O Mal Que Pode Abalar A Sua Empresa
Por Tárcia Rita Davoglio
Edição Nº 52 - Setembro/Outubro de 2011 - Ano 10
Até o final da atual década a depressão será a doença mais incapacitante para o trabalho
Todo mundo fala em depressão. Chega a ser assustadora a forma como as pessoas se referem a si mesmas, ora atribuindo-se o diagnóstico de maneira equivocada, ora não percebendo os sinais da doença, fazendo mais do que nunca verdadeiro o ditado "de médico e de louco todos temos um pouco". Aí que mora o perigo. Depressão é um assunto sério, tratado quase sempre com descaso, preconceito e banalização, a começar pelas autoridades públicas e gestores. Há anos a OMS vem colocando os transtornos de humor (nome técnico para o quadro clínico onde se insere a depressão) entre as doenças mais letais aos humanos, perdendo apenas para as doenças cardíacas. Alerta ainda que, pelas estimativas, até o final da atual década, isto é 2020, a depressão será a doença mais incapacitante para o trabalho, portanto, sujeita a afastamento profissional remunerado. Tem, assim, forte impacto no mercado de trabalho e nas políticas de gestão de pessoas adotadas pelas organizações.
Diferente de uma tristeza justificada ou do "baixo astral" momentâneo experimentados por todos nós, a depressão clínica está associada à presença de humor anormal, o qual tem um caráter persistente que pode durar de algumas semanas até anos, causando prejuízos e sofrimento para a pessoa e familiares. Os sinais da depressão variam muito em suas manifestações e intensidade, podendo ser confundidos com reações corriqueiras a eventos externos ou sintomas de outras dificuldades ou enfermidades. Portanto, é facilmente subestimada em seu poder letal. Entre os sintomas, inclui-se uma lista de reações físicas e psicológicas que vão desde o cansaço constante, a desmotivação, a falta de concentração e criatividade, as alterações do sono e da alimentação até a baixa auto-estima, o isolamento social, a desesperança, os pensamentos suicidas e atitudes autodestrutivas explícitas ou mascaradas. A dificuldade para identificar a presença da doença pode, muitas vezes, agravar os sintomas ou promover tentativas de "autoajuda" que podem complicar ainda mais o quadro, envolvendo até mesmo abuso de álcool, medicamentos e algumas drogas. Além disso, é muito freqüente que a depressão se associe a presença de outros quadros psicopatológicos, como os transtornos de ansiedade.
A depressão é uma doença afetiva de natureza multifatorial, isto é, não há uma causa única, mas há a convergência de diversos elementos internos e externos que desencadeiam as alterações do humor, que acabam por afetar toda percepção do indivíduo acerca de si e do mundo. O pintor espanhol surrealista Salvador Dali foi fantástico em traduzir em suas obras o que nossa mente pode produzir a partir de um simples estímulo, um fragmento de realidade que pode ser totalmente alterado, de acordo com nossa visão do mundo e com o que se passa em nosso interior. É certo que a percepção que temos sobre nós, sobre a vida que levamos e o modo como vemos as situações importa tanto quanto a realidade. E, em grande parte, é com base nessa percepção, que pode ser bastante enganosa, que nossas emoções e reações são desencadeadas.
Então, sob o efeito das alterações do humor provocadas pela depressão a realidade e a autoimagem são profundamente afetadas, sendo percebidas de modo negativo e desfavorável ao sujeito. Os argumentos racionais ou os fatos não são suficientes para a pessoa perceber-se como alguém valorizado, competente, merecedor de uma vida agradável. Na depressão, não é apenas uma questão de "querer" ver e sentir isso ou aquilo, mas, sobretudo, de ter recursos biopsicossociais disponíveis e suficientes para enfrentar as demandas da vida de modo menos doloroso e negativista. É uma condição que, depois de estabelecida a doença, vai além da boa vontade e do esforço pessoal, nem sempre compreendida por quem observa a pessoa, muitas vezes despertando até mesmo severas críticas ou sentimentos de raiva diante do sujeito deprimido. Por isso, é frequente chegarmos à conclusão de que, do ponto de vista da realidade objetiva, "não havia motivos para o fulano sentir-se tão sem esperança", ou padecer de tal modo que muitas vezes chega a abandonar o trabalho ou atentar contra a própria vida. De fato, o modo como cada um experimenta os acontecimentos é pessoal e intransferível, sendo que os mitos que se propagam sobre a depressão e o uso inadequado da palavra para descrever qualquer manifestação de desconforto ou infelicidade não contribuem em nada para que a doença seja encarada com adequação.
Nesse sentido, ainda hoje, apesar de todo o acesso a informação e ao conhecimento, inúmeras idéias errôneas persistem sobre a depressão, tais como: a depressão não é uma doença, é apenas um estado de espírito; não há tratamento específico, pois, a depressão melhora espontaneamente; crianças não sofrem de depressão; somente pessoas fracas têm depressão; a cura depende apenas da força de vontade da pessoa; a depressão é normal em idosos; apenas as mulheres são afetadas pela depressão; a depressão é uma condição hereditária fadada a se reproduzir na família, e assim por diante. Boa parte dessas falsas crenças se fundamenta na confusão entre estados depressivos característicos do processo de adaptação e assimilação de mudanças que surgem diante de estressores diversos (por exemplo, morte de entes queridos, mudança de emprego, divórcio ou fracasso de um plano de vida) e as alterações de humor que extrapolam momentos críticos ou surgem sem causas aparentes. É necessário que as situações vivenciadas, sejam positivas ou negativas, causem algum impacto em nós, para que sejam processadas e possamos amadurecer e dar um novo significado aos acontecimentos. Então, quando nos decepcionamos ou excedemos algum limite esta é a função saudável das reações depressivas transitórias que acompanham o sentir raiva, culpa, tristeza, arrependimento e acabam, ao final de um breve espaço de tempo, nos levando a desenvolver novas atitudes e a traçar novas metas em direção à vida. Mas esse processo depressivo é absolutamente distinto da depressão clínica, considerada uma doença que afeta a saúde mental.
A depressão é também diferente de outras manifestações e sintomas psicossociais relacionados ao trabalho que causam sofrimento e prejuízos a saúde do profissional. Por exemplo, a síndrome de Burnout é um quadro de esgotamento gerado por um stress profissional. A resolução do INSS, de 1999, define Burnout como reação à tensão emocional crônica resultante do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente, quando estes estão preocupados ou com problemas, em situações de trabalho que demandam tensão emocional, atenção constante e grandes responsabilidades. Porém, a síndrome envolve três condições essenciais para o seu diagnóstico: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição do envolvimento pessoal no trabalho, não estando necessariamente associada à depressão.
As doenças que afetam o humor não se resumem a depressão, mas esta é sem dúvida a que apresenta maior prevalência no afastamento das atividades profissionais. E, não custa lembrar, nenhum de nós está imune a adoecer, mas podemos aumentar os fatores protetivos. Entre os fatores externos, as condições socioeconomicas desempenham importante papel entre os fatores de risco para a depressão, não apenas como uma reação à situação de adversidade, mas também como um elemento que impede a pessoa de voltar-se para si mesma e para o seu bem estar, levando-se em conta todas as demandas oriundas da busca pela sobrevivência. Apesar disso, adotar um estilo de vida que permita a preservação do mínimo respeito a si mesmo e as necessidades vitais para a saúde mental é sempre algo a ser construído na nossa rotina. Não há nenhuma fórmula milagrosa mas a soma de pequenas atitudes, repetidas ao longo da vida, podem gerar o acúmulo de recursos afetivos para enfrentar o risco do adoecimento:
Um hobby qualquer que o faça sorrir, que não exija grandes investimentos de recursos materiais e preparativos que envolvam tempo, para que possa ser praticado com a maior freqüência possível. Algo que o faça desligar por um tempo das preocupações, das responsabilidades e da rotina do trabalho, produzindo diversão, relaxamento e descontração.
Não precisa tornar-se campeão em nada, ao contrário, a idéia é exatamente oposta, de não precisar competir, esquecendo-se do que está a sua volta para concentrar-se em seu corpo e em suas necessidades, produzindo prazer em estar consigo mesmo. Além de garantir energia e vitalidade física, por meio do movimento corporal são estimuladas a produção e liberação de uma série de substâncias bioquímicas responsáveis pela sensação de prazer e bem estar, que tendem a ficar diminuídas na depressão.
Comer e beber em excesso, restringir-se apenas a ingestão de um grupo de alimentos, mastigar pouco, pular refeições ou substituí-las por lanches são apenas alguns exemplos do que vai na contramão do respeito a saúde física e mental. Por mais que as urgências se acumulem em sua mesa de trabalho, a única pessoa que de fato não vive sem você é você mesmo, portanto, não se maltrate. A alimentação balanceada é o combustível para o funcionamento equilibrado do nosso organismo.
Nenhum fato é por si mesmo um estressor incontrolável. O estresse só nos atinge de modo nocivo e permanente quando a nossa percepção sobre a realidade se mantém inflexível e cristalizada. Explorar novas opções, dar espaço para a criatividade na resolução dos problemas, contar com a mudança que podemos operar em nós mesmos e não no mundo são estratégias que minimizam o impacto agressivo de uma realidade desconfortável.
Perdemos muito tempo contando as horas e nos angustiando com a pressão das mesmas. Somos imediatistas, usamos a escada rolante para ganhar tempo e poder correr mais. Porém, às vezes, a organização e o planejamento são sacrificados em prol da execução de um projeto e dos retornos a curto prazo. Não basta fazer ou estar lá, é fundamental saber o que, como e por que vamos nos meter em algo. Quando não nos concentramos nesses detalhes os resultados podem ser muito diferentes do que pretendíamos e muitas vezes não há como recuperar o que se foi. É fato, o tempo é o senhor da razão, portanto, usá-lo a nosso favor é uma ótima decisão.
Há um enorme sofrimento quando nos prendemos demais no exercício de prever o futuro, imaginando todos os "se" que podem surgir. É um estresse antecipado, que leva ao cansaço e a desistência de projetos antes mesmo tê-los iniciado. Por outro lado, lamentar as oportunidades perdidas ou enaltecer o que já se acabou nos impede de aproveitar as oportunidades que vão surgindo no presente e que podem mudar o nosso futuro.
Nem sempre ganhar mais para comprar mais justifica as concessões e sacrifícios que impomos a nossa qualidade de vida. Precisamos estar atentos ao circulo vicioso que o consumo nos impõe: temos que trabalhar muito para poder adquirir algo, que imediatamente vai demandar por mais alguma outra compra e que nos leva a aumentar a nossa jornada, reproduzindo um sistema impossível de ser gerenciado. Selecione o que você precisa e se mantenha dentro de um esquema em que você não precise se matar para sobreviver.
Por outro lado, ressalta-se que as organizações também têm sua parcela de responsabilidade e compromisso com a saúde mental dos seus colaboradores. Cada profissional incapacitado de exercer suas atividades por estar com depressão representa uma perda no capital humano que movimenta o negócio, tendo um ônus econômico e social que impacta não apenas sobre aquele segmento, mas atinge todo o sistema produtivo e previdenciário. Muito pouco se debate e se age nesta direção porque não estamos suficientemente evoluídos para contabilizarmos o custo humano das políticas que são adotadas no mercado de trabalho. Pouquíssimas empresas incluem em seu portfólio de benefícios a assistência psicológica/psiquiátrica, ou consideram a saúde mental um item a se inserir e receber atenção, por exemplo, nas tradicionais semanas de CIPA que ocorrem nas empresas. Muitos estudos já demonstraram que os acidentes de trabalho estão diretamente associados e correlacionados com saúde mental e qualidade de vida dos trabalhadores.
Enfim, é compromisso de todos nós desmitificarmos a depressão, atribuindo-lhe seu verdadeiro significado. Para tanto, é fundamental reconhecê-la como uma doença possível de atingir a qualquer um, que pode ser tratada e curada e não como um fato vergonhoso e constrangedor a ser encoberto e penalizado.
Diferente de uma tristeza justificada ou do "baixo astral" momentâneo experimentados por todos nós, a depressão clínica está associada à presença de humor anormal, o qual tem um caráter persistente que pode durar de algumas semanas até anos, causando prejuízos e sofrimento para a pessoa e familiares. Os sinais da depressão variam muito em suas manifestações e intensidade, podendo ser confundidos com reações corriqueiras a eventos externos ou sintomas de outras dificuldades ou enfermidades. Portanto, é facilmente subestimada em seu poder letal. Entre os sintomas, inclui-se uma lista de reações físicas e psicológicas que vão desde o cansaço constante, a desmotivação, a falta de concentração e criatividade, as alterações do sono e da alimentação até a baixa auto-estima, o isolamento social, a desesperança, os pensamentos suicidas e atitudes autodestrutivas explícitas ou mascaradas. A dificuldade para identificar a presença da doença pode, muitas vezes, agravar os sintomas ou promover tentativas de "autoajuda" que podem complicar ainda mais o quadro, envolvendo até mesmo abuso de álcool, medicamentos e algumas drogas. Além disso, é muito freqüente que a depressão se associe a presença de outros quadros psicopatológicos, como os transtornos de ansiedade.
A depressão é uma doença afetiva de natureza multifatorial, isto é, não há uma causa única, mas há a convergência de diversos elementos internos e externos que desencadeiam as alterações do humor, que acabam por afetar toda percepção do indivíduo acerca de si e do mundo. O pintor espanhol surrealista Salvador Dali foi fantástico em traduzir em suas obras o que nossa mente pode produzir a partir de um simples estímulo, um fragmento de realidade que pode ser totalmente alterado, de acordo com nossa visão do mundo e com o que se passa em nosso interior. É certo que a percepção que temos sobre nós, sobre a vida que levamos e o modo como vemos as situações importa tanto quanto a realidade. E, em grande parte, é com base nessa percepção, que pode ser bastante enganosa, que nossas emoções e reações são desencadeadas.
Então, sob o efeito das alterações do humor provocadas pela depressão a realidade e a autoimagem são profundamente afetadas, sendo percebidas de modo negativo e desfavorável ao sujeito. Os argumentos racionais ou os fatos não são suficientes para a pessoa perceber-se como alguém valorizado, competente, merecedor de uma vida agradável. Na depressão, não é apenas uma questão de "querer" ver e sentir isso ou aquilo, mas, sobretudo, de ter recursos biopsicossociais disponíveis e suficientes para enfrentar as demandas da vida de modo menos doloroso e negativista. É uma condição que, depois de estabelecida a doença, vai além da boa vontade e do esforço pessoal, nem sempre compreendida por quem observa a pessoa, muitas vezes despertando até mesmo severas críticas ou sentimentos de raiva diante do sujeito deprimido. Por isso, é frequente chegarmos à conclusão de que, do ponto de vista da realidade objetiva, "não havia motivos para o fulano sentir-se tão sem esperança", ou padecer de tal modo que muitas vezes chega a abandonar o trabalho ou atentar contra a própria vida. De fato, o modo como cada um experimenta os acontecimentos é pessoal e intransferível, sendo que os mitos que se propagam sobre a depressão e o uso inadequado da palavra para descrever qualquer manifestação de desconforto ou infelicidade não contribuem em nada para que a doença seja encarada com adequação.
Nesse sentido, ainda hoje, apesar de todo o acesso a informação e ao conhecimento, inúmeras idéias errôneas persistem sobre a depressão, tais como: a depressão não é uma doença, é apenas um estado de espírito; não há tratamento específico, pois, a depressão melhora espontaneamente; crianças não sofrem de depressão; somente pessoas fracas têm depressão; a cura depende apenas da força de vontade da pessoa; a depressão é normal em idosos; apenas as mulheres são afetadas pela depressão; a depressão é uma condição hereditária fadada a se reproduzir na família, e assim por diante. Boa parte dessas falsas crenças se fundamenta na confusão entre estados depressivos característicos do processo de adaptação e assimilação de mudanças que surgem diante de estressores diversos (por exemplo, morte de entes queridos, mudança de emprego, divórcio ou fracasso de um plano de vida) e as alterações de humor que extrapolam momentos críticos ou surgem sem causas aparentes. É necessário que as situações vivenciadas, sejam positivas ou negativas, causem algum impacto em nós, para que sejam processadas e possamos amadurecer e dar um novo significado aos acontecimentos. Então, quando nos decepcionamos ou excedemos algum limite esta é a função saudável das reações depressivas transitórias que acompanham o sentir raiva, culpa, tristeza, arrependimento e acabam, ao final de um breve espaço de tempo, nos levando a desenvolver novas atitudes e a traçar novas metas em direção à vida. Mas esse processo depressivo é absolutamente distinto da depressão clínica, considerada uma doença que afeta a saúde mental.
A depressão é também diferente de outras manifestações e sintomas psicossociais relacionados ao trabalho que causam sofrimento e prejuízos a saúde do profissional. Por exemplo, a síndrome de Burnout é um quadro de esgotamento gerado por um stress profissional. A resolução do INSS, de 1999, define Burnout como reação à tensão emocional crônica resultante do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente, quando estes estão preocupados ou com problemas, em situações de trabalho que demandam tensão emocional, atenção constante e grandes responsabilidades. Porém, a síndrome envolve três condições essenciais para o seu diagnóstico: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição do envolvimento pessoal no trabalho, não estando necessariamente associada à depressão.
As doenças que afetam o humor não se resumem a depressão, mas esta é sem dúvida a que apresenta maior prevalência no afastamento das atividades profissionais. E, não custa lembrar, nenhum de nós está imune a adoecer, mas podemos aumentar os fatores protetivos. Entre os fatores externos, as condições socioeconomicas desempenham importante papel entre os fatores de risco para a depressão, não apenas como uma reação à situação de adversidade, mas também como um elemento que impede a pessoa de voltar-se para si mesma e para o seu bem estar, levando-se em conta todas as demandas oriundas da busca pela sobrevivência. Apesar disso, adotar um estilo de vida que permita a preservação do mínimo respeito a si mesmo e as necessidades vitais para a saúde mental é sempre algo a ser construído na nossa rotina. Não há nenhuma fórmula milagrosa mas a soma de pequenas atitudes, repetidas ao longo da vida, podem gerar o acúmulo de recursos afetivos para enfrentar o risco do adoecimento:
Um hobby qualquer que o faça sorrir, que não exija grandes investimentos de recursos materiais e preparativos que envolvam tempo, para que possa ser praticado com a maior freqüência possível. Algo que o faça desligar por um tempo das preocupações, das responsabilidades e da rotina do trabalho, produzindo diversão, relaxamento e descontração.
Não precisa tornar-se campeão em nada, ao contrário, a idéia é exatamente oposta, de não precisar competir, esquecendo-se do que está a sua volta para concentrar-se em seu corpo e em suas necessidades, produzindo prazer em estar consigo mesmo. Além de garantir energia e vitalidade física, por meio do movimento corporal são estimuladas a produção e liberação de uma série de substâncias bioquímicas responsáveis pela sensação de prazer e bem estar, que tendem a ficar diminuídas na depressão.
Comer e beber em excesso, restringir-se apenas a ingestão de um grupo de alimentos, mastigar pouco, pular refeições ou substituí-las por lanches são apenas alguns exemplos do que vai na contramão do respeito a saúde física e mental. Por mais que as urgências se acumulem em sua mesa de trabalho, a única pessoa que de fato não vive sem você é você mesmo, portanto, não se maltrate. A alimentação balanceada é o combustível para o funcionamento equilibrado do nosso organismo.
Nenhum fato é por si mesmo um estressor incontrolável. O estresse só nos atinge de modo nocivo e permanente quando a nossa percepção sobre a realidade se mantém inflexível e cristalizada. Explorar novas opções, dar espaço para a criatividade na resolução dos problemas, contar com a mudança que podemos operar em nós mesmos e não no mundo são estratégias que minimizam o impacto agressivo de uma realidade desconfortável.
Perdemos muito tempo contando as horas e nos angustiando com a pressão das mesmas. Somos imediatistas, usamos a escada rolante para ganhar tempo e poder correr mais. Porém, às vezes, a organização e o planejamento são sacrificados em prol da execução de um projeto e dos retornos a curto prazo. Não basta fazer ou estar lá, é fundamental saber o que, como e por que vamos nos meter em algo. Quando não nos concentramos nesses detalhes os resultados podem ser muito diferentes do que pretendíamos e muitas vezes não há como recuperar o que se foi. É fato, o tempo é o senhor da razão, portanto, usá-lo a nosso favor é uma ótima decisão.
Há um enorme sofrimento quando nos prendemos demais no exercício de prever o futuro, imaginando todos os "se" que podem surgir. É um estresse antecipado, que leva ao cansaço e a desistência de projetos antes mesmo tê-los iniciado. Por outro lado, lamentar as oportunidades perdidas ou enaltecer o que já se acabou nos impede de aproveitar as oportunidades que vão surgindo no presente e que podem mudar o nosso futuro.
Nem sempre ganhar mais para comprar mais justifica as concessões e sacrifícios que impomos a nossa qualidade de vida. Precisamos estar atentos ao circulo vicioso que o consumo nos impõe: temos que trabalhar muito para poder adquirir algo, que imediatamente vai demandar por mais alguma outra compra e que nos leva a aumentar a nossa jornada, reproduzindo um sistema impossível de ser gerenciado. Selecione o que você precisa e se mantenha dentro de um esquema em que você não precise se matar para sobreviver.
Por outro lado, ressalta-se que as organizações também têm sua parcela de responsabilidade e compromisso com a saúde mental dos seus colaboradores. Cada profissional incapacitado de exercer suas atividades por estar com depressão representa uma perda no capital humano que movimenta o negócio, tendo um ônus econômico e social que impacta não apenas sobre aquele segmento, mas atinge todo o sistema produtivo e previdenciário. Muito pouco se debate e se age nesta direção porque não estamos suficientemente evoluídos para contabilizarmos o custo humano das políticas que são adotadas no mercado de trabalho. Pouquíssimas empresas incluem em seu portfólio de benefícios a assistência psicológica/psiquiátrica, ou consideram a saúde mental um item a se inserir e receber atenção, por exemplo, nas tradicionais semanas de CIPA que ocorrem nas empresas. Muitos estudos já demonstraram que os acidentes de trabalho estão diretamente associados e correlacionados com saúde mental e qualidade de vida dos trabalhadores.
Enfim, é compromisso de todos nós desmitificarmos a depressão, atribuindo-lhe seu verdadeiro significado. Para tanto, é fundamental reconhecê-la como uma doença possível de atingir a qualquer um, que pode ser tratada e curada e não como um fato vergonhoso e constrangedor a ser encoberto e penalizado.
Psicóloga/Psicoterapeuta; Consultora em Gestão de Pessoas, Perita em Avaliação Psicológica e Gestão de Equipes. Doutoranda em Psicologia/PUCRS, Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS, Especialista em Gestão Empresarial/FGV, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica/UNISINOS e Psicopatologia do Bebê/PARIS XIII. Fone: (51) 8188.0733 / tarciad@gmail.com |