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Quanto a instabilidade política e econômica do País vai custar à indústria em redução de vendas e produção

Associação dos fabricantes de veículos já estima reversão das expectativas de crescimento


Enquanto tenta contornar a falta de semicondutores para atender a demanda maior que a oferta e reduzir as filas de espera, os fabricantes de veículos representados pela Anfavea ainda não conseguem calcular com clareza o quanto a instabilidade política e econômica (uma ligada à outra) do País vai custar à indústria em redução de vendas e produção. Mas o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, admite que as expectativas de crescimento estão sendo revertidas diante de um quadro que só piora a cada mês. 

“Quando tivermos semicondutores suficientes vamos saber qual é o tamanho real da demanda, que já pode estar sendo afetada, pois o ambiente econômico já preocupava e está piorando. A instabilidade política institucional do País não ajuda em nada a melhorar o cenário. Nossa preocupação é que tudo isso pode encolher o mercado brasileiro e reverter as expectativas de crescimento”, afirmou Luiz Carlos Moraes.

O dirigente aponta que as matrizes estrangeiras da indústria estão cada vez mais preocupadas com a crise institucional política que vem se agravando, culminou com os atos antidemocráticos do Sete de Setembro e segue gerando tensões. “Em multinacionais, sempre precisamos reportar a situação local e uma das primeiras perguntas que surgem é sobre a estabilidade do país. Fica mais difícil aprovar novos projetos em uma situação de instabilidade. As empresas vão preferir investir onde o câmbio é mais estável e não existem esses problemas políticos”, alerta. 

Os sinais que a instabilidade política está piorando o cenário econômico estão cada vez mais claros. No dia seguinte ao Sete de Setembro a Bolsa de Valores despencou, em queda de 3,78%, e o dólar subiu a R$ 5,33, embalado ainda mais por tensões como bloqueios em estradas por caminhoneiros realizaram e manifestantes tentaram invadir ministérios em Brasília. Moraes aponta que, pelo nível de crescimento e exportações do País, economistas dizem que o câmbio deveria girar em torno de R$ 4,30, mas está acima por conta do aumento do risco brasileiro; muitos exportadores não estão trazendo os dólares que ganham, preferem deixar no exterior por segurança. 

Com o avanço da crise política, problemas econômicos que já existiam estão se agravando, colocando o crescimento em risco. Entre os indicadores preocupantes está a escalada da inflação para além dos dois dígitos porcentuais, também alimentada pela desvalorização cambial, com consequente alta dos juros, dos custos e redução do poder de compra da população, aumento dos índices de pobreza, com mais de 14 milhões de desempregados e 20 milhões de subempregados. Para piorar, a crise hídrica e energética tende a derrubar ainda mais a economia. “Se o risco de racionamento e falta de energia for confirmado, com redução da produção será uma tempestade perfeita”, resume Moraes.

Semicondutores podem derrubar previsões

Enquanto aumentam as preocupações sobre o futuro, no presente a falta de semicondutores segue derrubando as previsões de recuperação da indústria. Em agosto, foram vendidos 172,9 mil veículos no País, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e chassis de ônibus. O resultado representa retração continuada, é 1,5% inferior ao apurado em julho e 5,8% abaixo do mesmo mês de 2020, quando a pandemia afetava o mercado com força maior que a vista hoje. Por isso, o acumulado de oito meses de 2021 de 1,4 milhão de veículos comercializados ainda é positivo, quase 22% acima do verificado no mesmo intervalo do ano passado, sob forte impacto das restrições provocadas pela Covid-19. 

O presidente da Anfavea explica que até agora o segmento de automóveis é o mais afetado pela falta de microchips, porque é o maior. Enquanto as vendas de veículos leves de passageiros avançou 14,6% nos oito primeiros meses de 2021 comparado ao mesmo período de 2020, as compras de modelos comerciais leves (principalmente picapes e furgões) cresceu 49% e as de caminhões tiveram alta expressiva de 50%, já superando os volumes de antes da pandemia, em 2019. 

Moraes já admite que as projeções anuais já foram afetadas pela falta de semicondutores, que está paralisando linhas de montagem. “Ainda estamos devendo automóveis para chegar à previsão”, afirma. Em julho passado a Anfavea projetava a venda de 1,73 milhão de carros, mas até agosto foram emplacados pouco mais de 1 milhão. Faltando quatro meses para encerrar o ano, o nível atual de 120 mil unidades/mês é insuficiente para atingir o projetado, seriam necessários mais de 180 mil por mês. 

Embora as vendas de caminhões e comerciais leves estejam acima das expectativas, talvez não sejam suficientes para compensar totalmente as perdas com automóveis, colocando em risco a estimativa de vender 2,32 milhões de veículos. “Mas ainda é cedo para rever as previsões, pois as montadoras estão tentando várias ações para reduzir essas perdas e não sabemos o que pode acontecer”, pondera Moraes. 

A Anfavea estima que 280 mil veículos devem deixar de ser produzidos este ano e o problema vai avançar para 2022, quando é esperado somente para o segundo semestre o restabelecimento do fornecimento de chips no mundo. “Os fabricantes estão fazendo o possível para atender a demanda, mas o problemas é global e não tem resolução rápida”, diz o presidente da entidade. .

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