Recuperação do mercado de veículos leves no primeiro semestre
Automotive Business -
Com limitações na produção, entidade baixa de 15,8% para 10,7% estimativa de crescimento no ano
PEDRO KUTNEY, AB
A falta de componentes, especialmente semicondutores, que vem paralisando linhas de produção em todo o mundo limitou a recuperação do mercado de veículos leves no primeiro semestre e fez a Fenabrave reduzir sua projeção de crescimento do segmento em 2021. Em janeiro, a expectativa era vender 2,26 milhões automóveis e utilitários este ano, o que representaria expansão de 15,8% sobre 2020. Na sexta-feira, 2, a entidade que reúne as revendas autorizadas do País divulgou novas previsões, baixando o avanço projetado para 10,7%, equivalente a 2,16 milhões de unidades emplacadas em 12 meses.
Seja pela paralisação total ou parcial das linhas por falta de componentes, ou pelo fechamento de concessionárias decretado em algumas cidades do País para conter o alastramento da Covid-19, as limitações impostas à produção e aos negócios reduziram em cerca de 20% os volumes de vendas de veículos leves no primeiro semestre, o equivalente a 201 mil automóveis e utilitários que deixaram de ser vendidos no período, segundo cálculo da Fenabrave apresentado por Alarico Assumpção Jr., presidente da entidade.
“As concessionárias estão sem estoques de alguns modelos e as entregas estão represadas, o que compromete a recuperação. Por isso reduzimos a expectativa de crescimento, que pode até parecer muita diferença em termos porcentuais, mas equivale a pouco mais de 100 mil unidades [a menos este ano], o que não é expressivo. E caso a produção seja regularizada, certamente o volume será maior”, avalia Alarico Assumpção Jr.
O presidente da Fenabrave avalia ser difícil uma reversão do quadro este ano. Segundo ele, em trocas de informações mantidas com associações congêneres nos Estados Unidos, Europa e Ásia, a regularização do fornecimento de semicondutores à indústria automotiva só deverá acontecer a partir do segundo trimestre de 2022. Até lá, será inevitável as paradas de produção que se refletem em falta de veículos nas concessionárias.
CRÉDITO FAVORECE O CRESCIMENTO
Com exceção desse problema, Assumpção Jr. destaca que o cenário é de crescimento. “O que vende automóvel é juro baixo e facilidade na aprovação do financiamento. E o mercado de crédito continua aquecido, temos boa oferta dos bancos e boa demanda do consumidor em todas as categorias de automóveis, com taxas que ainda são bastante razoáveis e clientes com bom histórico. Esse não é um problema. Na média, a cada 10 pedidos de financiamento, os bancos provam quase sete”, afirma o dirigente.
“Temos no Brasil um histórico de juros e spreads muito altos, mas não é o que está acontecendo agora. O momento é de elevação da inflação e da Selic, que deve chegar ao fim de 2021 em 6,5% a 7% [ao ano], mas isso não deve afetar o crescimento da economia. Também não estamos vendo um alargamento muito grande do spread [as taxas efetivamente cobradas pelos bancos], o que mantém o crédito ao consumidor ainda atrativo”, avalia Tereza Fernandes, economista da MB Associados que faz assessoria econômica para a Fenabrave.
RECUPERAÇÃO MAIS LENTA NO PRIMEIRO SEMESTRE
Conforme antecipou Automotive Business na quinta-feira, a Fenabrave confirmou que as vendas de veículos leves somaram 169,5 mil emplacamentos em junho, o que resulta em leve queda de 3,3% sobre maio. No acumulado do primeiro semestre de 2021, foram emplacados pouco mais de 1 milhão de automóveis e utilitários, em alta de quase 32% na comparação com o mesmo período de 2020, justamente quando o impacto da pandemia foi mais sentido pelo mercado.
“A alta em relação ao primeiro semestre do ano passado já era esperada, pois tivemos um a paralisação quase completa da economia em abril de 2020, mas de qualquer forma o mercado mostrou boa adaptação à pandemia”, diz o presidente da Fenabrave.
Houve comportamento oposto nos dois segmentos de veículos leves em junho. Enquanto as vendas de automóveis somaram 133,3 mil unidades, em queda de 6,5% sobre maio, os emplacamentos de comerciais leves cresceu 10,8%, com o total de 36,3 mil emplacamentos. A explicação é a demanda recorde pelas duas picapes da Fiat este ano, especialmente a Strada, que tornou-se o veículo mais vendido do País. Embora esses modelos sejam classificados como veículos utilitários leves, a maioria das vendas se concentra em clientes que usam a picape como carro de transporte pessoal e familiar.