Publicidade

Falta de semicondutores deve causar prejuízos enormes à indústria automotiva no mundo todo

Estimativa da consultoria Auto Forecast Solutions aponta redução de 1,76 milhão de unidades no mundo todo este ano


PEDRO KUTNEY, AB

Segundo monitoramento realizado pela consultoria Auto Forecast Solutions (AFS), sediada nos Estados Unidos, as paralisações já conhecidas por escassez de componentes eletrônicos já interromperam a fabricação de 933 mil veículos globalmente e a projeção aponta para 1,7´6 milhão de unidades que deixarão de ser produzidas em 2021 caso o fornecimento de suprimentos não seja restabelecido. Na América do Sul, onde o Brasil protagoniza cerca de 80% da produção, a AFS projeta perda de 40 mil veículos até agora e 80 mil no ano inteiro.

O problema é grande e está crescendo: a cada semana são anunciadas novas paralisações e o volume de veículos não produzidos está aumentando. No começo de março, por exemplo, a AFS estimava que 882 mil unidades não seriam fabricadas devido às interrupções conhecidas, mas com as novas suspensões este número cresceu 13,5% em uma semana, para 933 mil. O cenário piora quando se coloca em perspectiva que a indústria não conseguirá recuperar a maior parte desses volumes perdidos, deixando assim de aproveitar a esperada recuperação da economia global e consequentemente da demanda por veículos.

Boa parte dos analistas avalia que o problema persistirá, seguirá piorando até fim deste semestre e não deverá ser totalmente resolvido até o fim do ano. Os poucos fornecedores de semicondutores localizados na Ásia operam a pleno vapor, acima da capacidade instalada, e não conseguem atender toda a demanda, que retornou muito forte de vários setores industriais ao mesmo tempo a partir do último trimestre de 2020, gerando desiquilíbrio na cadeia global de suprimentos.

Alguns governos europeus e dos Estados Unidos já anunciaram investimentos bilionários em novas fábricas do insumo que se torna cada vez mais estratégico para mundo inteiro, dado o grande volume de eletrônicos consumidos, mas nenhuma dessas iniciativas terá o poder de amenizar a falta de componentes no curto prazo. Portanto, a indústria terá de conviver com essa questão ainda por vários meses à frente.

PARALISAÇÕES NO BRASIL

No Brasil a escassez de semicondutores (100% importados) já paralisou com diferentes intensidades algumas das maiores fábricas de veículos instaladas no País. A General Motors de Gravataí (RS) está parada em férias coletivas (do fabricante e de seus fornecedores dentro do complexo) desde o início de março e quando voltar a operar, em abril, vai afastar metade dos empregados para funcionar em um só turno (leia aqui).

A GM produz na unidade gaúcha mais de 20 mil unidades por mês da linha Onix (hatch e sedã), até fevereiro passado o carro mais vendido do mercado brasileiro, o que dá a dimensão do grande volume que deixa de ser fabricado e que dificilmente será recuperação com a redução do ritmo já antecipada nos próximos meses.

Outra grande fábrica produzindo abaixo da demanda é o Polo Automotivo Fiat de Betim (MG), da Stellantis, que do dia 10 ao 22 deste mês interrompeu um dos dois turnos de trabalho para adequar as linhas à falta de componentes. A interrupção ocorre justamente no momento em que há filas de espera por um dos modelos fabricados na planta, a nova picape Strada lançada em meados do ano passado, que se tornou um dos três veículos mais vendidos do País e motivou a fabricante a aumentar o ritmo de produção do modelo, o que foi frustrado pelos problemas da cadeia de suprimentos.

Pela escalada do problema global, novas paralisações poderão ser adotadas nas próximas semanas.
 

Publicidade