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Pirelli foca menos em aumento de capacidade e mais em tecnologias sustentáveis

Empresa se preparou para produzir pneus de alto valor no Brasil e exportar, inclusive para carros elétricos


Trabalhando atualmente a todo vapor, em três turnos, 24 horas, sete dias por semana em suas três fábricas de pneus para carros na América do Sul (duas no Brasil e uma na Argentina), a Pirelli foca seus investimentos na região, onde emprega quase 8 mil pessoas, menos em aumento de capacidade e mais em tecnologias sustentáveis, para fazer produtos de maior valor agregado alinhados às principais tendências que movem a indústria automotiva global, como eletrificação dos veículos, economia de combustível para reduzir emissões e produção industrial com o menor impacto possível ao meio ambiente. 

Segundo Cesar Alarcon, presidente da Pirelli América Latina, a sustentabilidade socioambiental dirigiu a maior parte do último ciclo de investimentos da empresa na região, de € 250 milhões no período 2018-2020, que permitiu a contínua modernização das fábricas e adoção de tecnologias industriais, como sistemas de manufatura digital da indústria 4.0, para produzir pneus que vão equipar carros mais amigáveis ao meio ambiente, incluindo os veículos elétricos. 

“A sustentabilidade não é mais algo do futuro, mas do presente, e o Brasil e a América Latina podem se beneficiar disso, ganhando um diferencial competitivo em relação ao resto do mundo com a adoção de tecnologias sustentáveis”, avalia Cesar Alarcon.

Nesse sentido, o executivo destaca que as fábricas brasileiras em Campinas (SP) e Feira de Santana (BA) estão equipadas com as mais modernas tecnologias de produção e atualmente exportam cerca de um terço da produção, incluindo países como os Estados Unidos com especificações bastante exigentes. Com isso, afirma Alarcon, a operação no País está preparada para produzir pneus para carros elétricos, que necessitam de formulação com menor resistência ao rolamento (para economizar energia) ao mesmo tempo em que precisam ter aderência para responder ao torque maior desses veículos com segurança. 

Assim, mesmo que a adesão à eletromobilidade ainda seja muito baixa e lenta no Brasil, é provável que a Pirelli comece a produzir esses pneus aqui para exportar e atender à crescente demanda internacional. Alarcon aponta que até 2025 mais da metade das homologações de novos pneus no mundo para fornecimento às montadoras serão para equipar veículos elétricos, que nesse horizonte de apenas quatro anos devem consumir algo perto de 30% da produção global de pneus da companhia destinados às fábricas de automóveis. “Como também exportamos, poderemos produzir aqui esses modelos”, afirma. 

Alarcon também destaca que o Brasil, onde a Pirelli se instalou há mais de 90 anos, também participa dos desenvolvimentos globais com o maior centro de pesquisas tecnológicas da indústria de pneus na América Latina, um dos 12 da empresa no mundo. Essa estrutura desde o ano passado também conta com o Circuito Panamericano, o maior complexo multipistas para testes de veículos da região, construído com investimentos de R$ 90 milhões em Elias Fausto, próximo a Piracicaba, no interior paulista. Com 1,65 milhão de metros quadrados e sete pistas, o campo de provas é usado para desenvolver pneus para o mundo todo, afirma o executivo. 

Baixa resistência e alto valor
Alarcon explica que está no centro da estratégia global da Pirelli produzir pneus com alta tecnologia, baixa resistência ao rolamento e alto valor agregado, tanto para carros com motor a combustão como elétricos, porque este também é o objetivo central de todos os fabricantes de veículos no mundo diante das exigências cada vez mais apertadas de redução de consumo e emissões de CO2. “Todos os clientes buscam esse objetivo e nós temos focado nossos desenvolvimentos nesses produtos, mas também buscando maior sustentabilidade”, diz. 

A sustentabilidade não é só ambiental, mas também comercial. A estratégia da Pirelli é liderar o mercado de pneus de alto valor, com medidas acima de 17 a 18 polegadas. Segundo Alarcon, esse é o segmento de fornecimento direto às montadoras que mais cresce no mundo, a taxas de 15% ao ano, e a empresa já lidera no Brasil, embalada no crescimento das vendas de SUVs, que normalmente são mais altos, pesados e calçados com pneus maiores, mais caros e com baixa resistência ao rolamento para compensar o peso. 

Exemplo dessa expansão é o fornecimento crescente da fábrica da Pirelli em Feira de Santana para o Polo Automotivo Jeep da Stellantis em Goiana (PE), onde atualmente são produzidos os SUVs Renegade, Compass e Commander, além da picape Fiat Toro.

A expansão da frota de picapes e SUVs em breve deverá aumentar as vendas de pneus de alto valor no mercado de reposição, hoje responsável por 65% da produção da Pirelli no Brasil e na Argentina. A empresa estima que globalmente os volumes de pneus acima de 18 polegadas destinados a veículos usados vão saltar de 40% em 2019 para 60% em 2025.

Metas ambientais
O aumento da produção dos chamados “pneus verdes”, com menor resistência ao rolamento, faz parte dos objetivos ambientais da Pirelli para se tornar, até 2030, uma empresa neutra em carbono tanto nos processos industriais como nos produtos fabricados. Esses pneus já são produzidos desde a década de 1990 e desde então a tecnologia vem evoluindo. Eles têm em sua composição mais sílica em substituição ao negro de fumo derivado de petróleo, elemento usado para dar robustez à borracha. 

O uso do insumo, normalmente extraído da areia, torna o produto mais resistente a lacerações e menos pegajoso no contato com o solo, o que consequentemente reduz o gasto de combustível. O desafio é reduzir a resistência sem perda de aderência, para não comprometer a segurança do veículo, o que segundo Alarcon é obtido com a aplicação de “muita nanotecnologia”. 

A Pirelli avançou nessa evolução para tornar a produção dos pneus verdes mais amigável ao meio ambiente, com uso de matéria-prima renovável. A fabricante desenvolveu e patenteou um processo para extrair sílica das cinzas da queima de cascas de arroz. Inicialmente a empresa investiu em uma fábrica na cidade de Meleiro (SC) para produzir o insumo, mas atualmente já existem outros fornecedores no País.

O uso da sílica da casca de arroz está em linha com as metas ambientais globais da Pirelli, que até 2025 planeja que o uso de matérias-primas renováveis seja de mais de 40% na produção de seus pneus, o que envolve também o aumento de borracha natural na formulação. Até 2015 esse porcentual girava em torno de 20%. Ao mesmo tempo, também nos próximos quatro anos, a empresa quer reduzir para menos de 40% a aplicação de material fóssil em seus produtos.

Também até 2025, o plano é usar 100% de energia renovável e reduzir em 43% o consumo de água (em relação a 2015) em todas as suas 18 fábricas no mundo. “As iniciativas de sustentabilidade envolvem a maior parte dos investimentos e dos esforços da Pirelli”, destaca Alarcon.

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