Para se manter desperto, estimular o organismo, acompanhar uma reunião ou apenas apreciar o sabor e aroma. Qualquer que seja o motivo não se pode negar a importância do tradicional cafezinho para o brasileiro.
A bebida teria sido descoberta na Absínia, hoje Etiópia, pelo pastor Kaldi após observar o comportamento de suas cabras que costumavam se alimentarem dos pequenos frutos castanho-avermelhados. Ele resolveu então fazer uma infusão com eles e descobriu os seus efeitos estimulantes. Depois deste momento as culturas de café começaram a se espalhar pelo Iêmen até se tornarem extremamente populares em Constantinopla. Chegaram à Europa por intermédio dos venezianos e à América trazida pelos holandeses. No Brasil, seu cultivo iniciou-se na região norte (em Belém, Pará) até se espalhar pelo país tornando-o uma grande potência exportadora. Atualmente, somos o maior produtor de café, sendo responsável por cerca de 30% do mercado mundial e, no ano passado, o consumo interno per capita foi de 83 litros com perspectivas de aumento para 2013, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).
O que poucos imaginam enquanto se deliciam é toda a ciência que está por trás de uma boa dose de café. Desde o plantio até a colheita muito trabalho é empreendido, mas um bom grão pode ter sua qualidade alterada se não for também bem preparado.
Diversos podem ser os processos de preparação do café, tais como filtragem, percolação (comum na Europa), prensagem (prensa francesa, comum nos Estados Unidos) e pressão (método de obtenção do café expresso), mas nosso tradicional cafezinho é produzido pela filtração, onde o pó é colocado em coadores dos mais diversos tipos e recebem água quente, mas não fervente.

A história do filtro
A história do café filtrado teve seu grande marco com a criação do primeiro coador de papel na cidade de Dresden, Alemanha, em 1908, pela dona de casa Melitta Bentz. "Melitta, que até então se incomodava com o gosto amargo e com a borra desagradável no café que fazia, pegou um papel mata-borrão do caderno de seu filho, cortou-o sob medida e colocou-o em um recipiente.
Em seguida, utilizou uma tampa em cima do caneco que também continha orifícios e que servia para distribuir a água. Ao passar a bebida pela primeira vez, ficou entusiasmada com o resultado e, dessa maneira, foi criado o filtro original", conta Denise Ritur, gerente de Filtros e Acessórios da Melitta.
A ideia de fazer o café utilizando um porta-filtro e um filtro de papel foi patenteada e, dessa forma, surgiu a primeira empresa do setor, a Melitta. "Hoje, com mais de 100 anos de existência, a companhia continua sendo administrada pela família Bentz e conta hoje com um membro de sua 3ª geração na presidência", complementa Denise.
No Brasil, estes filtros de papel chegaram em 1968 e desde então evoluíram bastante. Para o filtro de ser boa qualidade ele deve atender a alguns requisitos como possuir força suficiente para evitar rupturas das fibras, resistir ao calor e às propriedades químicas da bebida, reter as partículas sólidas às quais é destinada a segurar de acordo com o diâmetro dos seus furos e não impedir o fluxo, ou seja, ser resistente ao entupimento.
Ao longo dos anos, para aprimorar ainda mais o cumprimento aos requisitos, desenvolveu-se, por exemplo, a tecnologia especial de microfuros que permite obter o máximo de aroma e sabor do café por possibilitar maior contato entre água e pó, além da dupla costura que garante mais segurança ao preparo. Também se desenvolveram vários tamanhos. Para o preparo manual são comuns o pequeno (nº 100), o médio (nº 102) e o grande (nº 103). Já para as cafeteiras existem os tamanhos médio (nº 2) e grande (nº 4) que possuem ângulos diferenciados devido ao suporte mais baixo e mais largo desses equipamentos. "O tamanho 100 é ideal para pessoas que moram sozinhas e que preparam pouco café enquanto o 102 e o 103 são indicados para maiores quantidades. O N2 e o N4 são específicos para as cafeteiras elétricas, pois se adaptam perfeitamente ao suporte e não são dobrados durante o preparo", explica Denise. O uso do coador correto é importante para evitar o rompimento e garantir a qualidade da bebida final.
Há também uma linha ecológica cuja principal característica é o papel amarronzado, produzido a partir da celulose natural que apresenta esta coloração devido à presença da lignina na polpa. Como não passa pela etapa de branqueamento o produto final conserva as características naturais. Estes filtros contribuem com a preservação do meio ambiente e não alteram as propriedades organolépticas do café filtrado.
Os filtros devem ser colocados em porta-filtros específicos que apresentam o mesmo tamanho deles. Do recipiente de latão com 13 cm de altura projetado por Melitta Benz até os nossos dias muita coisa aconteceu. O modelo atual começou a ser definido no ano de 1936 quando o corpo do coador começou a se estreitar gradualmente, afunilando-se e formando uma fenda. Com objetivo de adaptar-se a esse suporte é que os filtros começaram a adquirir o formato cônico que hoje conhecemos. Os suportes coloridos surgiram pela primeira vez em 1954 e, atualmente, estão disponíveis nas cores preta, azul, marrom, verde, laranja, vermelho, pink e roxo e com design que permite observar o café passando.
As principais vantagens do uso do filtro de papel estão na obtenção de uma bebida sempre homogênea, sem resíduos e com aroma e sabor. "Alguns especialistas no assunto acreditam que somente o preparo com filtro de papel consegue preservar todas as características de aroma e sabor do café. Além disso, se comparada a métodos mais tradicionais, como a do velho coador de pano, é mais prática e higiênica", garante Denise.
Há uma grande perspectiva para o mercado de filtros de papel nos próximos anos e promessa de novidades. "O que posso adiantar é que a companhia considera os filtros como fonte de crescimento para os próximos anos devido ao aumento das vendas e da participação no mercado brasileiro. A última novidade para os consumidores são as novas embalagens, que terão layout mais moderno e uma nova abertura no verso, facilitando a retirada do produto a cada preparo", antecipa Ritur.

Outros materiais
Mas além do papel, outros materiais, como o polipropileno, podem ser utilizados na confecção de filtros para café. Seu uso iniciou-se em 2006 na cidade de Caçador, Santa Catarina, quando Sidney Lenz criou e patenteou uma nova tecnologia a partir da utilização de equipamentos de tecido não tecido (TNT). Em 2009, com o auxílio da prefeitura do município, a empresa Super Supremo estruturou seu parque industrial em um terreno com cerca de 10.000 m2 de área total e cerca de 2.600 m² de área construída onde se encontra atualmente instalada.
Para garantir a qualidade final, a produção é controlada deste a aquisição da matéria-prima até expedição. "O tecido não tecido (TNT) é adquirido em bobinas de fornecedores pré-qualificados pelo sistema de gestão da qualidade da empresa com gramatura, diâmetro e largura pré-definidos" explica Marcio Kreusch, gerente industrial da Supremo Eireli.
O processo de fabricação envolve sete etapas principais: a formatação dos filtros, soldagem e corte, contagem, colocação nas caixinhas (embalagem primária), selagem e codificação das caixinhas, colocação das caixinhas dentro da caixa master (embalagem secundária) e paletização. "Na formatação, as bobinas são alinhadas na parte superior e inferior para adquirirem a forma do filtro convencional; na soldagem e corte é realizada a solda por ultrassom com facas e contra-facas pré-moldadas no formato do filtro; a contagem é realizada através de sensor de presença e antecede a etapa de colocação na embalagem primária onde os filtros são embalados normalmente com 30 unidades, mas cujas quantias podem ser diferentes dependendo da necessidade do cliente; na selagem e codificação ocorre a colagem da caixinha primária e a inserção de informações como data de fabricação, número do lote e data de validade; posteriormente as caixinhas são colocadas com 40 unidades dentro da embalagem secundária, a caixa é fitada e o produto é paletizado" detalha Márcio.
Estão atualmente disponíveis dois tamanhos de filtros de polipropileno: o número 102 que é utilizado para preparar 12 cafezinhos de 50mL e o número 103 que serve para quantidades maiores, cerca de 20 cafés, mas a empresa estuda a possibilidade de inserir novas opções de tamanho no mercado no futuro.
Kreusch ressalta as vantagens na utilização deste tipo de filtro: "Eles podem ser lavados e reutilizados por até cinco vezes sem a perda das características e da funcionalidade, filtram mais rapidamente e mantendo a temperatura ideal, mesmo quando o café apresenta granulometrias diferentes, conservam no filtrado todas as propriedades do café em infusão e podem ser reciclados e usados para a produção de outros objetos plásticos. Além disso, não retém todos os óleos essenciais do café, conferindo-lhe um sabor mais agradável".
A Associação Brasileira da Indústria do Café oferece algumas dicas gerais para o preparo adequado da bebida e algumas dicas específicas de acordo com o tipo de coador a ser utilizado. Em todos os casos é importante que se verifique a data de fabricação tendo em mente que o café recém-torrado sempre oferece uma bebida de maior qualidade. Isto porque após a moagem o produto fica mais exposto à ação de ar, calor, tempo podendo ser facilmente alterado por processos de oxidação, por exemplo. Sempre se deve acondicionar o produto bem vedado e de preferência na geladeira. A qualidade da água também é essencial devendo ser sempre filtrada ou mineral para garantia de sua pureza e a quantidade a ser preparada deve respeitar o que vai ser consumido em, no máximo, uma hora para evitar alterações no aroma e sabor.
Outro aspecto importante é o tempo de contato entre a água e o café que varia de acordo com o grau de moagem. Para os produtos de moagem fina deve durar entre seis e nove minutos, os de moagem média entre quatro e seis e, finalmente, os de moagem grossa não devem ultrapassar os 4 minutos. 

Usar a medida correta também é fundamental. O ideal é utilizar entre 80 e 100 gramas de pó (entre cinco e seis colheres de sopa) para um litro de água e esta água deve ser apenas aquecida (próximo a 90ºC) e nunca fervida já que a perda de oxigênio interfere com a acidez e altera o sabor. E só água deve passar pela bebida. A bebida já pronta jamais deve ser passada novamente, já que isto confere um sabor amargo e desagradável. Outro erro comum é preparar o café e guardá-lo adoçado o que pode causar a formação de crostas de caramelo no recipiente bastante ruim para a apreciação.
Para os cafés filtrados, normalmente se recomenda a utilização de moagens médias ou finas. O pó deve ser colocado no coador e a água despejada em fio, umedecendo-o. Após passar o café seguindo as instruções anteriores para temperatura de água e tempo de acordo com o grau de moagem cada tipo de filtro deve ser submetido ao tratamento adequado: os coadores de pano são lavados apenas com água (jamais com detergentes ou alvejantes) antes de serem colocados para secar para serem reutilizados. Os filtros de papel devem ser descartados e os de polipropileno lavados e reutilizados por até cinco vezes, sendo posteriormente eliminados.
Então seja no seu carro, na indústria ou no café do seu cotidiano, a tecnologia de filtros está presente. E, no caso do famoso cafezinho, sua qualidade é primordial para garantir uma bebida com mais aroma e sabor.
 
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