Bloqueio do Canal de Suez pode impactar indústria automotiva brasileira

Maior atraso de entregas pode incentivar empresas a optar por maior produção local


GIOVANNA RIATO, AB

O bloqueio do Canal de Suez impõe mais desafios à já fragilizada logística global da indústria automotiva. “O trânsito entre Ásia e Europa é responsável por entre um quinto e um quarto de todo o comércio internacional de veículos. A ruptura desta logística pode, sim, refletir no Brasil”, diz Marcus Ayres, sócio da Roland Berger, lembrando que que o Canal de Suez é a principal via de transporte de bens entre os dois continentes.

Com isso, além dos efeitos imediatos do navio encalhado para diversos segmentos, a situação pode agravar o desabastecimento de veículos e de componentes para a produção em linhas de montagem ao redor do mundo nas próximas semanas.

"A crise causada pelo Canal de Suez deve acelerar a tendência de glocalização, que são as cadeias globais, mas com produções cada vez mais localizadas em algumas regiões. Ainda precisamos entender se, no Brasil, esse movimento vai implicar em uma maior industrialização ou se teremos a via contrária, de retirada de operações", analisa Ayres

Ele aponta que ainda é cedo para entender se o efeito será positivo ou negativo, mas o consenso é de que o País não está em posição favorável neste momento, já que enfrenta um impacto mais severo da pandemia de Covid-19, com a paralisação da operação de uma série de fábricas. Somado a isso, está a falta de semicondutores, item cada vez mais presente nos veículos que está escasso em todo o mundo e também prejudica os volumes fabricados no Brasil.

Por estas razões, Ayres aponta a questão do Canal de Suez como um catalisador do processo de glocalização, visto pelas empresas como um caminho para reduzir riscos e ampliar a competitividade. Segundo o especialista, as implicações deste processo para o País podem acontecer mais rápido que o esperado.

NORMALIZAÇÃO DO FLUXO DO CANAL DE SUEZ LEVARÁ DIAS

Na segunda-feira, 29, o Ever Green, navio que bloqueou o Canal de Suez, voltou a flutuar depois de seis dias. Mesmo que o desbloqueio aconteça rápido a partir de agora, o estrago está feito. A revista europeia Car Dealer destacou que pelo menos dois grandes navios de transporte de automóveis foram bloqueados pelo Ever Given.

Além disso, embarcações que transportam componentes para a produção de veículos também podem precisar ancorar ou fazer a volta mais longa pelo sul da África, que acrescenta até 10 dias à viagem. Analistas ouvidos pela NBC News indicam que a normalização do fluxo em Suez pode demorar de três a seis dias para acontecer após o bloqueio terminar, já que há uma fila de 369 navios para atravessar o canal.

O movimento intenso na região pode gerar uma série de novos atrasos nas entregas globais, impondo grandes desafios à indústria automotiva e à sua lógica just in time.

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