Filtragem de Microplásticos em Sistemas de Água potável
Por Carla Legner
Edição Nº 133 - Março/Abril 2025 - Ano 23
Os microplásticos são pequenas partículas de plástico com tamanho inferior a 5 mm que podem estar presentes no meio ambiente, especialmente na água, no solo e no ar. São altamente persistentes e podem acumular-se em ecossistemas.
Os microplásticos são pequenas partículas de plástico com tamanho inferior a 5 mm que podem estar presentes no meio ambiente, especialmente na água, no solo e no ar. São altamente persistentes e podem acumular-se em ecossistemas. Além disso, também fazem parte dos contaminantes emergentes, substâncias que estão cada vez mais presentes nos mananciais, como antibióticos, hormônios, pesticidas, herbicidas, drogas, etc.
Podem ser divididos em duas categorias: Microplásticos Primários e Microplásticos Secundários. No primeiro caso trata-se de partículas já produzidas em tamanho reduzido para usos específicos, como microesferas em cosméticos e produtos de higiene (esfoliantes, pastas de dente), pellets plásticos utilizados na indústria como matéria-prima e fibras sintéticas liberadas por roupas de poliéster e nylon durante a lavagem.
Já os Secundários são fragmentos derivados da degradação de plásticos maiores devido à exposição a fatores ambientais, entre eles temos as sacolas plásticas e garrafas PET degradadas pelo sol e pelo tempo, redes de pesca e outros resíduos plásticos no oceano e pneus desgastados, que liberam partículas plásticas nas estradas.
Os microplásticos encontrados na água podem estar em diversas fontes, incluindo oceanos, rios, lagos e até na água potável. Sua presença é preocupante, pois essas partículas podem conter substâncias químicas prejudiciais e impactar a saúde humana e a vida aquática.
Estamos falando de uma contaminação que exige atenção urgente, por isso, a remoção desses itens é fundamental. Melhorias nos sistemas de tratamento de água (uso de filtros mais eficientes), redução do consumo de plásticos descartáveis para minimizar a liberação de resíduos, banimento de microesferas plásticas em cosméticos e produtos de higiene e o uso de filtros na lavagem de roupas são alternativas importantes para mitigar seus impactos.
Riscos
A presença de microplásticos na água potável e em ecossistemas aquáticos representa um problema ambiental e de saúde pública. Essas partículas podem transportar poluentes, serem ingeridas por organismos vivos e até entrar na corrente sanguínea humana através da ingestão de água contaminada, alimentos (como peixes e frutos do mar) e até pela inalação de partículas suspensas no ar.
Alguns estudos sugerem que microplásticos podem causar inflamação nos tecidos e estresse oxidativo. Desta forma, quando pensamos em efeitos físicos, é válido mencionar que partículas plásticas menores podem sim se acumular no sistema digestivo e, potencialmente, no sangue.
Toxicidade Química: Muitos plásticos contêm aditivos químicos nocivos, como ftalatos, bisfenol A (BPA) e retardantes de chama, que podem ser liberados no organismo. Essas substâncias estão associadas a distúrbios hormonais, problemas reprodutivos e impactos no sistema imunológico.
Transporte de Poluentes: Microplásticos podem atuar como “esponjas”, absorvendo e transportando metais pesados, pesticidas e outros poluentes químicos presentes na água. Ao serem ingeridos, essas toxinas podem acumular-se nos órgãos e potencialmente causar efeitos adversos à saúde.
Quanto aos riscos para o Meio Ambiente, os microplásticos não se degradam facilmente, acumulando-se em rios, lagos e oceanos, afetando a fauna e os ecossistemas aquáticos.
Impacto na Vida Marinha: Peixes, moluscos e outros organismos marinhos ingerem microplásticos, o que pode causar bloqueios digestivos, redução na absorção de nutrientes e até morte. Essas partículas podem subir na cadeia alimentar, afetando predadores e, consequentemente, os seres humanos que consomem esses animais.
Danos aos Ecossistemas Aquáticos: Microplásticos podem afetar a qualidade da água e reduzir a biodiversidade marinha. Algumas espécies confundem microplásticos com alimento, prejudicando seu crescimento e reprodução.
Métodos de Filtragem
A remoção de microplásticos da água potável e de sistemas ambientais é um desafio tecnológico crescente. Diferentes métodos de filtragem vêm sendo desenvolvidos e aplicados para minimizar a contaminação. A filtração convencional é uma delas.
Trata-se de um processo que utiliza um leito de partículas minerais para reter sólidos em suspensão. No entanto, os microplásticos apresentam um grande espectro de tamanho de partícula, que podem passar por este tipo de filtro.
A ultrafiltração, por sua vez, é uma técnica que utiliza membranas poliméricas. Neste processo, a água é forçada através de uma membrana que possui poros com tamanhos entre 30 e 100 nanômetros definidos pelo processo de fabricação. O tamanho das partículas que passam pela ultrafiltração são muito menores (pelo menos 300 vezes menor) quando comparados à filtração convencional, o que torna a ultrafiltração uma técnica mais eficaz para a remoção de microplásticos.
A Osmose Reversa é uma das tecnologias mais eficientes, removendo até 99% dos microplásticos e outras impurezas. Na Coagulação e Floculação são utilizados produtos químicos como sulfato de alumínio ou cloreto férrico para aglomerar os microplásticos, facilitando sua remoção por sedimentação ou filtração.
Temos ainda a Filtração por Carvão ativado. Esse processo é capaz de reter partículas pequenas e adsorver poluentes químicos associados aos microplásticos.
Vale ressaltar que métodos como Osmose reversa e Ultrafiltração são altamente eficazes, mas têm custo elevado. Processos de Coagulação e Filtração são mais acessíveis, mas podem não eliminar completamente as partículas menores.
Assim, a combinação de vários métodos é a abordagem mais eficaz para remover microplásticos da água. Vale destacar que as tecnologias citadas já são bastante utilizadas, mas novas soluções sustentáveis, como biorremediação e nanotecnologia, estão sendo desenvolvidas para melhorar a eficiência e reduzir custos.
Outro ponto que merece ênfase é que a filtragem de microplásticos deve ser integrada a um conjunto de medidas, incluindo a redução da poluição plástica na origem e o desenvolvimento de regulamentações para limitar sua presença na água potável.
O fato é que, a inovação contínua é necessária para criar soluções economicamente viáveis e sustentáveis. Pesquisas exploram o uso de bactérias e enzimas capazes de degradar plásticos em ambientes aquáticos. Ademais, métodos emergentes que usam campos elétricos ou nanomateriais para capturar e decompor microplásticos estão em estudo.