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Locadoras tiveram que adotar medidas nas áreas de gestão de frota e locação

Com as entregas em atraso, frotistas ficam 3 vezes mais tempo com os veículos; empresa investiu mais nas marcas francesas da Stellantis


BRUNO DE OLIVEIRA, AB

Parte das montadoras que mantém contrato de venda de veículos com a Unidas avisaram à empresa que não conseguirão entregar o volume acordado para 2021, um reflexo da paralisação da produção que atinge algumas montadoras no país desabastecidas por semicondutores. O cenário refletiu na operação da locadora, que teve de adotar medidas nas áreas de gestão de frota e locação.

Uma delas, que até já estava sendo realizada havia alguns meses, é a negociação com os clientes para manter os veículos nas suas frotas por mais tempo. Na época pré-pandemia, o ciclo de um veículo da sua contratação por um frotista até a sua desmobilização para o mercado de seminovos era relativamente curta – antes era de um mês e agora está em três meses.

"Vai aumentar ainda mais a idade da frota contratada, pela questão do atraso nas entregas. Algumas já avisaram que não vão entregar todos os carros este ano, e nós equilibramos a operação para compensar isso", disse o Luiz Fernando Porto, CEO da Unidas, durante divulgação dos resultados financeiros do primeiro semestre na quarta-feira, 28.

VEÍCULOS MAIS VELHOS

De acordo com o balanço, a idade média da frota da Unidas, que era composta por 177,1 mil unidades no final de julho, foi de 15,3 meses, 13,6% a mais do que a idade média observada em igual período no ano passado. Com isso também subiu 16,6% o número de diárias contratadas no período, somando 24,5 mil diárias.

O apetite de compra no primeiro semestre foi maior do que aquele observado no ano passado, quando as locadoras reduziram o ritmo das aquisições. Até julho, a Unidas comprou 42,4 mil veículos, alta de 60%. "Vamos priorizar a unidade de locação para pessoa física, para onde vão a maioria desses veículos adquiridos”, contou Porto.

"Parte dos pedidos estão sendo entregues, mas o atraso ainda é grande e reflete na operação da companhia, que está perdendo receita porque não há frota suficiente para atender a demanda de um mercado que está crescente, principalmente na unidade de negócio de gestão de frotas", disse o CEO da Unidas.

A frota média alugada da companhia no primeiro semestre somou 137,2 mil unidades, alta de 16,2% sobre a frota alugada no primeiro semestre do ano passado. Deste total 85,3 mil unidades estiveram alocadas em frotistas, um crescimento de 19% sobre a mesma base de comparação.

A empresa experimenta aquecimento do mercado de seminovos, justificado pela diminuição da oferta de veículos novos no mercado e pela alta dos preços promovida justamente pela escassez. No primeiro semestre, a Unidas vendeu 31,1 mil veículos, alta de 12,6% ante igual semestre no ano passado, período em que o mercado viveu o auge da pandemia. No período houve registro de preço médio de venda recorde, R$ 56,6 mil, 49,5% maior do que aquele praticado no janeiro-junho de 2020.

O resultado, por outro lado, poderia ter sido maior se a empresa não tivesse optado por vender menos veículos neste período de atrasos nas entregas de veículos novos, esta outra medida que a empresa adotou para mitigar o descompasso que existe no fornecimento montadora-locadora.

A receita líquida da unidade de negócios de seminovos foi de R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre, desempenho 68,4% maior do que aquele registrado no primeiro semestre do ano passado.

CARROS FRANCESES NA MIRA DA UNIDAS

O CEO da empresa afirmou que há convicção acerca da manutenção do cenário de reajustes dos preços nos próximos dois anos, considerando manutenção do cenário de baixas vendas no segmento de veículos novos. "O cenário vai durar mais tempo do que esperávamos, haverá pouca oferta no mercado como um todo e isso afetará o preço dos veículos", disse o executivo.

Para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, no entanto, a tendência é de que haja estabilidade dos preços já no ano que vem, com a estabilidade do fornecimento de semicondutores e retomada da produção de veículos novos.

"Se o real voltar a se valorizar no ano que vem, principalmente no pós-eleição presidencial, a produção deverá ser maior. Se a produção subir, a tendência é de que os preços dos veículos passem por recuo", disse o analista.

Porto afirmou durante a apresentação que a Unidas realizou compras de veículos da Stellantis nos últimos meses, no sentido de aproximar de sua oferta as marcas francesas do grupo (Peugeot e Citroën). "Achamos que as marcas francesas podem ser players importantes com a gestão da Stellantis agora, considerando que agora existem um ambiente favorável em termos de rede e produto. Já compramos alguns carros deles apostando nesse conceito, sempre olhando para o longo prazo", contou o executivo.

PREJUÍZO REVERTIDO

A Unidas registrou no segundo trimestre um lucro líquido de R$ 239,5 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 14,5 milhões registrados no mesmo período de 2020, quando a companhia foi afetada pela pandemia de Covid-19. A receita teve crescimento de 77,7% no período, soando R$ 1,63 bilhão.

A receita líquida total do primeiro semestre somou R$ 3,1 bilhões, alta de 50,8% comparada ao mesmo período do ano passado. O Ebitda, que é o lucro antes de juros, impostos e amortizações, foi de R$ 1 bilhão, alta de 108%.

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