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Carlos Tavares acredita que crise da falta de semicondutores poderia ter sido amenizada e melhor administrada

CEO do Grupo Stellantis ve falta de sensibilidade dos fornecedores, que começaram a sentir o problema já em setembro/outubro


PEDRO KUTNEY, AB

Para Carlos Tavares, CEO Grupo Stellantis, a atual crise global de falta de semicondutores, que está paralisando linhas de produção de veículos no mundo inteiro, poderia ter sido amenizada e melhor administrada. “Houve falta de sensibilidade de nossos fornecedores tier 1 (sistemistas), que começaram a sentir o problema já em setembro/outubro, mas não nos avisaram e isso agora tem consequências negativas, que devem durar pelo resto do ano”, apontou.

Em meio à “briga” global para comprar e transportar eletrônicos às linhas das montadoras, Tavares avalia que as fábricas do Grupo Stellantis estão melhor posicionadas. “Na média, até agora interrompemos menos a produção do que os concorrentes. Nossas equipes de supply chain têm trabalhado dia e noite para evitar falta de componentes, estamos no combate”, afirma Tavares.

O executivo pontua que a indústria automotiva, por sua característica de trabalhar com uma longa cadeia de suprimentos, foi mais lenta do que outros setores para se recuperar das paralisações causadas pela pandemia de Covid-19 em 2020, e quando começou a retomar a produção para níveis pré-crise se deparou com a falta de componentes, que não foram encomendados com a antecedência necessária. No caso dos semicondutores o problema é mais grave porque depende de poucos fornecedores mundiais da Ásia, principalmente de Taiwan, que direcionaram seu fornecimento a outros setores com alta demanda, como fabricantes de smartphones, games e eletrônicos de maneira geral.

FALTAM RECURSOS PARA AMPLIAR BASE DE FORNECEDORES

Tavares defende que a cadeia global do setor automotivo deveria ser revista e ampliada para evitar novas crises como a atual, mas reconhece que não há soluções fáceis. Ele dá o exemplo da Stellantis: “Nós produzimos 500 mil veículos por mês, cada um tem em média 4 mil peças e 90% desses fornecedores são únicos. Isso mostra a dificuldade que temos. Para ampliar a base de fornecedores e aumentar a segurança de suprimentos são necessários investimentos muito altos e a indústria não tem esses recursos”, destacou.

Segundo o CEO, a Stellantis está fazendo o possível para encontrar alternativas à falta de alguns componentes, mas para semicondutores há poucas possibilidades. “Para construir novas fábricas de semicondutores e competir com a Ásia seriam necessários investimentos estatais, porque a indústria automotiva sozinha não tem esses recursos. Ele cita o exemplo dos governos da França e Alemanha, que apoiaram a construção da fábrica de baterias do grupo, por considerar estratégico e fundamental para ampliar a produção e venda de carros elétricos na Europa.

“Fazer novas fábricas de semicondutores tem de ser uma aposta forte de países que querem lutar contra [a hegemonia] da Ásia inteira nesse setor”, resume.
 

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