Inaugurando A Nova Década
Por Me. Tárcia Rita Davoglio
Edição Nº 48 - Janeiro/Fevereiro de 2011 - Ano 9
O ano é muito mais que um monte de dias que se sucedem, portanto, não deixe nada ao acaso
Final e início de ano é sempre uma loucura. Afora a parte boa de ser uma oportunidade de demonstrar solidariedade, afeto e esperança, no resto, o que se vê de sobra, é falta de bom senso e planejamento. É difícil entender como esta mesma época que representa o apogeu para o setor comercial, coincida também com o período de parada total de uma grande parte do setor industrial. Diante dessa alquimia bizarra, é indispensável uma tomada de posição clara e comprometida por parte das empresas, clientes e vendedores.
As contingências dessa realidade podem ser observadas ano após ano, com repetições de falhas estratégicas primárias e onerosas. A indústria quase sempre elege o período que vai do final da segunda quinzena de dezembro até a primeira semana de janeiro como o destinado às férias coletivas. Não vou entrar aqui no mérito das vantagens e desvantagens disso para patrões e empregados, mas ninguém deveria menosprezar o impacto que isto pode ter na relação com os maiores patrimônios da organização: o cliente e as pessoas que trabalham nela. Em outras palavras, férias coletivas significam que o setor operacional na sua totalidade (ou muito próximo a isso) simplesmente suspende suas atividades, atendendo ao propósito de cumprir a lei trabalhista com, talvez, alguma vantagem. A fábrica pára.
O vendedor, que via de regra recebe comissão sobre as metas atingidas, irá fazer o máximo para ter um ganho dobrado nessa época de tantas ofertas e tentações. Diante disso, o empresário e o vendedor de segmentos que podem fazer estoque e ter o produto a pronta entrega são de fato favorecidos e têm maiores chances de ver seu cliente satisfeito. Porém, essa não é a realidade da maioria das empresas e clientes de segmentos cujos produtos precisam ser encomendados e produzidos para serem entregues antes que o ano acabe.
Para os antenados, bingo: ficou fácil visualizar o cenário de insatisfações e estresse produzidos por atrasos e descumprimento de acordos! Férias coletivas, na prática, determinam que a produção que estava sendo gerada nas últimas semanas atenderá à demanda de semanas ou meses precedentes. Assim, pedidos de última hora que desconsiderem a logística operacional e as políticas de gestão de RH praticadas na organização podem se tornar gargalos conflitantes. Parece simples evitar problemas porque a fórmula é matemática: se há uma programação para encerrar a produção em "x" dias, tudo o que for solicitado além dessa capacidade é excedente. Ou não será entregue em curto prazo ou irá gerar demanda por horas extras. Horas extras representam custos operacionais dobrados, maior risco de desperdício de material, de acidentes de trabalho, de conflitos intrassetores e de falhas em avaliar os limites humanos sob pressão.
Porém, se a organização decide que férias coletivas é a melhor opção, a peça chave que irá determinar o rumo dessa história será o comercial, especificamente, a área de vendas. A logística da produção à entrega é vital para que todos fiquem satisfeitos. Responsabilidade é, então, uma palavra crucial para quem executa vendas em tempos de férias coletivas. Melhor definir exatamente qual a necessidade do cliente e qual a disponibilidade da produção antes de sair efetivando contratos.
Aliás, independentemente de você ser o diretor ou o vendedor da empresa, férias é uma ótima ocasião para reabastecer-se com novas idéias, motivação e energia para enfrentar as oportunidades e ameaças que podem mudar o futuro. A próxima década já começou e para prosperar é preciso ficar atento aos desafios e obstáculos mais sutis, que quase sempre se escondem em nós mesmos! Seja sob a forma de ambição desmedida ou de postergação das mudanças, todos temos um Calcanhar de Aquiles que pode boicotar a trajetória desejada, sendo oportuno o recesso de fim de ano para ajustar o foco.
Talvez haja certa confusão entre descansar e parar de trabalhar. Quem está focado na sua empregabilidade nunca pára de produzir, ainda que esteja à beira-mar ou em viagem com a família, fazendo juz ao que Domênico De Masi denomina de ócio criativo. Estar à toa abre a possibilidade para que você explore sua mente de novas maneiras: ouça outras músicas, ande por ruas que não fazem parte de seu itinerário, visite lugares que não conhece, converse com gente diferente de você. Olhe, ouça, sinta. Permita-se colorir fora da linha! Porque as maiores descobertas brotam da nossa capacidade de inventar o inédito com o que já existe. Quando perguntaram a Michelangelo como ele tinha feito a sua maravilhosa Pietá, na sua genialidade ele simplesmente respondeu: "Estava tudo lá; eu apenas retirei o excesso da pedra!".
Inaugure 2011 com um planejamento de vida! Mas vale lembrar que planejamento sem estratégia nada mais é do que um cronograma que talvez nunca seja cumprido, levando-nos para o mundo da ilusão. A estratégia é o que define como vamos fazer para chegar aos nossos propósitos. Quer aumentar seu salário? Fazer um novo curso? Trocar de carro? Ter um filho? Descobrir como fazer isso acontecer é parte da estratégia. Não é preciso economizar criatividade e fé na hora de elaborar o roteiro para chegar ao destino almejado para os próximos 10 anos, desde que não desconsidere que além de você mesmo, há outros seres humanos no mundo.
É claro que a descontração das férias e os balões de dias de inauguração e festa precisam dar lugar à seriedade dos compromissos na volta ao trabalho, mas nem por isso precisamos perder o brilho e a vontade de fazer sucesso. O ano é muito mais que um monte de dias que se sucedem, portanto, não deixe nada ao acaso: eleja um objetivo, faça investimentos, defina prioridades, desafie-se, pratique uma atividade física, desenvolva um hobby para aliviar as horas duras, persevere na trilha que escolheu e lembre-se de percorrê-la de modo a ter orgulho de si mesmo.
Se for preciso alguma receita para inaugurar o ano novo, eu escolho a franqueza do poema de Drummond: "Para você ganhar um ano, não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior); para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo; eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
Bem-vindo 2011!
As contingências dessa realidade podem ser observadas ano após ano, com repetições de falhas estratégicas primárias e onerosas. A indústria quase sempre elege o período que vai do final da segunda quinzena de dezembro até a primeira semana de janeiro como o destinado às férias coletivas. Não vou entrar aqui no mérito das vantagens e desvantagens disso para patrões e empregados, mas ninguém deveria menosprezar o impacto que isto pode ter na relação com os maiores patrimônios da organização: o cliente e as pessoas que trabalham nela. Em outras palavras, férias coletivas significam que o setor operacional na sua totalidade (ou muito próximo a isso) simplesmente suspende suas atividades, atendendo ao propósito de cumprir a lei trabalhista com, talvez, alguma vantagem. A fábrica pára.
O vendedor, que via de regra recebe comissão sobre as metas atingidas, irá fazer o máximo para ter um ganho dobrado nessa época de tantas ofertas e tentações. Diante disso, o empresário e o vendedor de segmentos que podem fazer estoque e ter o produto a pronta entrega são de fato favorecidos e têm maiores chances de ver seu cliente satisfeito. Porém, essa não é a realidade da maioria das empresas e clientes de segmentos cujos produtos precisam ser encomendados e produzidos para serem entregues antes que o ano acabe.
Para os antenados, bingo: ficou fácil visualizar o cenário de insatisfações e estresse produzidos por atrasos e descumprimento de acordos! Férias coletivas, na prática, determinam que a produção que estava sendo gerada nas últimas semanas atenderá à demanda de semanas ou meses precedentes. Assim, pedidos de última hora que desconsiderem a logística operacional e as políticas de gestão de RH praticadas na organização podem se tornar gargalos conflitantes. Parece simples evitar problemas porque a fórmula é matemática: se há uma programação para encerrar a produção em "x" dias, tudo o que for solicitado além dessa capacidade é excedente. Ou não será entregue em curto prazo ou irá gerar demanda por horas extras. Horas extras representam custos operacionais dobrados, maior risco de desperdício de material, de acidentes de trabalho, de conflitos intrassetores e de falhas em avaliar os limites humanos sob pressão.
Porém, se a organização decide que férias coletivas é a melhor opção, a peça chave que irá determinar o rumo dessa história será o comercial, especificamente, a área de vendas. A logística da produção à entrega é vital para que todos fiquem satisfeitos. Responsabilidade é, então, uma palavra crucial para quem executa vendas em tempos de férias coletivas. Melhor definir exatamente qual a necessidade do cliente e qual a disponibilidade da produção antes de sair efetivando contratos.
Aliás, independentemente de você ser o diretor ou o vendedor da empresa, férias é uma ótima ocasião para reabastecer-se com novas idéias, motivação e energia para enfrentar as oportunidades e ameaças que podem mudar o futuro. A próxima década já começou e para prosperar é preciso ficar atento aos desafios e obstáculos mais sutis, que quase sempre se escondem em nós mesmos! Seja sob a forma de ambição desmedida ou de postergação das mudanças, todos temos um Calcanhar de Aquiles que pode boicotar a trajetória desejada, sendo oportuno o recesso de fim de ano para ajustar o foco.
Talvez haja certa confusão entre descansar e parar de trabalhar. Quem está focado na sua empregabilidade nunca pára de produzir, ainda que esteja à beira-mar ou em viagem com a família, fazendo juz ao que Domênico De Masi denomina de ócio criativo. Estar à toa abre a possibilidade para que você explore sua mente de novas maneiras: ouça outras músicas, ande por ruas que não fazem parte de seu itinerário, visite lugares que não conhece, converse com gente diferente de você. Olhe, ouça, sinta. Permita-se colorir fora da linha! Porque as maiores descobertas brotam da nossa capacidade de inventar o inédito com o que já existe. Quando perguntaram a Michelangelo como ele tinha feito a sua maravilhosa Pietá, na sua genialidade ele simplesmente respondeu: "Estava tudo lá; eu apenas retirei o excesso da pedra!".
Inaugure 2011 com um planejamento de vida! Mas vale lembrar que planejamento sem estratégia nada mais é do que um cronograma que talvez nunca seja cumprido, levando-nos para o mundo da ilusão. A estratégia é o que define como vamos fazer para chegar aos nossos propósitos. Quer aumentar seu salário? Fazer um novo curso? Trocar de carro? Ter um filho? Descobrir como fazer isso acontecer é parte da estratégia. Não é preciso economizar criatividade e fé na hora de elaborar o roteiro para chegar ao destino almejado para os próximos 10 anos, desde que não desconsidere que além de você mesmo, há outros seres humanos no mundo.
É claro que a descontração das férias e os balões de dias de inauguração e festa precisam dar lugar à seriedade dos compromissos na volta ao trabalho, mas nem por isso precisamos perder o brilho e a vontade de fazer sucesso. O ano é muito mais que um monte de dias que se sucedem, portanto, não deixe nada ao acaso: eleja um objetivo, faça investimentos, defina prioridades, desafie-se, pratique uma atividade física, desenvolva um hobby para aliviar as horas duras, persevere na trilha que escolheu e lembre-se de percorrê-la de modo a ter orgulho de si mesmo.
Se for preciso alguma receita para inaugurar o ano novo, eu escolho a franqueza do poema de Drummond: "Para você ganhar um ano, não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior); para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo; eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
Bem-vindo 2011!
Psicóloga, Doutoranda em Psicologia/PUCRS, Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS, Especialista em Gestão Empresarial/FGV, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica/UNISINOS e em Psicopatologia do Bebê (PARIS XII), Psicoterapeuta, Consultora em Gestão de Pessoas, Perita em Avaliação Psicológica e Gestão de Equipes. Fone: (51) 8188.0733 tarciad@gmail.com |