Grupo Volkswagen supera as dificuldades de 2020 com resultados financeiros positivos

Impacto da pandemia reduziu faturamento e resultado operacional, mas companhia se manteve rentável


PEDRO KUTNEY, AB

O Grupo Volkswagen e suas 12 marcas/divisões de veículos superaram as dificuldades de 2020 com resultados financeiros positivos, apesar da mais que esperada queda de volumes, faturamento e lucro operacional, segundo balanço anual divulgado esta semana. Ainda que com diferenças para cima ou para baixo entre regiões e divisões, a expectativa da diretoria da companhia é que 2021 irá trazer de volta o crescimento em níveis parecidos com os de 2019, mas assumindo que o desempenho depende de uma bem-sucedida contenção da pandemia de coronavírus no mundo inteiro.

“O Grupo Volkswagen novamente provou sua solidez em 2020, a despeito dos desafios colocados pela Covid-19. Nosso lucro operacional de € 10 bilhões superou significativamente todas as expectativas que tínhamos no pico de início da pandemia. Apesar das dificuldades, a companhia atingiu sua meta estratégica de gerar fluxo de caixa positivo de mais de € 10 bilhões”, observou Frank Witter, membro do conselho de administração responsável por finanças.

A recuperação de vendas e rentabilidade ainda em 2020 é atribuída em boa medida aos bons resultados na China, o maior mercado individual, que apresentou a mais rápida retomada dos negócios entre todos os países e provou ser “uma âncora de estabilidade na crise”, diz o comunicado da empresa.

Também é citado o aumento de participação da Volkswagen na América do Sul para o recorde de 14% e onde a companhia tem expectativa de retornar ao lucro ainda este ano. O grupo aponta ainda a superação da crise de emissões dos motores diesel na América do Norte, com lançamentos de produtos especialmente projetados para a região.

Na Europa, o destaque é o acelerado crescimento das vendas de veículos elétricos a partir do lançamento do VW ID.3, que fez a participação da marca em vendas de BEVs (Battery Electric Vehicles) na Europa Ocidental saltar de 1,9% em 2019 para 10,5% em 2020. O grupo já lidera o segmento na região.

BALANÇO POSITIVO COM MARGENS APERTADAS EM 2020

Todas as empresas do grupo venderam o total de 9,3 milhões de veículos no mundo em 2020, resultado 15% inferior ao de 2019, foram vendidas 1,7 milhão de unidades a menos devido aos efeitos da pandemia de Covid-19. Com isso, o faturamento global caiu 11,8%, somando € 223 bilhões. A retração também foi influenciada por taxas de câmbio desfavoráveis com a desvalorização de algumas moedas de países onde a companhia tem forte atuação – como é o caso do real no Brasil e do peso na Argentina.

Apesar da disciplina financeira adotada ao longo do ano, a combinação de gastos estabilizados com faturamento menor fez o lucro operacional (antes de gastos extraordinários, impostos e despesas ou ganhos financeiros) chegar a € 10,6 bilhões, em forte contração de 45% na comparação com 2019, baixando a margem de lucro da companhia a 4,7% (a previsão era 7,6% no início de 2020). O resultado foi considerado positivo diante das circunstâncias desfavoráveis do ano passado.

As despesas extraordinárias originadas na fraude detectada em 2016 do controle de emissões de motores diesel do grupo ainda causam estragos no balanço. Em 2020 a companhia desembolsou € 900 milhões em pagamentos com multas e indenizações relacionadas ao escândalo conhecido como “dieselgate”, valor relevante, mas já bastante abaixo dos € 2,3 bilhões desembolsados em 2019. Após esse gasto extraordinário, o lucro operacional apurado baixa para € 9,7 bilhões e a margem para 4,3%. O objetivo a partir de 2021 é fazer essa margem voltar para o nível de 7% a 8%.

A venda de participações e a incorporação de ações de empresas do grupo superaram as despesas extraordinárias, fazendo o lucro líquido do Grupo VW fechar 2020 em € 6,34 bilhões, em robusto crescimento de 27,8% sobre os € 4,96 bilhões apurados em 2019.

MAIOR DIVISÃO, VOLKSWAGEN FAZ 60% DOS VOLUMES E 32% DAS RECEITAS

A maior das divisões do grupo, a fabricante dos carros Volkswagen, foi responsável por quase 60% das vendas globais no ano passado, com 5,3 milhões de veículos entregues a clientes no mundo (-16% sobre 2019), o que resultou em faturamento de € 71,1 bilhões, 19,6% abaixo do ano anterior, que contribuiu com 32% das receitas do grupo. O lucro operacional de € 1,4 bilhão no quarto trimestre compensou os prejuízos anteriores, fazendo o resultado do ano ficar positivo em € 454 milhões, equivalente a uma reduzida margem de 0,64%, entre as mais baixas de todas as empresas da companhia.

“Em 2020, nós cuidadosamente investigamos todos os nossos projetos e fizemos uma rigorosa lista de prioridades. O forte desempenho no segundo semestre do ao mostra que implementamos as medidas corretas”, afirmou o executivo-chefe de finanças (CFO) da Volkswagen Passanger Cars, Alexander Seitz.

Entre as ações para garantir o resultado operacional do ano ficasse com sinal positivo, a fabricante aplicou cortes de € 1 bilhão em custos fixos e ajustou a produção à demanda, o que reduziu em 10% os estoques na comparação com o ano anterior. “A despeito das retrações causadas pela pandemia de coronavírus, vamos continuar trabalhando consistentemente para alcançar margem operacional (sobre faturamento) de 6% até 2023”, completou Seitz.

ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO

Para seguir na rota do crescimento sustentável, que preserva a rentabilidade em um ambiente de profundas transformações que exige investimentos bilionários, a estratégia é aumentar as sinergias e assim diluir gastos entre as empresas e marcas do Grupo VW.

“Eletrificação e digitalização estão mudando os veículos mais rápido e radicalmente do que nunca antes. Economia de escala é fundamental para viabilizar isso. Nossa estratégia de plataforma nos coloca em uma boa posição para aproveitar todo o potencial do grupo. Assim vamos desenvolver tecnologias mais rapidamente para todas as marcas e aumentar o número de pessoas que se beneficiam delas”, afirma Herbert Diess, CEO do Grupo VW.

Uma dessas sinergias é o maior compartilhamento da plataforma elétrica MEB que vem sendo desenvolvida desde 2016 e já é aplicada em modelos a bateria como os recém-lançados Volkswagen ID.3 e ID.4. Este ano a marca já projeta vender 300 mil carros baseados na MEB, assim como 150 mil híbridos.

Até 2022 o plano é lançar 27 veículos elétricos de diversas marcas do Grupo VW produzidos na Europa, China e Estados Unidos. Também no próximo ano está previsto o lançamento de carros fabricados sobre uma versão premium de plataforma elétrica, a PPE, com aceleração mais rápida, maior autonomia e tempos de recarga menores. A partir do meio desta década, o grupo promete desenvolver uma geração de elétricos sobre uma plataforma escalável e totalmente digital.

Os softwares e sistemas de conectividade também serão amplamente compartilhados nos próximos anos. Tudo será baseado no sistema operacional Volkswagen (VW.OS) que será fornecido pela Car.Software-Org., empresa criada em 2020 para desenvolver a programação digital de veículos de todas as marcas do grupo, incluindo condução autônoma e serviços de mobilidade baseados em dados. A intenção é aumentar dos atuais 10% para 60% o compartilhamento de softwares desenvolvidos dentro da empresa.

O Grupo VW também decidiu desenvolver e produzir suas próprias baterias, com o objetivo de reduzir em até 50% o preço do componente mais caro de um carro elétrico (leia aqui). Serão construídas seis fábricas e as duas primeiras começam a operar na Suécia em 2023. Até 2030 o objetivo é que 80% dos veículos elétricos de diversas marcas do grupo vão usar as baterias VW.

O quarto elemento da estratégia é o aproveitamento dos dados originados na digitalização e conectividade dos veículos para oferecer novos serviços aos clientes. Os serviços de mobilidade também estão nos planos com o desenvolvimento de plataformas de compartilhamento e planos de assinatura – a marca Volkswagen, por exemplo, vai lançar programas de locação para o elétrico ID.3 em seis cidades alemãs a partir da metade deste ano.

Os recursos para viabilizar a estratégia, segundo a companhia, devem vir de cortes e realocação de verbas. Até 2023 o grupo pretende cortar 5% dos custos fixos, cerca de € 2 bilhões do orçamento de 2020, mas exclui dessa conta investimentos em capital fixo (equipamentos, fábricas etc.) e pesquisa e desenvolvimento, que por sua vez deverão ser reduzidos para 6% do faturamento até 2025. Ao mesmo tempo, a empresa tem como meta diminuir em 7% os gastos com compras de materiais.

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