Papel do Brasil no Mercosul repercute de forma negativa dentro da Anfavea
Automotive Business -
Fala do ministro Paulo Guedes em transmissão do Senado repercutiu mal entre lideranças da indústria automotiva
BRUNO DE OLIVEIRA, AB
As declarações de Paulo Guedes, ministro da Economia, a respeito do papel do Brasil no Mercosul repercutiram de forma negativa dentro da Anfavea. A associação que representa as montadoras instaladas no País é uma das mais ativas do setor industrial na articulação de políticas que viabilizam a complementariedade da produção nacional de veículos com a da Argentina, uma das sócias dentro do bloco econômico regional.
"Depois de um início forte, com integração regional, o Mercosul foi perdendo a importância. O Brasil é a maior força do Mercosul. Não é o Brasil que tem que estar dentro do Mercosul, mas o Mercosul que está onde o Brasil está. O Brasil não pode ser prisioneiro de negociações ideológicas que atrasam o progresso brasileiro", disse o ministro na sexta-feira, 20, em transmissão on-line que teve participação de representantes do Senado.
"Declarações como esta prejudicam o trabalho de integração que toda a indústria vem costurando com os mercados vizinhos há muito tempo no sentido de fortalecer o bloco e melhorar o ambiente de negócios na região", disse, em off, um representante da associação das fabricantes de veículos. "Mostra de certa forma que o atual governo tem uma visão equivocada sobre o papel da indústria na região."
Há anos interlocutores da Anfavea defendem o ponto de vista de que a produção industrial dos países deve assumir um papel complementar e não concorrente, e isso seria uma forma de fortalecer em mercados maiores, como Estados Unidos e Europa, os veículos montados aqui.
O ministro da Economia disse, ainda, que é contra o impedimento que há nas regras do bloco de se costurar acordos bilaterais com outros países. "O Brasil é grande demais para ficar preso em uma gaiolinha. Ou modernizamos isso aí, ou o Brasil vai quebrar a gaiola. A hora para nós é agora. Vamos fazer um movimento moderado, mas decisivo: 10% em todas as tarifas. Essa foi nossa proposta", afirmou.
Sobre o porcentual, ele se refere ao corte de 10% na Tarifa Externa Comum (TEC). O principal opositor à ideia de redução da tarifa é a Argentina. O país chegou a propor uma redução de 10% limitada a 75% da pauta comercial. No entanto, o Brasil avaliou que a medida não é suficiente e travou as conversas a respeito.
Segundo dados da Adefa, a associação das montadoras instaladas na Argentina, 65,2% da produção de veículos daquele país em julho teve como destino o mercado brasileiro. No sentido contrário, as exportações de veículos produzidos pelas fabricantes instaladas no Brasil também representam mais da metade do volume que saiu das linhas no mês.