Volkswagen colhe resultados positivos com plataforma MQB e planeja investimentos para reestruturar negócios no Brasil

Número de veículos projetados e construídos sobre a MQB na América do Sul seguirá crescendo com o lançamento do novo SUV Taos


PEDRO KUTNEY, AB

O programa de lançamentos de veículos da Volkswagen na América Latina fabricados no Brasil sobre a plataforma MQB do grupo, que vem sendo desenvolvido desde 2017 com a produção local do Polo, Virtus, T-Cross e Nivus, começou a apresentar resultados positivos no balanço da região já em 2020, mesmo sob os efeitos negativos da pandemia de coronavírus. A região já opera na zona de equilíbrio, sem prejuízo, e deve voltar a apresentar lucros em 2021, segundo destacou Ralf Brandstätter, CEO global da Volkswagen Passenger Cars, durante apresentação dos resultados e perspectivas da empresa na quarta-feira, 17.

A expectativa do executivo é lastreada pela economia de escala garantida pelo uso de uma plataforma modular para vários modelos, o que dilui custos de desenvolvimento e componentes compartilhados. O número de veículos projetados e construídos sobre a MQB na América do Sul seguirá crescendo com o lançamento de mais um SUV, o Taos, produzido na Argentina e que deve começar a ser vendido no Brasil a partir de maio próximo. Mais adiante no ano, é aguardada a produção de versão mais barata do Polo, que vem sendo chamada de Polo Track. Mas o projeto mais esperado é o de uma nova geração do Gol, carro mais vendido da marca na região, que poderá ser fabricado sobre variação da MQB com redução de custos e maior nacionalização de componentes, que vem sendo desenvolvida há mais de um ano entre as engenharias da empresa no Brasil e na Alemanha.

"A estratégia de produto está gerando frutos na América do Sul, onde lançamos veículos baseados na MQB. Agora estamos vendo as economias de escala que nos tornará lucrativos no longo prazo. Adicionalmente, uma profunda e consistente localização (de componentes) nos deixará independentes da flutuação das taxas de câmbio. Ao mesmo tempo, iniciamos um extensivo programa de reestruturação da operação. Nossa estratégia está começando a ganhar tração e já conseguimos o equilíbrio financeiro na região em todos os últimos cinco meses", afirmou Ralf Brandstätter.
 

PLANO PARA CORTAR CUSTOS, ELEVAR NACIONALIZAÇÃO E EXPORTAR MAIS

O plano de restruturação citado pelo CEO foi iniciado em todas as quatro fábricas da Volkswagen no Brasil em setembro passado, com o objetivo de reduzir em 35% o quadro de pessoal, o equivalente a cerca de 4,7 mil empregados. A empresa negociou um plano de demissão voluntária (PDV) com o pagamento de 15 a 35 salários extras para quem aceitasse sair e prometeu estabilidade no emprego por cinco anos para quem ficou. No caso da fábrica de Taubaté (SP), também entrou no acordo o aceno de novos investimentos na unidade, para incluir a plataforma MQB na unidade com a produção do Polo Tracker e a possível nova geração do Gol.

“Reservamos € 100 milhões para reestruturar nossos negócios no Brasil. O pacote associado de medidas terá importante papel em nosso objetivo de atingir o equilíbrio financeiro na região em 2021”, revelou durante a mesma apresentação Alexander Seitz, o executivo-chefe de finanças (CFO) da Volkswagen Passenger Cars (ele conhece bastante bem a operação brasileira, onde foi vice-presidente de compras de 2008 a 2013).

"Trabalhamos muito para melhorar os custos no mercado brasileiro, o que inclui ajustes de capacidade nas plantas, redução de turnos de trabalho, maior localização (de componentes) para a (plataforma) MQB, o novo Polo Track como um carro de entrada para a região, e aumento do potencial de exportações para fora da América do Sul", afirmou Alexander Seitz.

O executivo confirmou a expectativa de alcançar equilíbrio financeiro na região este ano, a despeito do cenário desfavorável que vem se desenhando com a nova intensificação da pandemia de Covid-19 no País. “Apesar da redução de 20% nas vendas [da Volkswagen na América do Sul] em 2020 (comparado a 2019), nós conseguimos melhorar os ganhos na região”, disse.

BALANÇO POSITIVO NA AMÉRICA LATINA

Em um balanço regional de vendas divulgado na quinta-feira, 18, a Volkswagen destaca que conseguiu bons resultados na América Latina em 2020, apesar dos ventos contrários trazidos pela pandemia, fechando o ano com a maior participação de mercado de sua história na região, que subiu a 14%.

“Na América do Sul nossas equipes estão obtendo uma história de recuperação impressionante. Em 2020, aumentamos nossa participação de mercado para um novo recorde de mais de 14%. E, pela primeira vez em muitos anos, temos a expectativa de que a região seja lucrativa em 2021. Com o Nivus, a Volkswagen pela primeira vez venderá na Europa um carro desenvolvido na América Latina”, afirmou Herbert Diess, presidente do conselho de administração do Grupo Volkswagen durante apresentação dos resultados da companhia na terça-feira, 16.

Entre as conquistas do ano, a empresa cita o lançamento do SUV-cupê compacto Nivus – mais um modelo projetado no Brasil sobre a plataforma MQB que também será produzido na Espanha e vendido em toda a Europa a partir de 2021. Ao mesmo tempo, o T-Cross lançado um ano antes se solidificou na liderança do segmento de SUVs no Brasil com 16 mil unidades vendidas. A marca foi a segunda mais vendida do País em 2020, com quase 328 mil emplacamentos, e obteve participação de 16,8% – um crescimento de cinco pontos porcentuais desde 2016.

Sem contar Brasil e Argentina, os dois maiores mercados da região, a Volkswagen também aumentou sua participação nas vendas de veículos nos demais países da América Latina para 4,37% em 2020, em crescimento de 0,37 ponto sobre o ano anterior. A expansão é atribuída ao aumento das exportações e lançamentos nesses mercados.

“A região latino-americana é um mercado muito importante para a Volkswagen e isso se reflete no apoio que recebemos da matriz em desenvolvê-la constantemente. Esses resultados positivos que vemos hoje são sustentados com lançamentos locais, como Nivus e T-Cross, enquanto estamos preparando o lançamento do Taos para o segundo trimestre deste ano, três SUVs desenvolvidos 100% por e para a região. Os lançamentos são acompanhados por um importante processo de digitalização e modernização que incluiu, por exemplo, o desenvolvimento da plataforma de infotainment VW Play, outro produto completamente local”, afirmou Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen América Latina. O executivo negocia um novo plano de investimentos da companhia na região, que pode ser anunciado até o fim de 2021.
 

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