setor automotivo, por exemplo, podemos destacar carpetes, revestimento do porta-malas, capô, painel das portas e apoio de cabeça possuem essa matéria-prima. Na construção civil e geotécnica, podemos encontrá-la em geotêxteis para estabilização de solos e subsolos, contenção de encostas, reforço de concreto entre outras aplicações.
Por meio dos Substratos para laminado sintético, forros, palmilhas e estruturantes encontramos muito desse material nos calçados.  Neste setor, os não tecidos estão ligados ao bem estar. Em um sapato de couro, eles entram para isolar e manter o conforto. Já no tênis é utilizado como laminado para fazer o produto.

Podemos destacar ainda o mercado doméstico com produtos para Cama, mesa, banho, cobertores, embalagens e Wipers para limpeza. No Moveleiro seu uso é como estruturantes para estofados, colchões e antiderrapantes. Sem falar que ainda podem ser empregados sobre pisos, paredes, forros ou divisórias destinadas a feiras expositoras, shows, palcos, cenografia ou qualquer outro evento que necessite de um acabamento da superfície.
O fato é que em cada aplicação se destacam por seus benefícios sociais, econômicos e ambientais. Do ponto de vista social, produtos fabricados com Nãotecidos, como máscaras e roupas de proteção, exercem um papel fundamental na segurança de profissionais da saúde em ambientes hospitalares e da população em geral durante surtos pandêmicos ou em ambientes de risco. 
Absorventes femininos, por sua vez, contribuem para o acesso de mulheres à educação e ao mercado de trabalho. Por serem produzidos de forma mais eficiente que seus principais substitutos, contribuem para a redução do custo de fabricação de bens de consumo essenciais como fraldas infantis e para incontinência, tornando-os mais acessíveis para a população.
Do ponto de vista econômico, a indústria de Nãotecidos é altamente formalizada, gerando empregos de qualidade e contribuindo com o desenvolvimento das regiões onde está presente.
Eles também não ficam para trás do ponto de vista ambiental.  Diversas de suas aplicações estão relacionadas com a proteção do meio-ambiente, como nos casos de Produtos médicos descartáveis, que reduzem significativamente o consumo de água e uso de produtos químicos (posteriormente descartados no meio-ambiente) para a desinfecção de suas alternativas reutilizáveis.
Ainda podemos citar as Barreiras de adsorção, que ajudam a conter a contaminação do meio-ambiente em acidentes com derrame de óleo e outros químicos, e os Geotêxteis, utilizados na construção civil para evitar a contaminação do solo, como no caso de aterros sanitários, e também como proteção de encostas e barreiras.

Ademais, os processos produtivos utilizados na fabricação de Nãotecidos também têm se tornado cada vez mais eficientes, otimizando o consumo de materiais e minimizando a geração de resíduos. Algumas das principais empresas fabricantes no mundo e também no Brasil estão em processo ou já atingiram a marca de zero resíduo para aterro em diversas de suas fábricas. 
Ainda que atualmente existam Nãotecidos recicláveis, compostáveis e biodegradáveis, o seu fim de vida está intimamente ligado à aplicação (produto acabado). Apesar do grande debate em relação ao uso de produtos descartáveis, análises de ciclo de vida mostram, em diversos casos, que os seus impactos ambientais são inferiores ou semelhantes ao de suas alternativas reutilizáveis. 
Isso pode ser observado, por exemplo, no estudo de ciclo de vida de Nãotecidos destinados ao setor médico-hospitalar comissionado pela ABINT. Conclusão semelhante pode ser vista na análise realizada pela Lifecycle Initiative (da UNEP), onde os benefícios relacionados ao uso de fraldas reutilizáveis só podem ser observados em condições específicas de lavagem e secagem. 

“A crescente conscientização da população em relação ao impacto de seus hábitos de consumo para o planeta tem aumentado cada vez mais a pressão em relação às práticas sociais, ambientais e de governança das empresas. A indústria desse setor está comprometida em cumprir um papel consciente e responsável para a redução e possível eliminação dos seus impactos negativos e a expansão de seus impactos positivos na construção de uma sociedade verdadeiramente sustentável” - destaca Maroni.
Fica evidente que, pelas várias técnicas de fabricação e possibilidade de combinações dessas, os Nãotecidos são produtos extremamente versáteis em termos de desenvolvimento e inovação, o que resulta em uma infinidade de novas aplicações ou substituições de outros materiais. “Em constante crescimento, a utilização desses produtos na indústria tem se destacado pela sua versatilidade de aplicação, pelo seu custo-benefício comparado a outros têxteis e pela facilidade de obtenção” - afirma Marcio Luiz. 

NãoTecido na filtração
Os Nãotecidos se enquadram dentro dos têxteis gerais, porém na classificação específica de Têxteis Técnicos. Estes são produtos que necessitam de uma determinada performance para a aplicação a que se destina, como no caso da filtração. Para esse segmento são necessárias certas características de retenção de partículas, permeabilidade, resistência mecânica, resistência química e térmica, e outras específicas da aplicação em questão.
De acordo com Luiz, podem ser utilizados na Filtração Seca, que é a separação de particulados sólidos dos gases, como em filtros para ar e pó, e na Filtração Líquida, que é a separação dos particulados sólidos dos líquidos. Ele cita aplicações como meio filtrantes.
Filtração de ar:  HVAC – aquecimento industrial, ventilação e ar comprimido; Produtos domésticos – aspiradores, exaustores, etc; Salas limpas; Filtração de ar industrial; EPIs e outros. 
Filtração de líquidos: Alimentos e bebidas (leite, vinho, chá, etc); Farmacêutico; Médico hospitalar; Água; Hidráulica de propulsão; e Combustíveis.
Filtrações especiais: Antimicrobiano; Biofarmacêutico; Pó; Odor e outros
Filtração automotiva: Ar do motor; Cabine (ar condicionado); Combustível (álcool, gasolina e diesel); e Óleo lubrificante

“A aplicação na filtração tem se mostrado uma ótima opção, pois consegue reter partículas em seu interior formando uma camada filtrante subsequente, fazendo com que consiga alta eficiência de filtração” - enfatiza Luiz.
Ainda segundo ele, para esse segmento podem ser produzidos em diferentes escalas de porosidade, temperatura, resistências químicas e mecânicas, permeabilidade, gramatura, espessura e tipo de acabamento, oferecendo diversas opções do meio filtrante para a escolha mais adequada.
Mas vale ressaltar que o tipo de material escolhido para determinada operação depende da particularidade da filtragem que necessita, como: Viscosidade (no caso de filtração líquida), tamanho e quantidade de particulado, porcentagem de umidade e volume de oxigênio, temperatura de operação, condições químicas, físicas e mecânicas, abrasividade e reatividade.
Nesse contexto, podemos dizer que as principais vantagens do seu uso na filtração engloba a remoção de ampla gama de contaminantes (bactérias, fumaças, vírus, metais, minerais, etc), sua estrutura uniforme, alta capacidade de retenção e permeabilidade ao ar, excelente absorção de gorduras e óleos e alto nível de capacidade de fluxo.
Ademais são produtos sólidos, ou seja, seguros contra rasgos e perfurações, com alta resistência química, a temperatura, a abrasão e a tração. Além de serem  recicláveis, descartáveis ou com uso prolongado. 
“De maneira geral, os Nãotecidos como meios filtrantes vem sendo bastante utilizados, pois podem ser projetados especificamente e com bastante precisão para atender às especificações e necessidades exatas e às mais exigentes normas regulatórias para filtração de ar e líquidos” - complementa Maroni.
E quando o assunto é o futuro do setor, ele destaca que a perspectiva é seguir investindo em inovação em aplicações e processos de produção, atuando cada vez mais na cooperação próxima entre produtores, fornecedores e consumidores.
Ademais, prosseguir na proteção da indústria nacional, através de defesa comercial e atuação nas negociações dos vários acordos comerciais, além de manter o foco na regulamentação e normalização dos Nãotecidos e seus produtos junto às instituições responsáveis. 

Contato das empresas
Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos - ABINT: www.abint.org.br
Ober: www.ober.com.br