Brasil já tem 14 fábricas afetadas pela escassez de semicondutores desde março
Automotive Business -
Consultoria AFS apresenta levantamento estimando que somente GM deixará de produzir 165,5 mil carros no Brasil até o fim de julho
PEDRO KUTNEY, AB
O tamanho do estrago resultante da falta de semicondutores na produção de veículos não para de crescer no Brasil. Segundo acompanhamento regular da consultoria Auto Forecast Solutions (AFS), dos Estados Unidos, o País já tem oito fabricantes com 14 fábricas afetadas de alguma maneira pela escassez de chips desde março, que já levaram a reduções ou paralisações das linhas de 41 modelos, com perdas somadas até agora de quase 200 mil unidades que deixaram de ser produzidas, número que deve subir para 220 mil levando-se em conta as interrupções já anunciadas até o fim de julho. Somando todas as paradas ou cadência reduzida, a AFS estima perda equivalente a 270 dias de operações.
Mais da metade dos volumes perdidos são da General Motors, até agora a fabricante mais afetada no Brasil pela falta de semicondutores essenciais à produção de veículos, que hoje saem de fábrica com dezenas de centrais eletrônicas de gerenciamento de diversas funções. A AFS estima que até o fim de julho a GM terá deixado de produzir 161 mil carros em três plantas: São Caetano do Sul e São José dos Campos, em São Paulo, e Gravataí (RS).
O maior problema é em Gravataí, onde desde março a GM interrompeu a produção e tem previsão de voltar a operar apenas em 2 de agosto próximo. Os cinco meses de interrupção equivalem à perda de 115 mil unidades que deixam de ser produzidas, segundo calcula a AFS. A paralisação já custou à fabricante a liderança do mercado brasileiro com os dois modelos fabricados na planta gaúcha, o hatch Onix e do sedã Onix Plus, que apesar dos efeitos adversos da pandemia em 2020 foram o primeiro e segundo automóveis mais vendidos do Brasil, respectivamente, com 218 mil emplacamentos no ano e média de 18 mil unidades/mês – em dezembro os dois junto venderam quase 30 mil.
O segundo fabricante no Brasil mais afetado pela falta de componentes eletrônicos é a Volkswagen, que entre maio e este mês precisou cortar turnos ou interromper a produção em suas três linhas de montagem de veículos, incluindo São Bernardo do Campo e Taubaté, ambas em São Paulo, e São José dos Pinhais (PR). Conforme calcula a AFS, após as paradas a montadora já perdeu a produção de pouco mais de 32 mil automóveis no País.
A Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, é a terceira que mais perdeu produção em 2021 por causa da falta de semicondutores, mas em nível muito abaixo das concorrentes. No período a empresa também fez reduções de cadência, mas não precisou fazer interrupções totais. Com isso, passou a liderar com folga o mercado brasileiro este ano.
A estimativa da AFS é que a Stellantis deixou de produzir 10 mil veículos desde maio até agora, a maior parte (9,7 mil) no Polo Automotivo Fiat de Betim (MG), o restante na planta Peugeot/Citroën de Porto Real (RJ). Em Goiana (PE), onde são produzidos os SUVs Jeep Renegade e Compass e a picape Fiat Toro, até agora não houve interrupção dos três turnos em atividade.
As perdas calculadas até agora pela AFS estão baseadas nas paralisações ou reduções de produção conhecidas informadas pelas fabricantes de veículos até o momento. Esses números tendem a subir nos próximos meses, como novos anúncios e mais fábricas que podem entrar na lista das afetadas, já que boa parte dos analistas alerta que o problema da falta de semicondutores deve se arrastar pelo resto de 2021 e parte de 2022, com algum normalização do fornecimento esperada só a partir do segundo trimestre do próximo ano.