Centro Tecnológico Randon se equipa para aplicar diversos tipos de testes e avaliações em veículos elétricos

Centro tecnológico na Serra Gaúcha já abriga desenvolvimento de veículos elétricos


PEDRO KUTNEY, AB

De olho nas principais tendências que geram novas necessidades para a engenharia da indústria automotiva, desde o fim de 2019 o Centro Tecnológico Randon (CTR) na Serra Gaúcha, em Farroupilha, vem se equipando para aplicar diversos tipos de testes e avaliações em veículos elétricos. Apesar da eletromobilidade ainda ser incipiente no País, atualmente o CTR já abriga parte do desenvolvimento de cinco projetos de eletrificação de caminhões, ônibus e até carretas, envolvendo fabricantes como FNM, BYD e integrantes do grupo Empresas Randon.

A preparação para abrigar o desenvolvimento e adaptações de veículos elétricos e híbridos faz parte dos investimentos de R$ 20 milhões aplicados no CTR em 2020, que aumentou suas capacidades de ensaios e avaliações, incluindo a inauguração da maior pista da América Latina para testes dinâmicos para ABS e ESC. “Avaliamos as tendências para direcionar os investimentos e atender as novas necessidades dos clientes”, explica César Augusto Ferreira, diretor de tecnologia e inovação de produto das Empresas Randon.

“A eletromobilidade é uma tendência da indústria automotiva, pode demorar para se consolidar no País, mas é um futuro óbvio. Para desenvolver uma solução para daqui a cinco anos é necessário começar agora, por isso já abrigamos tantos projetos de veículos elétricos”, afirma César Ferreira.

CAPACIDADES ELÉTRICAS

Uma das primeiras providências para iniciar os ensaios com veículos elétricos foi ampliar a capacidade de fornecimento de energia ao CTR, em uma demonstração local de um dos maiores desafios para a implementação da eletromobilidade no País ou em qualquer outra parte do mundo. O transformador de 500 kW que abastecia o campo foi trocado outro de 1.000 kW, para garantir o aumento do consumo das instalações, que já saltou de 350 ara 600 kW por mês, em média.

Também já foram instalados cinco carregadores, inclusive dois ultrarrápidos de 200 Kw cada. Com a aquisição de equipamentos específicos para testar veículos elétricos, hoje no CTR é possível realizar ensaios com sistemas eletromecânicos de powertrain e medir desempenho, autonomia e durabilidade de baterias e motores elétricos sob variadas condições. As simulações também incluem a avaliação dos sistemas de resfriamento das baterias para avaliar o comportamento em diferentes temperaturas, bem como aplicar cargas e descargas aceleradas para testar os limites dos acumuladores de energia.

O primeiro projeto de eletrificação em testes no CTR foi de uma das Empresas Randon, a Suspensys, que desenvolveu o eixo trativo elétrico e-Sys para carretas, apresentado pela primeira vez na Fenatran realizada em outubro de 2019. Existem outras iniciativas em andamento no campo de provas de Farroupilha, do próprio grupo gaúcho e de fabricantes de veículos comerciais eletrificados, como a FNM, que lançou no fim do ano passado uma linha de pequenos caminhões elétricos, montados na Agrale, localizada na vizinha Caxias do Sul.

Embora no momento apenas caminhões e ônibus elétricos estejam em testes, Ferreira afirma que o CTR também pode receber automóveis para ensaios. “Hoje já temos à disposição uma estrutura bastante completa para atender as necessidades de desenvolvimento de qualquer veículo eletrificado e de seus sistemas”, destaca.

Os próximos passos, explica o diretor da Randon, seguem em linha com as tendências da indústria. “Vamos agora preparar o CTR para simulações e testes de veículos autônomos e ADAS (Advanced Driver Assistance Systems), sistemas de assistência ao motorista e seus radares, sensores e câmeras”, revela Ferreira. “Também é possível no futuro próximo ter de instalar aqui um tanque de hidrogênio”, diz, em referência aos veículos elétricos equipados com células de combustível, que geram energia a partir da reação química do hidrogênio com oxigênio.

CAMPO EM CRESCIMENTO

Com os investimentos realizados nos últimos três anos e a oferta de novas facilidades como pistas de testes de freios, pneus e ruídos, o CTR aumentou a clientela com a chegada de mais fabricantes de veículos leves e pesados ao campo. Com isso, o empreendimento vem colhendo bons resultados. Em 2020 o faturamento do campo cresceu acima da meta, foi cerca de 25% maior que o registrado em 2019. Em 2021, no primeiro quadrimestre a evolução supera os 30% em comparação com o mesmo período do ano passado. “O CTR não será a maior fonte de receitas da Randon, o objetivo é gerar recursos para investir em seu próprio crescimento e assim apoiar o desenvolvimento das empresas do grupo”, diz Ferreira.

Vem crescendo o número de usuários do CTR de fora das Empresas Randon, que até o 2019 eram responsáveis por cerca de 60% das atividades. Segundo Ferreira, a tendência é que entre 2021 e 2022 essa proporção se inverta e os clientes externos ao grupo passem a representar 60% do uso do campo de provas. Isso já começou a acontecer em 2020, quando 46% dos projetos desenvolvidos foram de outras fabricantes de veículos e sistemas. Um dos fatores para atrair a nova clientela foi a inauguração em outubro passado da pista VDA de testes dinâmicos, que tem espaço suficiente para abrigar ensaios de caminhões de grande porte, algo sem similar na América Latina.

Ferreira conta que vêm se formando filas de clientes para uso das pistas e instalações do campo de provas na Serra Gaúcha. No momento há 40 testes agendados e cada um demora de duas a três semanas para ser completado, o que praticamente garante casa cheia pelo resto deste ano e começo do próximo. A lotação só não aumenta mais porque existe um limite para realização de testes simultâneos, para seguir protocolos de segurança e evitar acidentes.

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