As perdas da Ford no Brasil
Automotive Business -
Valor pode chegar a US$ 11,6 bilhões (R$ 61 bilhões) em 10 anos quando a empresa finalizar o processo de fechamento das três fábricas no País
REDAÇÃO AB
Reportagem da agência Reuters publicada nesta quinta-feira, dia 20, revela que as perdas da Ford no Brasil chegarão a US$ 11,6 bilhões (R$ 61 bilhões) em 10 anos quando a empresa finalizar o processo de fechamento das três fábricas no País, que atinge mais de 5.000 trabalhadores e 300 concessionárias.
A reportagem teve acesso a arquivos corporativos não revelados anteriormente. Os documentos mostram a escala dos problemas financeiros que levaram à decisão da matriz nos Estados Unidos de transformar a Ford do Brasil em uma importadora de veículos.
“A Ford havia queimado US$ 7,5 bilhões (R$ 39,5 bilhões), a maior parte em prejuízos acumulados, mas também em algumas injeções de dinheiro, de acordo com os documentos arquivados no estado de São Paulo, onde a montadora está registrada no Brasil”, aponta a matéria.
O texto de autoria do jornalista Marcelo Rochabrun, que foi distribuído para todas as filiais da Reuters no mundo, explica que quase todas as perdas e injeções de dinheiro ocorreram nos últimos oito anos, quando a empresa perdeu cerca de US$ 2.000 (R$ 10,5 mil) para cada carro vendido.
Como a Ford ainda terá que gastar US$ 4,1 bilhões (R$ 21,6 bilhões) para desligar funcionários e ressarcir concessionários da marca, além do pagamento de obrigações legais, o preço da operação brasileira sobe para US$ 11,6 bilhões (R$ 61 bilhões).
ERRO ESTRATÉGICO
A reportagem diz que a pandemia da Covid-19 só agravou um “erro estratégico que deixou a empresa atrás de seus rivais na transformação de sua linha de carros compactos não lucrativos em SUVs de margem mais alta”. Até havia um plano para alavancar a presença da Ford nesse rentável segmento de mercado, mas “ela foi muito lenta em implementá-lo”.
Entre os erros, a reportagem cita o movimento que a marca fez para enfrentar a baixa demanda interna e a dificuldade de exportação: ela quintuplicou as vendas de veículos para frotistas entre 2011 e 2019, além de aumentar os descontos para 30% ou mais.
Como consequência de decisão, a matriz se viu obrigada a reforçar "sua subsidiária brasileira com US$ 1,3 bilhão (R$ 6,8 bilhões) em injeções de capital, em nove transferências ocorridas entre março de 2018 e janeiro de 2021”, segundo os arquivos da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp).
"Não havia outras opções viáveis", explicou à Reuters Lyle Watters, presidente da Ford para a América do Sul, em um comunicado sobre a decisão de sair do país. Previsto para assumir em julho a direção da divisão de veículos de passageiros na China, o executivo atribuiu ao "ambiente econômico desfavorável, menor demanda de veículos (e) maior capacidade ociosa da indústria" a saída da empresa do Brasil como fabricante.
PREJUÍZO PARA VW, GM E TOYOTA
A reportagem reconhece que os custos para produzir no Brasil são elevados, em parte porque os preços não são competitivos para a exportação, o que obriga as montadoras a ficarem restritas às variações do mercado interno. Um dos exemplos dados foi o do México, que exporta mais de 80% dos carros e que tem custos tão baixos que chegam a competir no mercado brasileiro até mesmo com fabricantes instaladas localmente.
“Um estudo de 2019 da PwC descobriu que vender um carro mexicano no Brasil era 12% mais barato para uma montadora do que vender um veículo feito localmente, incluindo custos de produção, impostos e logística”, explicou a reportagem.
Por fim, a texto mostra que até mesmo os fabricantes que passam a investir pesadamente na produção e venda de SUVs no Brasil também estão com dificuldades para manter sua operação lucrativa, que é o caso de Volkswagen, GM e Toyota.
“A Volkswagen Brasil acumula prejuízo de US$ 3,7 bilhões (R$ 19,5 bilhões) desde 2011, de acordo com os registros da Jucesp. A GM Brasil recebeu US$ 2,2 bilhões (R$ 11,6 bilhões) em injeções de dinheiro desde 2016 e a Toyota Brasil, no ano passado, recebeu perdão para US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) em dívidas com a matriz, mostraram os documentos”, conclui a reportagem.