Abril fecha com venda de 175 mil veículos

Associação dos fabricantes classifica como “bom” resultado de abril, mas admite que economia fraca e falta de peças prejudicam o ano


PEDRO KUTNEY, AB

Sob efeitos negativos combinados de demanda retraída e falta de oferta de produtos a entregar, abril fechou com a venda de 175 mil veículos, em retração de 7,5% sobre março, foi um resultado considerado “bom diante das circunstâncias”, segundo classificou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a associação dos fabricantes instalados no Brasil, durante a apresentação dos dados de desempenho da indústria na sexta-feira, 7. A queda mensal é atribuída ao número menor de dias úteis do mês passado (20 contra 23), porque média de emplacamentos diários de 8.757 foi 6,3% maior do que a registrada em março.

Com o resultado de abril, o ritmo do mercado este ano desacelerou em relação ao último trimestre de 2020 e está estabilizado na casa de pouco mais de 8 mil emplacamentos por dia útil. “Está estável em um bom patamar diante das circunstâncias, mas ainda muito abaixo do nível de antes da pandemia”, avalia Moraes, apontando que em 2019 a média diária girava acima de 11 mil veículos emplacados.

A soma de 703 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus vendidos no primeiro quadrimestre de 2021 representou crescimento de 14,5% sobre o mesmo período de 2020, mas o porcentual positivo não traz muitos motivos de comemoração, porque a comparação inclui 45 dias do ano passado, metade de março e abril inteiro, em que produção e emplacamentos foram quase que totalmente paralisados pela pandemia de coronavírus.

NÚMEROS DENTRO DAS PROJEÇÕES, SOB VENTOS CONTRÁRIOS

Para o presidente da Anfavea, por enquanto o ritmo atual de vendas está em linha com as projeções conservadoras da entidade divulgadas no início de 2021, apontando para mercado interno de 2,37 milhões de veículos este ano, o que representa crescimento de 15% sobre 2020.

“Os números até agora estão em linha com nossas projeções, mas não quer dizer que estão certas. Isso porque temos problemas de demanda e oferta ao mesmo tempo, que podem prejudicar o resultado do ano”, avalia Luiz Carlos Moraes.

Explica-se: o problema da demanda está relacionado a reajustes de preços, restrições ainda provocadas pela pandemia, desemprego em nível muito elevado e falta geral de confiança, todos fatores que empurram o consumo para baixo. Ao mesmo tempo, pelo lado da oferta a indústria não consegue produzir o suficiente para atender toda a procura por veículos porque enfrenta falta de suprimentos de toda ordem, principalmente eletrônicos, situação que deve se arrastar até o fim do ano, provocando paralisações intermitentes de linhas de produção, com consequente perda de vendas.

Moraes afirma que ouve relatos de empresas que têm estoques de eletrônicos importados ara no máximo 10 dias de produção, em uma condição com pouca margem de manobra que pode acarretar em paralisações de fábricas por dias e semanas se as encomendas de suprimentos não forem atendidas.

Os problemas de oferta e demanda se somam em ventos contrários à recuperação do mercado e turvam o horizonte. Por isso Moraes avisa que a Anfavea vai manter as projeções atuais, sem estipular datas para revisões, até que o cenário seja mais claro.

CAPACIDADE DE PAGAR REAJUSTES ESTÁ PERTO DO FIM

Moraes reconhece que neste início de 2021 os resultados já seriam melhores se não fosse a falta de componentes que está atrasando entregas e formando filas de espera de mais de três meses por alguns modelos. Contudo, ele também aponta que o cenário futuro é de enfraquecimento do consumo devido à pressão de preços cada vez mais elevados por reajustes constantes praticados pela indústria para compensar a alta generalizada de custos.

“Ficou mais caro produzir e as empresas precisaram reajustar, mas é fato que a capacidade do consumidor e pagar esses reajustes está perto do fim. Claro que isso pode reduzir as vendas. A alta nos custos já passou dos limites e pode matar o cliente”, destaca Moraes, sugerindo que fornecedores como as siderúrgicas estão reajustando preços além do tolerável.

O dirigente avalia que a economia só deverá começar de fato a se recuperar com o avanço da imunização da população contra a Covid-19, o que “talvez aconteça só mais para o fim do ano”, diz. Ele prevê que a recuperação continuará a ser liderada pelo setor do agronegócio e também pelas privatizações que poderão aquecer as grandes obras de infraestrutura. “São dois setores que geram empregos e injetam bilhões em recursos na economia”, aponta.

A recuperação do consumo deverá vir a reboque da retomada dos investimentos, mas Moraes lembra que o Brasil tem histórico de reaquecimentos muito rápidos da economia, o que pode acontecer assim que as incertezas da pandemia se dissiparem. Ele cita relatos de economistas que calculam existir no mercado algo em torno de R$ 340 bilhões que as famílias deixaram de gastar no último ano em viagens e compras de bens. “Isso tudo pode se transformar em consumo rapidamente assim que a vida voltar ao normal depois da vacinação. Se resolver a questão de saúde o consumo volta forte”, acredita.
 

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