Volkswagen Caminhões e Ônibus faz o lançamento comercial do e-Delivery

Já foram vendidas 100 unidades do caminhão elétrico à Ambev, Coca-Cola Femsa comprou 20 e JBS vai iniciar testes


PEDRO KUTNEY, AB

Quatro anos após apresentar o protótipo do primeiro caminhão elétrico projetado e desenvolvido no Brasil, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) fez esta semana o lançamento comercial do e-Delivery, que envolveu investimentos de R$ 150 milhões no desenvolvimento do veículo e preparação da fábrica de Resende para a produção. Inicialmente, o modelo será vendido nas concessionárias da marca nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro em duas configurações, de 11 e 14 toneladas de peso bruto total (PBT). Segundo a fabricante, já existem pedidos confirmados de 120 unidades, mas 58 empresas já demonstraram interesse.

O caminhão elétrico coleciona uma série de “primeiras vezes”. O e-Delivery começou a ser montado há um mês na fábrica de Resende (RJ), primeira do País a produzir um veículo 100% elétrico. E a primeira unidade foi entregue no fim de junho ao primeiro cliente, a fabricante e distribuidora de bebidas Ambev, que comprou os primeiros 100 veículos – de uma intenção de compra de 1,6 mil unidades para eletrificar 35% de sua frota até 2023, que na época, em 2018, foi o maior negócio de aquisição de veículos elétricos em uma só encomenda já anunciado no mundo. Foi também a Ambev que testou e aprovou na prática os primeiros e-Delivery, rodando mais de 40 mil quilômetros em operações de entregas de bebidas na cidade de São Paulo.

Ao realizar o lançamento comercial, a VWCO já anunciou mais dois clientes do e-Delivery, ambos do setor alimentício: a também fabricante e distribuidora de bebidas Coca-Cola Femsa, que encomendou 20 unidades, e o frigorífico JBS, que vai iniciar testes com um caminhão elétrico.

“Os clientes já estão respondendo à essa iniciativa pioneira no Brasil, assim como foi há 40 anos quando foram projetados e lançados aqui os primeiros caminhões Volkswagen do mundo. O e-Delivery é o primeiro passo do nosso projeto de eletrificação, que prevê o lançamento de outros modelos elétricos e vai consumir a maior parte dos investimentos de R$ 2 bilhões programados de 2021 a 2025”, afirma Roberto Cortes, CEO da VWCO.

O executivo acrescenta que a eletrificação do powertrain de veículos comerciais está em linha com a tendência global e com as metas do Grupo Traton, dono das fabricantes de caminhões e ônibus VWCO, MAN e Scania, que tem o objetivo de reduzir em 30% as emissões de CO2 de seus veículos até 2030 e de neutralizar todas as emissões até 2050.

Cortes diz que as vendas do e-Delivery vão começar nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro para serem ampliadas gradativamente a outras regiões do País, conforme crescer o interesse e a infraestrutura necessária para veículos elétricos. Também está nos planos exportar para países onde a VWCO já está presente e novos mercados que podem ser abertos com a expansão da eletrificação no mundo, inclusive a Europa. “Não descartamos nenhuma oportunidade, mas vamos ao poucos”, diz.

CUSTO MENOR COMPENSA PREÇO MAIOR

A VWCO não divulgou os preços sugeridos do e-Delivery, que podem variar bastante em função das diversas configurações possíveis de entre-eixos e pacotes de baterias das duas versões. Cortes admite que o valor “é de 2,5 a 3 vezes maior do que o modelo similar a diesel”, o que indica cifras acima dos R$ 500 mil. “Como qualquer nova tecnologia, o preço é maior, mas a produtividade também é maior e é preciso considerar que o custo de operação é muito mais baixo, pois a energia elétrica custa menos que o diesel e a manutenção do elétrico também fica mais barata com menos peças para trocar”, pontua.

Segundo Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas e marketing, “em cinco anos o cliente compensa o custo maior de aquisição com o TCO (total cost of ownership) muito mais baixo na comparação com um caminhão diesel”, afirma. “Além disso, o veículo elétrico também agrega valor à imagem da empresa que o utiliza, por isso já temos 58 empresas interessadas que estavam esperando pelo lançamento”, acrescenta.

Entre as economias de manutenção trazidas pela eletrificação, está o próprio motor elétrico, que tem muito menos desgaste em comparação com um propulsor a combustão porque tem poucas partes móveis. O sistema de regeneração de frenagem, que recarrega as baterias, funciona como freio-motor e aumenta em dez vezes a durabilidade de componentes como lonas, pastilhas e discos. Contudo, os módulos de baterias custam quase um caminhão a diesel.

SOLUÇÃO AMBIENTAL COM CONSULTORIA

“O e-Delivery é um legado da VWCO para o mercado. Estamos nos antecipando em oferecer uma solução para a necessidade de muitos clientes, que já pensam na eletrificação de suas frotas para atender suas próprias metas ambientais e políticas de sustentabilidade, bem como atender a legislação cada vez mais restritiva de emissões e poluição sonora, especialmente para circulação nos grandes centros urbanos”, explica Ricardo Alouche. “Não fornecemos só o caminhão elétrico, mas toda a consultoria que o cliente precisa para uma frota de elétricos e tirar o melhor proveito disso”, acrescenta o executivo.

Segundo Alouche, as duas primeiras versões o e-Delivery foram lançadas justamente pensando nas operações de entregas urbanas, com dois caminhões médios classificados como VUCs (veículo urbano de carga), com entre-eixo de 3,3 metros, o que permite a livre circulação em qualquer zona urbana.

Com capacidade para carregar até 6.320 kg ou 9.055 kg, respectivamente, os e-Delivery 11 6x2 e 14 6x2 saem de fábrica com suspensão pneumática ajustável e compartilham o mesmo powertrain: motor elétrico especialmente desenvolvido pela Weg para o caminhão com potência de 300 kW (408 cv) e troque máximo de 2.150 Nm disponível desde a mínima rotação. Não há transmissão, o propulsor é conectado diretamente no eixo trativo ECO (electric compatible) projetado pela Meritor para o e-Delivery. O sistema de frenagem regenerativa fornece até 40% da recarga das baterias.

A propulsão é alimentada por baterias de íons de lítio da chinesa CATL, com módulos de 650 V montados no Brasil pela Moura, integrante do e-Consórcio que também executa a montagem elétrica do caminhão em Resende e será responsável pela manutenção e reciclagem dos acumuladores. São oferecidos dois pacotes aos clientes, com três ou seis módulos, que garantem autonomia de 100 km ou 250 km com carga máxima.

O carregamento pode ser feito em recarregadores de 25 kW a 250 kW, que podem ser fornecidos pela Siemens ou ABB, também integrantes do e-Consórcio da VWCO, que também fornecem consultoria técnica para dimensionar a rede elétrica e carregadores necessários para abastecer a frota de veículos elétricos. O tempo de recarregamento varia de acordo com a potência das baterias e do recarregador, mas na melhor condição 80% da carga por ser abastecida em 45 minutos. Se quiser, o cliente pode contratar de outro membro do e-Consórcio, a GD Solar, a instalação de placas fotovoltaicas para abastecimento próprio de energia solar para seus veículos elétricos – como já faz a Ambev.

SERVIÇOS EXCLUSIVOS

Alouche afirma que a rede já está preparada para atender as necessidades de manutenção do e-Delivery, com estoque de peças de reposição já alocado no centro de distribuição de Vinhedo (SP). Também foi montado um pacote exclusivo de serviços on-line para o novo caminhão elétrico, que pode sair de fábrica com o módulo de conectividade Rio (do Grupo Traton), ativado com o e-Fleet para monitorar remotamente em tempo real o desempenho do veículo, incluindo um medidor que informa quanto CO2 deixa de ser emitido.

Por meio da leitura do QR Code impresso na carroceria, o motorista acessa o VW Field Service e é atendido por técnicos munidos de óculos de realidade virtual que “enxergam” todas as partes para ajudar no diagnóstico de possíveis problemas. O e-Delivery tem manual virtual cognitivo integrado em um aplicativo instalado no smartphone, que responde a qualquer dúvida do motorista.

O e-Delivery conta com planos de manutenção específicos e tem garantia de até dois anos para o powertrain e de até cinco anos para as baterias. As primeiras 100 unidades serão vendidas com o módulo Rio ativado com e-Fleet por cinco anos sem custos, além de garantia de cinco anos para as baterias.
 

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