Filtro De Óleo Ecológico É Uma Alternativa Para Reduzir Impactos Ambientais
Por Daiana Cheis
Edição Nº 59 - Novembro/dezembro de 2012 - Ano 11
Fabricantes apostam na tendência de mercado voltado ao meio ambiente para que as montadoras no Brasil, a exemplo de outros países, também adequem seus novos projetos
Atualmente, um dos assuntos mais discutidos no planeta é a sustentabilidade ambiental, o que, basicamente, se resume na intensa busca do desenvolvimento econômico mantendo, ao mesmo tempo, a preservação do ecossistema. Essa tentativa se inicia na utilização de fontes energéticas que sejam renováveis, bem como materiais recicláveis e diminuição dos poluentes atmosféricos.
E aí chegamos aos maiores vilões dessa história: os automóveis. Responsáveis por cerca de 80% desses poluentes contra 5% das indústrias, é considerado um obstáculo para que se concretize qualquer iniciativa de sustentabilidade urbana, de acordo com o Ministério das Cidades.
Foi aprovada uma medida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), no Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) para que em 2013 os novos carros saiam já ajustados de fábrica para poluírem 33% a menos. Essa norma amplia a visão das montadoras e seus fornecedores para investir em tecnologia aplicada em novos projetos e atender essas medidas no setor automotivo.
Mesmo sendo uma minoria, alguns automóveis possuem o selo verde de tecnologia, pois contêm componentes fabricados com materiais ecológicos, como filtros lubrificantes, por exemplo.
O filtro de óleo ecológico está há mais de 10 anos no mercado nacional e, no entanto, ainda é considerado um produto novo, já que as montadoras não aplicaram esse conceito em todos os seus veículos.
Inicialmente, esse produto foi desenvolvido para atender as necessidades ambientais, buscando uma solução de produto reciclável, depois, para se tornar internacionalmente competitivo.
Conceitos e benefícios
Enquanto o filtro convencional dificulta a reciclagem, pois é composto por um conjunto selado de partes metálicas que, ao ser retirado do motor, retém uma quantidade de lubrificante; no projeto ecológico apenas o elemento filtrante é substituído, ou seja, o invólucro do filtro de óleo é fixo no motor não sendo necessária a sua troca. Além disso, para ser ecologicamente correto, o elemento filtrante necessita ser em papel natural, plástico ou sintéticos, materiais que permitem, portanto, a incineração após o uso, sem deixar resíduos no meio ambiente. Devem ser isentos de adesivos ou colas, pois estes produtos têm cadeias químicas complexas e a queima destas cadeias liberam gases tóxicos até mesmo cancerígenos.
Pode parecer uma mudança irrisória se comparado as muitas outras fontes de emissão de poluentes de um veículo, mas, se pensarmos na mesma proporção de milhões de automóveis que estarão deixando de degradar o meio ambiente ao utilizar um componente ecologicamente correto, os benefícios se tornam gradativos e eficazes.
"Os grandes benefícios dos sistemas montados com filtros ecológicos são o reaproveitamento total dos fluidos filtrados, por ser muito mais fácil prensá-los, e também enérgico, visto que a incineração dos mesmos gera energia térmica, substituindo a de outros combustíveis, como carvão, óleos diesel e BPF, etc. E no instante da reciclagem o produto ecológico é muito mais eficiente, pois dispensa a necessidade de abrir e removê-lo da carcaça, como ocorreria com um filtro convencional", afirma Rodolfo Cafer, da Assistência Técnica da Mahle Metal Leve SA.
Disponibilidade
Apesar deste filtro não estar disponível para todos os veículos nacionais, ainda assim, é significativa a comercialização do produto, não sendo apenas uma exclusividade dos automóveis top de linha. Graças à concorrência, os fabricantes já têm em seu portfólio esta opção para, além de importados, como, por exemplo, BMW (325, 520i, 525i, linha Cooper), Chrysler (PT Cruiser e Neon), Mercedes Benz (SLK, Série E e Série C), também para os chamados "populares", encontrados nas distribuidoras, concessionárias, auto peças, etc.
A Sogefi fornece o novo sistema de filtragem como equipamento original para as francesas Peugeot e Citroen (C3, C4 Pallas, C5, etc.). O ano de inserção deste filtro varia dependendo das versões do motor. No caso da Peugeot, por exemplo, pode ser encontrado a partir de 2001, nos modelos 307 (2.0), nos 206 e 207 em diferentes versões (1.4 e 1.6), o mais recente deles é o 3008, 1.6 de 2010.
Além de atender as montadoras já citadas, a Sofape também desenvolve o filtro para os automóveis de passeio da Ford, Volks, Renault, Kia, GM, além dos caminhões da Scania e Mercedes Benz, como o Axor.
A Mahle atua nas duas linhas (leve e pesada). Na lista para os motores ciclo Diesel encontra-se Valmet/Fodson e nos motores ciclo Otto aparecem, dentre outras montadoras, a Hyundai e a Fiat (Punto, Idea, Doblô 1.8, ambos flex 2010).
Redução de custos no processo de fabricação
A diferença entre os projetos ecológicos e convencionais está, justamente, nos materiais bem distintos entre si, modificando então todo o procedimento de fabricação, que no caso do filtro ecológico é isento do uso de solventes. "Um filtro tem em seu interior um elemento filtrante que pode ser ecológico ou convencional (adesivado ou colado) ou seja, temos vários componentes que são adicionados para garantir o funcionamento do conjunto e o sistema ecológico dispensa todos eles", explica o engenheiro, Rodolfo Cafer, da Mahle.
Ainda, segundo a Mahle, como este filtro tem um menor peso e ocupa menor volume que o convencional, existe um ganho de tempo em termos de transporte tanto para entrega quanto para reciclagem, custo que parece insignificante, mas que agrega alto valor ao produto final.
Em relação ao custo de fabricação, para a Mahle, o valor inicial de ambos projetos é equivalente; no filtro ecológico há o custo de fabricação do meio filtrante (papel ou meio sintético) e dos montantes laterais (em plástico) além do processo de ligação entre elas. No convencional há o mesmo elemento interno, contudo, este ainda recebe mais componentes como a carcaça, válvulas, entre outros; custando muito mais no final. Além disso, como informa Pedro Basso, engenheiro do grupo Sofape, o volume de produção é fator primordial para definir o custo da peça e ressalta que, por causa da concorrência mundial, desde as matérias primas até equipamentos, estão sendo viabilizado os custos finais dos filtros ecológicos. Isso representa uma redução inicial de 20% em relação ao convencional.
Esse menor custo também é reafirmado sob outro aspecto: "O sistema produtivo do filtro ecológico em relação ao blindado pode alcançar reduções de 50%, já que no processo convencional há um número maior de máquinas e pessoas durante a produção. O conceito ecológico quando bem estudado durante o projeto, define melhor produtividade, resultando na excelente qualidade do produto", compara o engenheiro.
Vantagens que vão além do meio ambiente
O consumidor pode sentir as diferenças também relacionadas ao custo benefício na performance do veículo. "A montadora define o projeto para o motor, incluindo as características do módulo do filtro de óleo, que pode maximizar o desempenho deste, aumentando a durabilidade e reduzindo a frequência das trocas", explica Carlos Canova e Ronilso S. Toledo, do Dept. de Engenharia da Sogefi.
A solução de renovar somente o elemento filtrante sujo, além de proporcionar uma troca mais limpa e mais facilidade no manuseio de retirada da peça, tem fator positivo do ponto de vista econômico, porque diminui os custos de manutenção do motor, enquanto que este será mais durável. "Os componentes descartáveis de baixo custo, como válvulas e carcaças, são substituídos por sistemas de longa vida útil muito mais precisos e confiáveis, garantindo maior durabilidade ao conjunto motor e periféricos (turbinas, bombas injetoras, direção hidráulica, etc.)", completa Rodolfo Cafer, da Mahle.
Mas os fabricantes alertam que as precauções que o consumidor deve tomar não mudaram junto com o produto, ao contrário, continuam as mesmas. Em relação a troca do filtro de óleo, apesar da facilidade já mencionada, o aconselhável é que seja feita por um
profissional.
Como o filtro ecológico depende do conceito do motor, não há, portanto, adaptações para os veículos que já rodam por aí. "Não existe no mercado nenhuma alternativa que propicie tal substituição", enfatiza Raul Cavalaro, Gerente Operacional de Produtos, Marketing e Vendas da Mann+Hummel Brasil. De acordo com Pedro Basso, do grupo Sofape, promover adaptações fora do projeto original, podem ocasionar o aumento do consumo do automóvel, levar a baixa performance e alterar sua programação pela ECU (Eletronic Control Unit).
Brasil a passos curtos
Por volta da década de 90 os principais fabricantes já inciavam as atividades de implementação desse conceito na Europa e na Ásia. A Mahle, por exemplo, foi uma das precursoras desta tecnologia desde o final da Segunda Guerra Mundial. Para evitar a perda de material, escasso no final do conflito, uma vez que o módulo blindado é descartado, a fabricante sentiu a necessidade de atender às montadoras locais na época. Porém, essa inovação chegou ao Brasil muito lentamente. Em 1995, a Sogefi já tinha produção na Europa, mas só em 2005 os estudos ganharam território nacional. A própria Mahle-Filter, só iniciou os estudos no Brasil em 2001, e não foi diferente com as demais concorrentes Mann+Hummel, instalada por aqui em 2000, e a Sofape em 2005.
O problema talvez ainda esteja na comercialização do produto em grande escala, responsabilidade atribuída às montadoras pelos fabricantes.
"Para o elemento ecológico ser comercializado em 100% das aplicações, é necessário que haja uma mudança nos novos veículos nessa direção", afirma Cavalaro da Mann+Hummel.
Mudança esta que a Sofape acredita ser questão de pouco tempo para as montadoras do país adequarem este conceito aos novos projetos, já que a frota dos importados está conquistando cada vez mais espaço no território nacional. "No Brasil este paradigma está sendo quebrado com o aumento de volume das marcas asiáticas, forçando as demais montadoras a direcionarem seus projetos a este tipo de tecnologia. Havendo demanda, os incentivos para políticas de consumo começam a ser viabilizadas", opina o engenheiro, Pedro Basso.
Sem contar que alguns países já não aceitam os motores com filtros convencionais, induzindo as montadoras cedo ou tarde a buscarem alternativas para ceder aos critérios não apenas ambientais, mas também financeiro.
"Quando a Mahle iniciou a produção de filtros ecológicos, por ser a única a dominar o processo e as demais fabricantes utilizarem o método convencional, o custo inicial do sistema ecológico era maior, pois necessitava a utilização de uma carcaça fixa, além dos componentes que não são mais descartáveis, o que criava um bloqueio. Porém com as exportações crescentes do ramo automotivo e as barreiras de alguns países que não aceitam mais os filtros convencionais, os fabricantes substituíram os cabeçotes montantes dos blindados para carcaças ecológicas e poder assim atender estes mercados. Hoje nos novos projetos o sistema ecológico é a prioridade, e mesmo nos motores antigos, quando as montadoras solicitaram a conversão do módulo convencional para o ecológico conseguimos desenvolver as alterações.", afirma Rodolfo Cafer.
Com exceção da Sogefi que, a princípio, se adequou ao mercado para atender a necessidade do grupo PSA (Peugeot e Citroen), as demais fabricantes também cederam a pressão do mercado internacional. "Nós vimos a necessidade de fazer parte deste mercado com soluções para OES e AEM com filtros que atendessem a performance do projeto original", confirma Pedro Basso, da Sofape.
Expectativa
Embora dependa da estratégia de cada montadora, a aposta é que para nos próximos anos todos os motores sejam projetados para admitir o filtro ecológico, tornando-o como projeto padrão e não opcional. Isso porque, o conceito de sustentabilidade é uma tendência mundial que obriga os profissionais do ramo a apresentarem soluções, uma vez que os antigos projetos não atendem mais as normais ambientais.
"A expectativa está relacionada com as novas tecnologias de motores que estão chegando ao mercado com propostas de redução do número de cilindros para família Otto e motores eletrônicos na família Diesel, além de normas governamentais mais rigorosas que impõem maiores estudos dos engenheiros em busca de melhores alternativas tecnológicas para o mundo dos filtros automotivos", conclui Pedro Basso.