Grupo Stellantis consegue administrar com maior eficiência a falta de insumos

Após retomar primeiro lugar em vendas com crescimento de 105% no semestre, marca vai ampliar participação de mercado com lançamentos de SUVs


PEDRO KUTNEY, AB

Boa parte do desempenho meteórico da Fiat nos últimos meses é devida ao departamento de compras do Grupo Stellantis, que até agora conseguiu administrar com maior eficiência a falta de insumos, principalmente semicondutores eletrônicos, que já paralisou as linhas de produção da maior parte dos concorrentes diretos no Brasil. Com interrupções pontuais no Polo Automotivo Fiat em Betim (MG) e nenhuma parada na fábrica de Goiana (PE) – onde são produzidos os Jeep Renegade e Compass junto com a picape Toro –, a marca italiana nadou de braçadas.

Com portfólio completo e pouca competição, a Fiat obteve crescimento recorde de 105% nas vendas acumuladas do primeiro semestre, voltando assim para o topo do ranking de marcas do mercado brasileiro, algo que não acontecia desde 2015, com quatro carros na lista dos dez mais vendidos nos últimos seis meses – cinco só em junho – e domínio expressivo de 22,2% dos emplacamentos no período.

E o que acontece quando o fornecimento de semicondutores se normalizar e os concorrentes voltarem com força total ao mercado? Herlander Zola, diretor responsável pela Fiat na América do Sul, afirma que a fabricante está preparada para isso e terá mais armas para defender sua liderança, especialmente com o lançamento de seus dois SUVs – o primeiro deles será o Pulse, esperado para agosto próximo, e o outro para fevereiro de 2022 – que vão ampliar de 65% para 90% a cobertura de segmentos de mercado da marca no País.

Além disso, a maioria dos carros Fiat em linha vai receber atualizações tecnológicas, incluindo câmbio automático CVT e os novos motores turboflex 1.0 e 1.3 que começaram este ano a ser fabricados em Betim – como já acontece com as novas versões da Toro lançadas em abril passado, que já usam o propulsor turbo de 185 cavalos.

“Tivemos um crescimento vigoroso, muito atrelado à mudança na estratégia da Fiat que envolve aumento de competitividade e renovação dos produtos, além do reposicionamento de imagem da marca. Tudo isso nos traz boas expectativas para os lançamentos que preparamos para os próximos meses, incluindo o SUV Pulse, que já é muito aguardado pelo público”, argumenta Herlander Zola.

Mas o executivo reconhece que a administração mais eficiente da crise global de suprimentos foi elemento fundamental para a retomada da liderança no Brasil. “Não se pode negar que os concorrentes têm problemas de disponibilidade de produtos maior que a nossa nesse momento. Mas o problema de falta de semicondutores é global, envolve a indústria toda. A diferença é que nós conseguimos gerenciar isso melhor do que a concorrência, com muito investimento em alternativas, e hoje temos mais produtos a oferecer”, destaca Zola.

VENDAS DIRETAS

Mais da metade do resultado da Fiat no primeiro semestre veio das vendas diretas a frotistas, locadoras, taxistas e pessoas com deficiência (PcD), que representaram perto de 65% dos emplacamentos da marca no período. São negócios que envolvem a concessão de descontos significativos, mas Zola não vê problemas nisso no momento: “É sim uma modalidade de negócio sustentável. Enquanto conseguirmos posicionar nossos produtos num ponto que nos permita trabalhar com a rentabilidade que precisamos e em um nível de competitividade (de preço) necessário, está tudo bem”, afirma. “Vamos continuar vendendo de maneira saudável dentro dos segmentos que atuamos”, completa.

Zola reconhece que as locadoras têm peso importante para a Fiat, mas muitas das vendas diretas são para pequenos negócios, como produtores rurais e microempresários, que aumentaram a demanda pelas novas picapes Strada e Toro, além das vans Fiorino e Ducato, e taxistas têm mostrado mais interesse pelos sedãs Grand Siena e Cronos.

ESTRATÉGIA DE RECONQUISTA DE MERCADO

“A Fiat teve momentos difíceis, há quatro anos entrou em declínio severo e tinha apenas 13% de market share. Mas conseguimos traçar uma rota de retomada que hoje se traduz na nova Strada, na nova Toro, na nova fábrica de motores [turbo] e no futuro novo SUV Pulse. Com isso em junho já alcançamos a mais alta participação de mercado (26,5%) da história da marca que está completando 45 anos no Brasil”, comemora Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul.


Zola pondera que, para além da competência do time de compras da companhia, a estratégia de reconquista de mercado começou a ser traçada pela Fiat há cerca de quatro anos, com o planejamento de reposicionamento da marca e lançamentos de produtos que começaram já em 2020 a fazer efeito nas vendas – começando pela nova geração da picape compacta Strada que hoje é o veículo leve mais vendido do País e tem filas de espera de até 120 dias.

“Ainda temos uma longa carteira de pedidos para atender da Strada, com prazos de entrega dilatados, cerca de 120 dias. Isso acontece pelo alto volume de pedidos e pelas restrições que enfrentamos na produção por falta de insumos”, explica Zola.

Com o lançamento das versões cabine dupla de quatro portas, algo inédito no segmento de picapes compactas, a nova Strada alcançou novos clientes e já vende o dobro da versão anterior. A opção mais cara da Strada representava algo como 5% das vendas até o ano passado, hoje a versão Volcano responde por 20% da demanda, e a Freedom (também de quatro portas) é responsável por mais 15%. “A procura por estas opções está até mais alta do que prevíamos”, destaca Zola.

O recente lançamento da Toro 2022 também já faz efeito positivo sobre as vendas. A nova versão já vende 30% mais que a anterior. Com Toro e Strada, a Fiat domina 54% do segmento – ou seja, de cada duas picapes vendidas, cerca de uma é da marca italiana. Com isso, os veículos classificados como comerciais leves representam algo como 45% das vendas da Fiat no País. Para Zola, essa participação deverá cair com o lançamento dos SUVs nos próximos meses, “mas deveremos manter os mesmos volumes no segmento”, pontua.

Atualmente a Toro é o segundo modelo Fiat com maior tempo de espera para entrega, algumas versões como a Ranch chegam a demorar 90 dias, as demais estão sendo entregues em cerca de 45 dias. Segundo Zola, os demais carros da marca também têm filas de espera, mas menores, em torno de 25 a 30 dias.

Com produtos muito bem posicionados agora e outros importantes a caminho, Zola avalia que a Fiat poderá se sustentar na liderança de mercado por um bom período.

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