Montadoras adotam estratégias criativas para driblar a crise dos semicondutores

Seguindo tendência nos EUA e na Europa, marcas nacionais instalam central multimídia na concessionária ou eliminam o item em alguns modelos


Desembarcou na operação das fábricas brasileiras as estratégias criativas que as montadoras adotaram em seus países de origem para driblar a crise dos semicondutores. Este mês, por exemplo, Toyota e Volkswagen passaram a equipar alguns de seus modelos com central multimídia fornecida por empresas homologadas em caráter emergencial.

Encontrar um novo fornecedor alternativo foi a forma encontrada pelas empresas para seguirem com as linhas produzindo e, também, para seguirem vendendo seus veículos. Ao optarem pela estratégia, disse Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, as empresas conseguem duas coisas: margem para desafogar seus fornecedores de sistemas e meios para reservar o estoque de chips para aplicação em modelos rentáveis.

“As montadoras estão neste momento priorizando modelos e mercados mais rentáveis no mundo. Esse critério define o deslocamento de semicondutores de um mercado menos rentável para outro que oferece maiores volumes no momento, de um modelo que oferece uma margem menor para outro com margem maior”, explicou o consultor.

Os veículos Nissan em alguns mercados estão saindo de fábrica sem sistemas de navegação, que normalmente seriam itens de série. A Renault é outro exemplo: na Europa, o SUV Arkana perdeu por ora a opção de ter uma tela digital de grandes dimensões no quadro de instrumentos e também não traz mais o sistema de navegação via satélite.

“Os sistemas de entretenimento são aqueles que oferecem essa flexibilidade às montadoras, algo que já não acontece com powertrain e sistemas de segurança, que possuem funcionalidade prioritárias”, contou Trujillo.

Por outro lado, as fabricantes estão buscando outras possibilidades afora o infotainment. A Peugeot, uma das marcas da Stellantis, está voltando a utilizar velocímetros analógicos no lugar da tela digital que equipa o projeto original do painel do modelo 308, na Europa. Nos Estados Unidos, as picapes Chevrolet Silverado estão chegando ao mercado sem o módulo de economia de combustível.

Jeitinho brasileiro

Já nos casos nacionais, as modificações estão concentradas apenas no sistema de entretenimento. A Toyota começou a vender a partir de 1º de setembro o sedã Corolla com uma nova central multimídia. A crise dos semicondutores, porém, levou a empresa a retirar a tela original de 8 polegadas para colocar no lugar uma maior, de 10 polegadas, que por outro lado não tem os sistemas Apple CarPlay e Google Auto nem os botões físicos como no modelo de fábrica. O acessório é fornecido por uma empresa nacional homologada como fornecedor há poucos meses.

À reportagem a montadora explicou que a instalação do novo componente é feita na rede de concessionários. O cliente, então, tem duas opções: manter o veículo sem o sistema e esperar pela volta da tela original ao mercado ou instalar, sem custo, a nova tela de 10 polegadas. A Toyota informou que a medida não tem caráter definitivo e que durará até o reestabelecimento da tela anterior nos seus estoques. Disse, ainda, que a configuração do Corolla Cross segue inalterada.

A Volkswagen, por sua vez, retirou do Fox e das versões de entrada do Polo, do Virtus e do Nivus a central multimídia que os equipavam desde seus lançamentos. Com isso, a montadora consegue reduzir o uso de chips nos modelos mais baratos e evita o risco de parada na linha de montagem para esperar o recebimento das peças. Estima-se que um veiculo moderno use cerca de 400 semicondutores nos modelos mais baratos, chegando a 1.000 nos mais sofisticados.

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