O Valor Da Conduta
Por Me. Tárcia Rita Davoglio
Edição Nº 44 - Maio/Junho de 2010 - Ano 8
Já notaram como há palavras que nos assustam? Às vezes, nem temos muito claro o que significam, mas, só de ouvi-las, sua pronúncia impõe uma força que nos estremece.
Já notaram como há palavras que nos assustam? Às vezes, nem temos muito claro o que significam, mas, só de ouvi-las, sua pronúncia impõe uma força que nos estremece.
É como um alarme que soa e fica perturbando, fazendo com que nosso desejo mais imediato seja vê-lo desativado o mais rápido possível.
Mentalmente, dividimos as palavras que são para "uso comum" e aquelas restritas às "ocasiões solenes" ou que devem ser delegadas aos pensadores ilustres, aos filósofos, aos líderes, aos que querem causar boa impressão ou a qualquer um que as pronuncie longe de nós. Acho que é daí que vem a falsa idéia de que Ética é uma palavra muito apropriada para ser utilizada em discursos e arrecadação de prestígio. Para muitos é, assim, um som. Quanto muito um título numa apostila bem encadernada, que recebemos junto com o diploma e que nunca sairá do fundo da última gaveta de nossa mesa; aquela mais baixa, que emperra sempre e que, por isso mesmo, não é aberta quase nunca.
É: ética assusta! É um palavrão. Quase uma obscenidade, dependendo de onde é expressa. Por isso, talvez, não é aplicada com tanta freqüência como gostaríamos que fosse. Nós a substituímos por eufemismos, por "jeitinhos" que se dissipam mais rápido e fazem quase nenhum ruído. E se dermos sorte do outro ser um tanto ingênuo, nos safamos sem problemas.
Se fôssemos adolescentes, tentando rebelar-se contra as regras que nos são impostas, repetiríamos mil vezes: "ética, ética, ética, ética..." para provar que somos capazes de suportá-la. Provavelmente, depois de afônicos, descobriríamos que ainda assim teria grandes chances de continuar sendo apenas um som que se perde no ar quando é dito e não praticado. De fato, ética não se presta ao uso discursivo. Não adianta falar, repeti-la, escrevê-la, berrar que a temos. Não convence. Não existe gente meio ética, meio honesta, meio confiável. São questões simplesmente dicotômicas, que não permitem que fiquemos no mais ou menos: ou é ou não é.
Ética é impalpável, inexistente e não visível enquanto apenas dita. Nem deveria existir como palavra, não fosse nossa necessidade de comunicação verbal. Ética não serve ao discurso, mas se presta à reflexão, de preferência com nosso próprio travesseiro e com todos aqueles que estão sob nossa responsabilidade. É um fato de interesse público. Sua força, sua existência, seu valor, sua razão de ser só se manifestam quando é comportamento. Sozinhos no mundo, não há sentido para se pensar ética, pois, esta só nos é necessária na presença do outro. É na interação, é no convívio com as outras pessoas, quer seja na vida pessoal ou no mundo dos negócios, que temos a oportunidade de exercitar comportamentos éticos. Ações éticas postas em prática dispensam apresentações, pois, sua presença se impõe, é nítida e perceptível à distância. Não é necessário que o departamento de Marketing anuncie: "Esta é uma empresa ética". Pode até fazê-lo, mas é dinheiro jogado no lixo porque nenhum cliente vai se deixar convencer pelo que está escrito no papel, se isso não for fato corrente no dia-a-dia das negociações, sentido na sua própria experiência com aquela empresa ou com qualquer um dos seus colaboradores. Sim, porque é bom lembrar: ética é uma prática coletiva. Não é compromisso da diretoria e das gerências apenas.
Não devemos mesmo falar de ética. Não porque a palavra assusta, mas, porque princípios éticos brotam do exercício cooperativo e intransferível no caminho da evolução de nossa natureza humana. Só quando amadurecemos, podemos distinguir o certo e o errado sem qualquer sombra de dúvida. Não titubeamos em decidir qual caminho seguir, não importa quanto ganho imediato teríamos se pegássemos um atalho. É por isso que empresas que já percorreram um longo caminho, tornando-se sólidas e líderes no seu segmento, são naturalmente éticas.
Psicóloga; Psicoterapeuta; Consultora em Gestão de Pessoas; Doutoranda em Psicologia Social/PUCRS; Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS; Especialista em Gestão Empresarial/FGV; Especialista em Psicoterapia Psicanalítica/UNISINOS; Especialista em Psicopatologia do Bebê/Universite Paris XIII–França; Perita em Avaliação Psicológica e Gestão de Equipes. Empresa Perfil – Gestão e Avaliações. tarciad@gmail.com Fone: (51) 8188.0733 |