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Mercedes-Benz investe no primeiro veículo elétrico no País

Chassi eO500U é modelo padron urbano de piso baixo para até 83 passageiros, com autonomia de 250 a 300 km


PEDRO KUTNEY, AB

A Mercedes-Benz deu seu primeiro passo na rota da eletromobilidade no Brasil, com investimento de R$ 100 milhões no projeto do chassi de ônibus urbano eO500U, apresentado na quarta-feira, 25. As vendas só começam em 2022, enquanto a fabricante ainda acerta os últimos testes e o modelo de negócio que prevê a venda do veículo junto com uma consultoria ao cliente que quiser adotar a propulsão elétrica em sua frota de ônibus, incluindo desde o financiamento até o fornecimento de carregadores e assistência técnica.

Karl Deppen, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, confirma que o investimento no primeiro veículo elétrico da marca no País está incluído no programa de R$ 2,4 bilhões para o período 2018-2022. O executivo avalia que o transporte urbano de passageiros é o melhor segmento para iniciar a rota da eletromobilidade no mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que coloca a subsidiária em linha com tecnologias globais da empresa, abrindo inclusive caminho para exportações do chassi elétrico para além de países da América Latina, como Europa e Oceania.

“Estamos entrando em uma nova era, um novo marco na trajetória da Mercedes-Benz no Brasil. Mas o eO500U é apenas o nosso primeiro passo no caminho da eletromobilidade aqui. Queremos oferecer uma solução completa aos clientes”, afirma Karl Deppen.

A Mercedes não esconde que também está no horizonte a possível venda e produção de caminhões elétricos no Brasil, como a Daimler já tem na Europa. Contudo, ainda não há previsão de quando isso pode acontecer. “Optamos por começar a eletrificação no segmento de ônibus porque tem maior impacto para a população. Caminhões têm mais restrições nesse mercado, mas ainda estamos avaliando qual será o melhor momento, quando a infraestrutura melhorar”, indica Roberto Leoncini, vice-presidente de marketing e vendas da Mercedes-Benz do Brasil.

O executivo destaca que o segmento escolhido para lançar o primeiro veículo elétrico no Brasil, o de transporte urbano de passageiros, alivia e supera a falta de infraestrutura, já que todas os frotistas já fazem o reabastecimento e manutenção de seus ônibus na própria garagem da empresa. “Isso facilita a adoção, porque os postos de recarga poderão ser instalados nos pátios, e os concessionários vão às empresas prestar assistência técnica como já fazem hoje”, explica Leoncini.

MERCADO DE ÔNIBUS ELÉTRICOS TERÁ ASCENSÃO LENTA

Uma das motivações para o lançamento agora do chassi elétrico é a legislação da cidade de São Paulo, que prevê até 2027 a eletrificação de 50% da frota urbana de transporte público, e de 100% até 2037. “Isso significa um volume de 7 mil ônibus até 2027 e de 14 mil até 2037”, calcula Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus da Mercedes-Benz. Ele afirma que já existem negociações com clientes interessados e estima que a partir do ano que vem deverá vender algo entre 50 e 150 unidades, inicialmente só na capital paulista, com possibilidade de expandir essa abrangência geográfica para outras capitais do País como Curitiba (PR), Vitória (ES) e Salvador (BA).

Barbosa estima que em um mercado potencial esperado de 10 mil a 12 mil ônibus por ano no Brasil, de 2% a 5% das vendas poderão ser de modelos elétricos, índice que deverá subir para 10% a partir de 2027 com a entrada em vigor da primeira etapa da legislação paulistana de redução de emissões de CO2.

A maior barreira para multiplicar as vendas ainda é o preço de aquisição do ônibus elétrico, segundo Barbosa de três a quatro vezes mais caro do que um chassi similar a diesel, com retorno do investimento em 10 a 15 anos. Por isso, até que a tecnologia ganhe escala para reduzir seus custos, o executivo avalia que será fundamental oferecer uma “solução completa ao cliente, incluindo veículo, carregadores, consultoria e financiamentos que precisam considerar valores maiores que os atuais para o pacote todo”. Segundo ele, o Banco Mercedes-Benz já trabalha na modelagem desses planos para apoiar a área de vendas. Uma das possibilidades, por exemplo, é fazer um leasing operacional só para as baterias, que seriam devolvidas à empresa após o fim do contrato.

Apesar do preço de aquisição de três a quatro vezes maior do que um veículo similar a diesel, a estimativa é que ônibus elétricos tenham custo de manutenção preventiva cerca de 50% menor, além da energia elétrica ser de 30% a 40% mais barata que o diesel atualmente. “Também há redução nas manutenções corretivas, mas ainda não sabemos de quanto exatamente porque precisamos de mais testes de rodagem sob as condições brasileiras”, explica Barbosa.

DESENVOLVIMENTO NO BRASIL E NA ALEMANHA

O desenvolvimento do eO500U começou há cinco anos, envolvendo a engenharia do Brasil – o País é centro de referência global em projetos de chassis de ônibus – e da Alemanha. Depois da modulagem virtual do chassi em 3D, foram construídos os primeiros protótipos e dois deles foram enviados à matriz alemã da companhia, onde rodaram cerca de 1 milhão de quilômetros em testes. Basicamente, a subsidiária brasileira adaptou ao já conhecido chassi O500U a propulsão elétrica desenvolvida já há alguns anos para os ônibus urbanos eCitaro vendidos na Europa.

Leoncini explica que o investimento no eO500U também envolve o desenvolvimento de serviços e fornecedores locais. “Isso é fundamental aqui para acessar as linhas de financiamento [de veículos comerciais] que exigem índices altos de nacionalização”, recorda.

“Com parte do desenvolvimento na Europa nós ganhamos velocidade porque aproveitamos a tecnologia já em uso lá e podemos comunizar vários componentes e sistemas, o que permite também a criação de um produto que poderá ser exportado do Brasil para vários países não só da América Latina, mas também da Europa e Oceania, onde existem mercados que compram chassis para serem encarroçados”, afirma Roberto Leoncini.


O eO500U é produzido na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) na mesma área onde são feitos os demais modelos de chassi da empresa. A linha recebeu investimentos de pouco mais de R$ 100 milhões e no ano passado inaugurou processos de manufatura digital da indústria 4.0. Segundo executivos da Mercedes-Benz, há capacidade suficiente para atender a demanda interna e externa.

PRIMEIRO PADRON ELÉTRICO

O eO500U será o primeiro ônibus urbano com medidas padron produzido e vendido no Brasil, com 13,2 metros de comprimento, piso baixo e capacidade para até 83 passageiros (igual a um padron a diesel). O veículo utiliza eixo trativo elétrico da ZF, com dois motores, um em cada roda traseira, que juntos têm pico de 380 cavalos e potência constante de 250 cavalos. Com quatro módulos de baterias (dois sob o piso e dois sobre o teto), tem autonomia para 250 km e a recarga completa, em corrente contínua, pode ser feita em apenas duas horas e meia – uma vantagem em relação modelos concorrentes que levam acima de quatro horas para recarregar. É possível instalar mais dois packs no teto para aumentar a autonomia para 300 km. O modelo também recupera a energia cinética das frenagens e desacelerações para repor parte da carga das baterias.

Por causa do pacote de baterias, o chassi elétrico é mais pesado, 8,1 toneladas contra 6 do O500U a diesel. Com a carroceria, o peso total sobe a 14,8 t, na comparação com 12,8 t de um padron equipado com motor a combustão. Como a Mercedes só produz chassis no Brasil, já estão em andamento negociações com os principais encarroçadores no País, como Marcopolo e Caio Induscar, que não devem encontrar grandes dificuldades para adaptar suas carrocerias ao modelo elétrico, que tem dimensões semelhantes ao chassi convencional.

Walter Barbosa avalia que as medidas padron de ônibus grande, capacidade, autonomia e tempo reduzido de recarga são as principais vantagens sobre os poucos concorrentes que já vendem ônibus elétricos no Brasil. Para o diretor de vendas, a Mercedes entra na rota da eletromobilidade no segmento e no momento certos. “Estamos introduzindo o elétrico quando o mercado brasileiro começa a ter maior maturidade para isso. Se fizéssemos isso há alguns anos teríamos mais dificuldade, como aconteceu com nosso concorrente”, ele diz, referindo-se à chinesa BYD, que em 2017 começou a montar chassis elétricos em Campinas (SP).

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