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Mercado de veículos tem pesados aumentos de preços

Estudo da Bright Consulting aponta que consumidor trocou viagens e outros gastos por compra de veículos


PEDRO KUTNEY, AB

O mercado de veículos leves cresce lentamente em 2021, mas os pesados aumentos de preços já praticados nos últimos meses deveriam ter provocado uma forte retração das vendas em condições normais de temperatura e pressão. Essa queda até poderá acontecer daqui a alguns meses, mas paradoxalmente o motivo que vem sustentando os negócios é o mesmo que causou o tombo histórico do setor: a pandemia de coronavírus. Segundo recente artigo assinado por Cassio Pagliarini para a Bright Consulting, se há pouco mais de um ano ninguém queria comprar nada, hoje consumidores estão gastando em carros o dinheiro que sobrou das viagens internacionais ou outros gastos com serviços presenciais que foram restringidos pela Covid-19.

Os substanciais e variados aumentos de custos de produção estão sendo em boa medida repassados aos consumidores. O estudo da Bright aponta após ficar abaixo da inflação em 2019, com reajuste médio de 3% para IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,3%, o preço médio sugerido dos carros no Brasil avançou 12,4% em 2020, para R$ 92.442, e de janeiro a maio deste ano saltou mais 11,4%, para R$ 102.935, enquanto o IPCA acumulado desses períodos foi de 4,5% e 3,2%, respectivamente.

Ainda segundo a Bright, nos cinco primeiros meses de 2021 o preço médio de tabela dos carros aumentou seis pontos porcentuais acima da inflação, e nos últimos 18 meses o reajuste médio é 15 pontos maior que o IPCA do período.

“Pelas regras normais de elasticidade [do mercado], esse reajuste deveria significar uma redução no volume de vendas de 45% a 60%, dependendo do segmento, uma vez que salários e rentabilidade de ativos financeiros não chegaram nem perto desses valores”, escreveu Cassio Pagliarini.

Ou seja, os fortes e variados aumentos de preços deveriam afugentar o consumidor, em vez de formar filas de espera por veículos que a indústria não consegue produzir em quantidade suficiente para atender a demanda, principalmente por falta de insumos. As vendas acumuladas de janeiro a maio cresceram 30% na comparação com o mesmo período de 2020, quando a pandemia de coronavírus afetou significativamente os negócios entre a segunda metade de março até o começo de junho.

“As vendas estão sendo sustentadas por um efeito que vem da pandemia. Uma viagem ao exterior de uma família custa hoje mais de R$ 70 mil. Quem manteve a renda está reformando a casa, trocando móveis e comprando carro”, pontua Paulo Cardamone, sócio-diretor da Bright.

Além dos aumentos dos insumos e componentes, também turbinados pela desvalorização cambial do real, outro fator explica a expressiva alta no preço médio dos carros: a mudança de mix do mercado brasileiro, com o lançamento de carros mais sofisticados, recheados de tecnologias e por isso muito mais caros. É o caso dos SUVs, que hoje dominam mais de 30% das vendas, contra 23% antes da pandemia, aponta a consultoria. Outro segmento que vive um boom e ajuda a puxar para cima a média de preços é o de picapes, liderado pelas Fiat Strada e Toro.

RITMO DOS AUMENTOS DEVE SER REDUZIDO

Na avaliação da Bright, o ritmo dos reajustes registrado nos últimos 12 meses deve arrefecer nos próximos meses, pois resta pouco espaço para seguir aumentando preços. Conforme as restrições provocadas pela Covid-19 forem sendo reduzidas com o avanço da vacinação e o fornecimento de componentes for normalizado, a tendência é que o mercado volte a funcionar segundo suas regras normais – ou seja, preço maior, demanda menor.

Para Pagliarini, o desempenho dos modelos mais desejados atualmente deve seguir em alta após o arrefecimento da pandemia e seus efeitos, com a oferta de versões mais baratas e promoções, que hoje sumiram do mercado. Contudo, outros veículos, principalmente os mais baratos, tendem a sofrer mais no futuro próximo se os preços não caírem, vão precisar passar por reposicionamentos e contar com promoções e planos de financiamento com juros baratos.

“Mesmo assim, o volume da indústria deverá andar de lado por algum tempo: nenhum comércio suporta sem efeitos colaterais um aumento real de 15% nos seus preços”, resume o consultor.
 

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