“Deixei A Vida Corporativa Pela Cooperativa”
Por Roger Koeppl
Edição Nº 71 - Novembro/Dezembro de 2014 - Ano 13
Nasci na Zona Norte de São Paulo, iniciei minha carreira profissional aos 12 anos de idade em um posto de gasolina onde eu lavava carros e ficava com as caixinhas dos clientes. O trabalho sempre foi um valor muito forte
Nasci na Zona Norte de São Paulo, iniciei minha carreira profissional aos 12 anos de idade em um posto de gasolina onde eu lavava carros e ficava com as caixinhas dos clientes. O trabalho sempre foi um valor muito forte na minha família. Aos 15 anos de idade, eu ocupava o cargo de auxiliar de exportação eu uma metalúrgica e em época de vestibular, decisão importante na vida de qualquer adolescente, meu pai me orientou que buscasse o SENAI para continuidade dos estudos, pois meu trabalho era como técnico de vendas e os estudos desta instituição me auxiliariam na continuidade profissional; foi onde eu conheci o universo das empresas multinacionais. Logo percebi que gostava de correr riscos, pois larguei um trabalho estável e um bom salário por um estágio na Atlas Schindler Elevadores com uma pequena bolsa-estágio e nenhuma garantia de efetivação. Acabando o estágio prestei o vestibular na FATEC e iniciei um novo estágio em uma empresa de logística e logo fui efetivado como técnico de processos junior. Quando esta empresa estava para ganhar um contrato com a Apple Computers ninguém da área técnica falava inglês muito bem, então viajei para os Estados Unidos e Inglaterra para aprender como seria esta operação logística no Brasil. Fechamos o contrato e minha carreira começou a decolar. A implantação do projeto foi um sucesso e fui convidado a ser supervisor da engenharia de processos na fábrica da FIAT Automóveis, em Betim – MG. Nesta época eu já era responsável por uma equipe e ganhava mais que meus pais juntos. Em 2010, eu tive uma experiência profunda como voluntário na Cruz Vermelha, que solicitava doações para a região serrana do Rio de Janeiro, atingida por desastres naturais como enchentes e desmoronamentos.
Como voluntário percebi que uma gestão melhor das doações poderia facilitar o trabalho da equipe; estavam misturadas roupas com alimentos, água e calçados e muita gente trabalhando cheia de energia e baixíssima eficiência. Foi quando coloquei meus conhecimentos profissionais a serviço daquela operação, criei um layout, mudei os processos, organizei cada doação, desenvolvi bancadas de caixas de papelão e a operação começou a rodar melhor. Foi ali que eu percebi que o conhecimento que eu tinha poderia ser útil para algo muito maior. A partir deste dia eu me comovia com tudo que era causa social e ambiental, enquanto a minha motivação para o trabalho minguava. Em outubro de 2010, quando surgiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil meu sentimento ao estudar o setor foi muito semelhante ao daquele final de semana na Cruz Vermelha, eu sabia que tinha algo a contribuir para este segmento de mercado. Compartilhei aquele problema e algumas ideias com alguns amigos e muitos deles se interessaram pelo assunto, então resolvemos fazer algo.
Iniciamos pela pesquisa de campo e fomos visitar dezenas de iniciativas de reciclagem, catadores e coleta seletiva e percebemos que tínhamos competências que faltavam. Trocar de emprego foi a minha decisão para que eu tivesse mais tranquilidade para pensar no projeto. E como nosso perfil é muito mão na massa, logo pensamos em fazer nossa própria cooperativa. Estabeleci uma meta de juntar dinheiro para poder ficar três anos me dedicando somente ao projeto. Em julho de 2011 nós constituímos a YouGreen. Em outubro de 2011 eu visitei o Fórum Internacional de Economia Social e Solidária e este foi meu marco para deixar a vida corporativa pela cooperativa. Durante este fórum eu percebi que o modelo de negócio de cooperativismo dá certo na maior parte do mundo e ainda derrapava no Brasil, nossa missão seria transformar este modelo de negócio conhecido e desejado. Eu acredito no cooperativismo por colocar no centro da decisão o trabalhador e com isso distribuir de forma mais equitativa e justa a riqueza gerada por este profissional, isso garante maior eficiência no uso dos recursos, assim como melhor eficácia na entrega dos resultados. Depois de uma tentativa frustrada na prefeitura, resolvemos fazer tudo por conta própria e coletar óleo de cozinha. Nessa época nos inscrevemos em alguns prêmios, ganhamos alguns e a cooperativa foi crescendo, saímos na mídia e fomos convidados a participar como conselheiros de resíduos sólidos no Instituto Ethos. Após uma longa negociação fechamos nosso primeiro cliente, a Associação e-business park na Lapa, um condomínio de mais de 14 mil pessoas, em São Paulo. Hoje temos duas fontes de receitas, a venda de materiais e a prestação de serviços: de coleta, conscientização, triagem, diagnóstico e logística reversa.
Nossa principal missão é resgatar a essência do cooperativismo, em seus princípios doutrinários, e provar que é possível desenvolver um trabalho de qualidade, com preço e prazo competitivos com os catadores no centro de decisão do negócio. Este trabalho reconhece o esforço desta mão de obra marginalizada pela sociedade e pela sua contribuição ao meio ambiente e à sociedade em geral, sem necessidade permanente de filantropia. Nosso sonho é criar uma caixa de ferramentas, cheia de modelos interessantes de gestão e operação que possam ser utilizados no Brasil e mundo afora, em diferentes organizações que queiram dar um salto na qualidade de suas operações. E com isso mostrar à sociedade que os trabalhadores que cumprem uma função social fundamental, como da reciclagem, podem entregar um serviço a altura da expectativa do mercado.
Saiba mais: www.yougreen.com.br