Mercado nacional de financiamento de veículos volta a crescer em 2021

No mês de abril ele chegou ao volume de carteira de crédito de R$ 293,3 bilhões, evoluindo 75% na última década, segundo dados do Bacen


Por Fábio Kruzich, head de desenvolvimento de negócios e serviços da FICO América Latina e Caribe

O mercado nacional de financiamento de veículos voltou a crescer em 2021. No mês de abril ele chegou ao volume de carteira de crédito de R$ 293,3 bilhões, evoluindo 75% na última década, segundo dados do Bacen.

Analisando as concessões de crédito para aquisição de veículos, chegamos ao montante de R$ 155,9 bilhões em 2020. Nos quatro primeiros meses de 2021 elas somaram R$ 58,2 bilhões, com crescimento de 32,7% em relação a 2020, o que projeta para 2021 um patamar de R$ 206,9 bilhões (janeiro a dezembro).

Com relação ao número absoluto de emplacamento de veículos*, em 2020 foram 15,9 milhões, com queda de 14,3% comparativamente a 2019, em grande parte por conta da Covid-19. Entretanto, analisando o período entre janeiro e abril de 2021 vemos uma recuperação, com crescimento de 36% sobre 2020, chegando ao total de 5,8 milhões de emplacamentos em 4 meses.

Já o financiamento de veículos, apesar da queda em números absolutos em 2020, foi percentualmente maior que em 2019 - representou 34,7% dos emplacamentos em 2020, contra 32,9% no ano anterior. Um percentual baixo se compararmos a outros países desenvolvidos como os EUA, onde mais de 50% dos veículos são financiados, de acordo com a média dos últimos anos.

Tudo isso - adicionado à queda nas taxas de juros, à já reduzida inadimplência do financiamento de veículos frente a outros produtos de crédito e ainda aos menores patamares de inadimplência da última década - me faz acreditar que este mercado tem muito o que crescer. E que para isso precisa se adaptar às necessidades da nova geração de consumidores.

E quais são essas necessidades da nova geração? Tento aqui resumir em duas questões básicas: transparência e experiência .

Transparência: significa proporcionar ao cliente acesso a informações. Fazer com que ele ou ela entenda o que está pagando, como está fazendo isso e qual o preço final da sua compra.

Hoje os consumidores ainda possuem uma cultura de parcela mensal e se ela cabe no bolso, sem entender os detalhes do que compõe essa prestação. Entretanto, esse "modus operandi" está mudando.

Temos um movimento grande em diferentes frentes para aumento da transparência e consequente conscientização/educação de crédito no mercado financeiro, como por exemplo:

• Conscientização de crédito: birôs buscando ensinar os clientes sobre seu "score de crédito", como ser melhor classificado e o que deve ou não deve ser feito para ser considerado um "bom pagador".

• Empoderamento do cliente: LGPD e open banking dando ao cliente a escolha de compartilhamento de dados e de mostrar seu histórico financeiro.

• Regulador trazendo competividade: Bacen trabalhando para a criação de um mercado mais competitivo, em que novos entrantes possam participar de forma equânime.

Experiência: passa por todo o ciclo de compra até a entrega do bem.

• Comparação de preços entre os ofertantes: necessidade de transparência e padronização de preços.

• Definição de preço justo para o nível de risco de crédito do comprador: ainda existe grande dificuldade de construção de preço baseado em risco.

• Clareza na oferta que está sendo feita ao cliente: cliente nem sempre entende o que está comprando, o que torna muito difícil a pesquisa e comparação.

• Facilidade de transição entre as etapas do processo até a finalização da compra.

Gestão do cliente na carteira, dando a possibilidade, de maneira simples, para que ele faça ajustes no contrato ou mesmo a quitação.

• Processo de recuperação de crédito que entenda a necessidade do cliente e traga flexibilidade para que esta necessidade possa ser atendida.

Os números nos mostram uma perspectiva de crescimento e um espaço muito grande para tal, mas isso não acontecerá de forma robusta se o mercado não se readequar para isso. Temos um mercado de carros novos mais bem atendido, com melhores taxas e subsídios dos bancos de montadoras, porém ainda há um espaço muito grande para crescimento, e quando olhamos para o mercado de usados, as oportunidades de crescimento são ainda maiores.

Como disse Miron Lulic em seu artigo sobre "Disrupção no Financiamento de Veículos", as empresas aéreas há décadas tornaram simples a comparação de opções/preços. Por que não podemos ter o mesmo por aqui no mercado de financiamento de autos?

Seja você também um catalizador do processo de melhoria deste mercado.

*Considerando novos, seminovos e usados de todos os segmentos: autos, comerciais, caminhões, veículos pesados em geral, ônibus, motos e outros.

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