Nissan transforma fábrica do RJ em um polo de exportação para a América do Sul
Automotive Business -
Airton Cousseau, novo presidente para o Mercosul, planeja investimentos em eletrificação no Brasil, incluindo célula de combustível a etanol
ZECA CHAVES, AB
Embora a fábrica da Nissan em Resende (RJ) só produza atualmente Kicks e V-Drive (antigo Versa), ela terá uma nova missão pela frente: transformar-se em um polo de exportação da marca para a América do Sul. E quem vai liderar esse movimento é o novo presidente da Nissan Mercosul e diretor geral da marca no Brasil, Airton Cousseau.
Nomeado para o cargo no fim de março, Cousseau não vê problema em ter apenas no Kicks, renovado em fevereiro, o único modelo com potencial para conquistar mercados externos. “Não quero muitos produtos no nosso portfólio, acho que isso não funciona”, declarou o brasileiro, que deu como exemplo o período em que ele comandou a operação da Hyundai Motor Brasil na época em que a montadora fabricava apenas o HB20. “Precisamos ter bons produtos nos segmentos em que queremos estar bem-posicionados”, disse o executivo durante sua primeira apresentação para jornalistas brasileiros.
Para conseguir aumentar o volume exportado pela Nissan, Cousseau acredita que os fornecedores são um ponto fundamental dessa estratégia, pois seria necessário também aumentar o nível de conteúdo produzido localmente. Porém ele diz não ter dúvidas de que a indústria nacional tem potencial para exportar mais e melhor.
“Se o Brasil conseguir descomplicar um pouco os tributos, transformar essa indústria mais competitiva, com o dólar a R$ 5 a gente pode se dar muito bem exportando veículos. Se somos o 7º mercado do mundo em produção, em exportação não somos nada. Então temos muita oportunidade aí”, acredita Airton Cousseau.
EXPORTAÇÃO DO KICKS: AMEAÇA DOS SEMICONDUTORES
Inicialmente a Nissan vai se concentrar em ampliar a exportação do Kicks, que hoje vai apenas para o Paraguai e a Argentina, onde o SUV tem alcançado bons resultados. “O Kicks é um êxito absoluto na Argentina, por isso estamos vendo como aumentar o número de produção para o país”. No ranking argentino das vendas de maio, o Kicks foi o 10º carro mais vendido e o líder entre os SUVs, pouco à frente do Jeep Renegade.
No entanto, o aumento da exportação para a Argentina não será fácil nos próximos meses. A produção brasileira da Nissan também foi impactada pela escassez de semicondutores, que obrigou a empresa a paralisar a linha de montagem por cinco dias alternados. A fábrica de Resende precisou parar nos dias 4 e 7 de junho e ainda terá de suspender suas atividades nos dias 11, 16 e 17. Cada dia de produção perdido representa em média 250 veículos a menos.
A boa notícia para a montadora é que essa paralisação não chegou a prejudicar as vendas da mesma maneira como tem afetado com outras marcas. “Como nós temos um estoque razoável, as vendas estão OK. Até aumentamos a nossa participação, que era de 3% e agora está em 3,2%.”
LIDERANDO A ELETRIFICAÇÃO NO BRASIL
Além do aumento da exportação, outro objetivo de Cousseau é tornar a Nissan referência nacional em eletrificação e ajudar o Brasil a abraçar essa nova tecnologia, que hoje tem uma participação marginal. Calcula-se que apenas 1% das vendas de veículos no País sejam de modelos elétricos ou híbridos.
Sua primeira meta será retomar os investimentos para promover e aumentar as vendas do elétrico Leaf, cuja nova versão foi lançada no final de 2019 e acabou sendo muito impactado pela crise dos semicondutores.
Usando um discurso muito otimista, Cousseau diz que enxerga boas oportunidades no mercado brasileiro nessa área, desde que a Nissan concentre esforços em duas áreas: melhorar a infraestrutura e desmistificar os problemas do veículo elétrico.
“Você pode ajudar a criar essa infraestrutura, fazendo parcerias com outras empresas, como as de energia elétrica, as que fabricam o carregador, as várias startups que atuam nessa área”, explica Cousseau.
Quanto à desmistificação, seria importante ajudar o consumidor a entender as reais vantagens e limitações dos carros elétricos. Ele deu como exemplo a autonomia. “Se um carro tem condições de rodar 260 km, é suficiente para o uso urbano, já que os deslocamentos na cidade não passam de 70 km. E basta deixá-lo na tomada à noite, como fazemos com um celular, para que ele recupere toda sua bateria.”
A redução de custo com combustível é outro ponto que ele considera pouco conhecido pelo público. “Se em um carro a combustão gasta-se uma média de 50 centavos de real por quilômetro rodado, com um elétrico esse valor é de 10 centavos.”
Para o presidente da Mercosul, outro elemento que pode ajudar a Nissan a conquistar a liderança na eletrificação seria o uso da célula de combustível a etanol, tecnologia que a marca desenvolveu no Brasil. “Com meio tanque de etanol e meio de água, dá para rodar 600 km, de modo 100% elétrico, sem produzir emissões", disse.
A Nissan chegou a testar no Japão os dois furgões movidos a célula de combustível desenvolvidos aqui em 2016 e 2017, projetados a partir de veículos 100% elétricos e-NV200 e agora conhecidos como protótipos SOFC – Solid Oxide Fuel Cell. Com essa tecnologia, o etanol passa por uma reação química, de onde se extrai o hidrogênio, que depois será usado para produzir eletricidade para alimentar o motor elétrico.