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Abeifa completa 30 anos de existência e se desdobra para enfrentar o impacto da pandemia

Associação reúne 15 empresas e enfrenta o impacto da pandemia, a alta do dólar e a falta de produtos


PAULO RICARDO BRAGA, AB

Ao completar 30 anos de existência em março, a Abeifa – Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores vive um de seus momentos mais dramáticos. Com 15 empresas associadas (já foram 30) a entidade se desdobra para enfrentar o impacto da pandemia provocada pelo Covid-19, ao mesmo tempo que ocorrem efeitos perversos com a desvalorização da moeda, que prejudicam as importações de veículos e componentes.

Some-se a tudo isso os baixos volumes comercializados, as alíquotas de importação da ordem de 35% e as dificuldades logísticas que o setor encontra para formar uma inevitável tempestade perfeita capaz de azedar a vida dos importadores e fabricantes locais filiados à Abeifa.

“Desde o começo da pandemia, o setor vivencia uma experiência preocupante, que tem levado as empresas a um verdadeiro sufoco logístico e financeiro”, lamenta João Henrique Oliveira, presidente da Abeifa e também diretor de operações da Volvo Brasil.

“Enfrentamos também a desestruturação na cadeia global de suprimentos, com obstrução do fornecimento regular de produtos e escassez de componentes para a fabricação local, especialmente os eletrônicos”, diz, enfatizando que, além do dólar, a instabilidade macroeconômica preocupa o setor.

O diálogo com o governo não tem sido fácil, apesar de várias tentativas junto ao ministério da Economia. “Nosso pleito principal é a redução da tarifa de importação dos atuais 35% para 20%, que é a TEC (Tarifa Externa Comum do Mercosul)”, explica Oliveira. Para ele, é preciso que o ministério reconheça o papel importante da organização dos importadores, que se traduz na disseminação de novas tecnologias, inovações e criação de empregos.

EVOLUÇÃO DO MERCADO

O segmento de importados da Abeiva já teve seus momentos de glória, mas há um bom tempo atrás. Em 2011, por exemplo, a Kia comercializou nada menos de 80 mil veículos. Para efeito de comparação, em 2020 a empresa emplacou apenas 5.900 unidades. Os dados de mercado automotivo relativos ao mês de fevereiro na vertente dos importadores da Abeifa mostram a extensão das preocupações atuais da entidade.

As quinze marcas filiadas, com licenciamento de 4,2 mil unidades, das quais 1.844 importadas e 2.414 veículos de produção nacional, anotaram em fevereiro queda de 13,2% em comparação com igual período de 2020, quando foram comercializadas 4,9 mil unidades.

Na importação, as 1,8 mil unidades vendidas significaram redução de 8,3% ante as 2.010 unidades de janeiro de 2021. Enquanto isso, na produção nacional - com 2,4 mil unidades - a queda de vendas foi de 16,7% ante as 2,8 mil unidades de 2020.

Em confronto com o mês de fevereiro de 2020, os veículos importados registraram queda de 31%. Foram 1,8 mil unidades em fevereiro de 2021 contra 2,6 mil unidades de fevereiro de 2020. Já os licenciamentos de veículos aqui produzidos por associadas à Abeifa caíram 16,9%, para 2,4 mil unidades.

"Tanto na importação como na produção nacional de nossas associadas, o principal motivo da queda abrupta das vendas, em fevereiro, foi a falta de produtos. A cadeia global de suprimentos teve, e ainda tem, dificuldades em abastecer as nossas fábricas aqui e nas matrizes", explica Oliveira.

Em fevereiro, com 4.258 unidades licenciadas (importados e produção nacional), a participação das associadas à Abeifa foi de 2,69% do mercado total de automóveiss e comerciais leves. Se consideradas somente as unidades importadas, as associadas à entidade responderam por 1,16% do mercado interno brasileiro.

AS DIFERENTES ONDAS DA ABEIFA

A chegada dos importadores ao mercado brasileiro ocorreu em três fases, ou três ondas, como gosta de dizer o pessoal da Abeifa. A primeira etapa começou nos anos 1990 e 1991, com o aporte de novas tecnologias veiculares, como freios ABS e componentes eletrônicos embarcados. Empresários como Eduardo Souza Ramos (Mitsubishi), Reginaldo Regino (BMW), representantes do Grupo Souza Aranha (Citroën), Martin Rodin e Emílio Julianeli (Lada/Motores Interacionales) iniciaram o movimento de importação de veículos para o mercado brasileiro.

Eles fundaram a Abeiva em 15 de março de 1991. Pouco antes, em maio de 1990, surgiram as primeiras unidades da BMW. No segundo semestre, chegaram os primeiros veículos russos da Lada. Na época o Brasil contava com a produção local apenas da Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen, além do utilitário Bandeirante, da Toyota.

Em 1995, a Abeifa listava 30 marcas: Asia Motors, Audi, BMW, Bentley, Bugatti, Chrysler, Citroën, Daewoo, Daihatsu, Ferrari, FSO (não chegou a atuar), Honda, Hyundai, Jaguar, Kia Motors, Land Rover, Lada, Lamborghini, Lexus, Lotus, Mazda, Mercedes-Benz, Mitsubishi, Nissan, Peugeot, Renault, Rolls Royce, Subaru, Toyota e Volvo.

A segunda onda foi caracterizada pela implantação de fábricas a partir de 1996, com o investimento da Mercedes-Benz em Juiz de Fora (automóveis), da Honda (1997), da Toyota (1998) e das francesas Renault, Peugeot e Citroën (1999 e 2000). Essas marcas eram conhecidas como newcomers.

A entidade vivencia agora a terceira onda, que traz tecnologias de primeiro nível e inovação veicular e acentua a importação de veículos eletrificados. Hoje, a Abeifa registra 15 marcas associadas: BMW, BYD, Caoa Chery, Ferrari, JAC Motors, Jaguar, Kia Motors, Lamborghini, Land Rover, Maserati, Mini, Porsche, Rolls Royce, Suzuki e Volvo. São filiadas como fabricantes locais a BMW, Caoa Chery, Land Rover e Suzuki.

ELETRIFICAÇÃO João Oliveira considera que a eletrificação é uma boa alternativa para as associadas da Abeifa. Em 2020 as empresas filiadas à entidade comercializaram 50% dos híbridos e elétricos vendidos no mercado local, que na soma (incluindo associadas da Anfavea) alcançou 19,7 mil unidades. A Volvo tem certa de 30% de market share, a BMW 10% e a Porsche 6% dos eletrificados.

O presidente da Abeifa explica que 75% dos veículos que entram no País não pagam imposto de importação, já que são provenientes do México e Mercosul, com os quais mantemos acordos automotivos. Os demais, 25% provêm de países com os quais o Brasil não mantém o mesmo regime. Híbridos e elétricos trazidos de fora pelo grupo da Abeifa pagam imposto de importação de zero a 7%. Alguns estados oferecem incentivos no pagamento do IPVA e em algumas cidades os veículos ficam isentos do rodízio.

Computada a importação e a produção local, o grupo da Abeiva emplacou 59 mil veículos em 2020 e espera atingir 68 mil unidades este ano, o que equivale ao mesmo volume comercializado em 2019.

O presidente da Abeiva afirma que as revendas das empresas associadas, em muitos casos, passaram por ajustes operacionais para se tornarem viáveis. “Houve uma preocupação grande em manter empregos e promover medidas de segurança para proteger os profissionais”, conclui o executivo, a espera de uma nova onda – dessa vez, mais positiva.

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