Uso E Integração De Tecnologias Sustentáveis Nas Ecoarenas - Sede Da Copa Do Mundo No Brasil

Elas servem de exemplo para gerar negócios e projetos inovadores na solução dos atuais problemas ambientais das cidades e indústrias


Uso E Integração De Tecnologias Sustentáveis Nas Ecoarenas - Sede Da Copa Do Mundo No Brasil


A Copa do Mundo de 2014 no Brasil está sendo indiscutivelmente a primeira a ser modelo de sustentabilidade para os outros países. Além de cumprir compromissos sociais e ambientais, todas as arenas-sede tiveram como meta estar em conformidade com a Leed – Leadership in Energy and Environmental Design, do U.S. Green Building Council (USGBC), certificação que busca práticas sustentáveis (ver boxe). Transformados em Ecoarenas, como são chamados os estádios ecológicos/verdes, entre eles, o Mané Garrincha e o Mineirão são dois exemplos de captação, tratamento e reaproveitamento da água da chuva para diversas aplicações das dependências dos Estádios, além de outras práticas e recursos e uso de equipamentos com dispositivos para economizar água. É importante destacar também o que diz Guilherme Castagna, sócio-fundador da Fluxus Design Ecológico, sobre os projetos e novos negócios em sustentabilidade que geram grande oportunidade de lucros pela necessidade, urgente, das cidades e empresas desenvolverem estas práticas para lidar com as problemáticas ambientais existentes.

Ecoarena Mané Garrincha
O sistema de manejo de águas pluviais desenvolvido para o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, no Distrito Federal, capta a água da chuva, trata essa água e a reaproveita para atender 100% das necessidades de água não potável da Arena, como na irrigação do campo, no reservatório de incêndio, nos vasos sanitários, nos mictórios e nos espelhos d’água. O projeto é importante também para a recriação do ciclo hidrológico local, através da retenção e infiltração para recarga do lençol freático e redução das ilhas de calor pelo sombreamento das árvores e aumento da umidade do ar gerado pela evapotranspiração das plantas e em lâminas de água livre. Além disso, o Estádio produzirá e gerará sua própria água, sendo uma alternativa de solução a um sistema em que há elevado custo ambiental e energético.
A área externa complementa o uso interno do Estádio. Na parte externa, a água é captada em toda a área de estacionamento, jardins e esplanada (passeio de pedestres), projeto de manejo integrado de água pluvial desenvolvido pela Fluxus Design Ecológico, que atua com trabalhos baseados nas certificações de qualidade. Na parte interna, também será captada e reaproveitada água da chuva da cobertura e do campo, feita pela MHA Engenharia, empresa responsável pelas instalações, que utiliza filtros de areia. "Todos os projetos foram planejados visando às certificações. No caso do sistema de consumo de água, utilizamos aparelhos de baixo consumo", diz o engenheiro Ricardo Augusto, da MHA Engenharia. Para armazenamento da água, são utilizados cisternas, reservatórios e lagos. A arquitetura ficou a cargo da Castro Mello Arquitetura Esportiva e o projeto paisagístico foi da Benedito Abbud Arquitetura Paisagística.
Por conta das etapas do processo de licitação, as obras de engenharia de utilização da água da chuva começarão somente após a Copa. "A licitação foi vencida pelo consórcio que construiu o Estádio, formado pela Via Engenharia e Andrade Gutierrez. Mesmo assim, a obra só será realmente iniciada depois da Copa", afirma Guilherme Castagna, sócio-fundador da Fluxus Design Ecológico. Além do cunho ecológico e uso sustentável da água, o objetivo do projeto também é reduzir os custos de manutenção do Estádio com economia no dinheiro gasto com a água pública.



Metas sustentáveis
Para avaliar as práticas sustentáveis, a certificação Leed se baseia em critérios de: localização, inovação e processo do projeto, eficiência no uso da água e no tratamento de esgoto, redução no consumo de energia por meio de fontes renováveis, uso de materiais e recursos e qualidade do ambiente interno. Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a Fédération Internationale de Football Association (Fifa) e o Comitê Organizador Local (COL) fixaram como meta a construção e transformação de estádios verdes, manejo de resíduos, projetos de apoio às comunidades, redução e compensação das emissões de carbono e incentivo às fontes de energia renováveis.
Os projetos desenvolvidos para os Estádios visam atender ao conceito de sustentabilidade, que engloba os âmbitos social (atender a todos os grupos), econômico (ser viáveis economicamente) e ambiental (preservar a biodiversidade dos recursos naturais). A Agenda 21, também neste aspecto, enfatiza a gestão do uso da água e a busca por alternativas sustentáveis. Entre elas, aproveitamento das águas pluviais, dessalinização da água do mar, reposição das águas subterrâneas e reúso da água.



Sistemas e filtragem
Para atender ao Estádio Mané Garrincha, de acordo com a MHA Engenharia, foram utilizados sistemas de filtros para água tratada modelo DW5000, vazão 20,00 m3/h, carcaça em aço AISI 304 e elemento filtrante quartzo. Os equipamentos específicos para o projeto foram das empresas DeepWater e Tech Filter.
Segundo Ricardo Augusto, o sistema de aproveitamento de água de chuva do Estádio Mané Garrincha faz a coleta de águas da cobertura cuja área é de 74.990,60m². "A água é coletada por sistema de captadores e direcionada por gravidade até os quatro reservatórios com capacidade total de 1.400m³ localizados em quatro pontos distintos, onde a água passa por sistema de gradeamento e filtragem. Após o sistema de filtragem, a água é transferida para o reservatório de consumo localizado no 3º subsolo", explica o engenheiro. O sistema conta com quatro conjuntos de filtração e bombeamento para utilização na alimentação de bacias e irrigação, lavagem de pisos, entre outros. Para o sistema de irrigação, foi previsto um reservatório que recebe água de duas fontes distintas, uma proveniente da coleta de águas do sistema de drenagem do campo.
No projeto da Fluxus, a integração do paisagismo e sistema de drenagem do Estádio Mané Garrincha proporciona reter, purificar e utilizar a drenagem de águas externas e de chuvas em lagos e cisternas, dentro e fora do Estádio. Na parte externa, o sistema de manejo consiste de pavimentos permeáveis intertravados de juntas drenantes associados a jardins de chuva, biovaletas para filtragem de água de drenagem dos estacionamentos e planters nas esplanadas de acesso de pedestres.
"A água dos lagos externos fica armazenada para uso interno dentro do Estádio", diz Castagna. Os lagos atuam em conjunto com Wetlands, sistemas de tratamento de águas que utilizam plantas aquáticas selecionadas para fazer a filtragem dos poluentes. A Arena foi construída com cobertura de tensoestrutura sobre arquibancadas, estacionamentos e áreas de apoio, vestiários, central médica, lojas e outros com técnicas compensatórias em microdrenagem para manejo adequado da água de drenagem pluvial. 

Uso E Integração De Tecnologias Sustentáveis Nas Ecoarenas - Sede Da Copa Do Mundo No Brasil


Uso E Integração De Tecnologias Sustentáveis Nas Ecoarenas - Sede Da Copa Do Mundo No Brasil


Projetos e negócios sustentáveis lucrativos
Os novos projetos e negócios gerados para atender à sustentabilidade promovem também os cuidados que se devem ter com a água para o impacto saudável no meio ambiente. "Os novos projetos e negócios são uma solução inovadora. Na verdade, o que falta é um planejamento de ciclo hidrológico nas cidades. Elas são pessimamente mal planejadas. Poluímos os rios e vamos buscar água cada vez mais longe em vez de melhorar o acesso aos rios. Falta a gestão de água de chuva, que, por não ser gerida, traz poluentes para os rios, como lixo das ruas, material de construção, entre outros", adverte Castagna. 
Esta é uma oportunidade ainda não aproveitada neste segmento que pode dar lucros para quem tem expertise no setor. "A escassez que estamos vivendo necessita de aproveitamento, manejo de água de chuva e de esgoto. Passou da hora, já deveríamos ter feito isso há muito tempo. As indústrias têm uma necessidade muito grande de desenvolver estas práticas", aponta o sócio-fundador da Fluxus Design Ecológico. Outra oportunidade de negócio percebida também pelo engenheiro Ricardo Augusto, da MHA Engenharia, diz respeito a fazer uso das águas dos estacionamentos externos. "Estas águas podem ser coletadas e tratadas para aproveitamento na irrigação de parques de áreas verdes da região e também lavagem de pisos e ruas", indica.



Superação
O Estádio Mané Garrincha está prestes a ser o único no mundo a receber o nível Platinum da Certificação Leed, índice máximo de sustentabilidade. A certificação Leed de escoamento de água de chuva exige do empreendimento: (6.1) redução do escoamento superficial (a água da chuva deve ser absorvida onde ocorre a precipitação); e (6.2) melhoria da qualidade de escoamento (como fontes poluidoras dos rios, os volumes excedentes devem ser tratados). A Fluxus Design Ecológico atingiu um grau tão alto de excelência no seu projeto que superou estas duas exigências da Leed. Além desta recomendação, o projeto de manejo de águas pluviais do Estádio, da Fluxus, ganhou o terceiro lugar em dois prêmios: o Von Martius Sustentabilidade 2013, na categoria Tecnologia, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo; e o Saint Gobain Habitat Sustentável 2014, na categoria Projetos, do Grupo industrial Saint-Gobain.



Ecoarena Mineirão
Com a modernização realizada para a Copa do Mundo, o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte, transformou-se em uma Ecoarena, como são chamados os estádios ecológicos/verdes. O Mineirão também possui um sistema de captação de água de chuva para utilização em bacias sanitárias, mictórios e na irrigação do gramado. "A água captada da cobertura é coletada por prumadas de águas pluviais e encaminhada a reservatórios receptores locados no segundo subsolo. A água pluvial passa por um tratamento que inclui filtração e cloração. A água tratada é bombeada para os reservatórios superiores, de onde é distribuída para os mictórios e vasos sanitários", destaca Marcela Viana, supervisora de Meio Ambiente e Qualidade da Minas Arena – concessionária que administra o Mineirão.
Segundo ela, para filtragem da água, é utilizado o Filtro Central CNT F 5.000 em aço inox, composto por camada suporte de quartzo e areia filtrante. A empresa CNT Ambiental é responsável pelo sistema de filtração. Já o sistema de cloração fica a cargo da Tech Clean Consultoria Ambiental. O Estádio do Mineirão também está buscando a certificação internacional Leed para "edifícios verdes", além do Selo BH Sustentável, certificação em sustentabilidade ambiental da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte voltada para o desempenho dos edifícios e redução de impactos durante a operação.
No projeto do Mineirão, são utilizados ainda equipamentos com mecanismos e dispositivos que controlam a vazão de água e de fechamento automático para o consumo racional da água nas diversas aplicações. As torneiras e duchas, por exemplo, são hidromecânicas ou com sensor. Nas hidromecânicas, o dispositivo é regulado por pressão no ponto acionado pelo usuário com tempo para funcionamento. Nas que têm sensor, o acionamento e ciclo de funcionamento se dão ao captar a presença do usuário. As bacias sanitárias dispõem de dispositivos para acionar a descarga que economizam água, como as válvulas "dual flush" e de sensor. As válvulas "dual flush" fazem um ciclo completo para descarga de efluentes sólidos e outro em meio ciclo para limpeza de efluentes líquidos. Já as com sensor precisam captar a presença do usuário para serem acionadas e, após sua saída da área de alcance, é feita a descarga.


Contato das empresas:
Fluxus Design Ecológico:
www.fluxusdesignecologico.wordpress.com
MHA Engenharia: www.mha.com.br
Minas Arena: www.minasarena.com.br

Publicidade