Abeifa avalia números do balanço trimestral da entidade
Automotive Business -
Agora sem a BMW, entidade crê que o mercado só vai normalizar no 2º semestre, mas ainda sofrerá com dólar alto e instabilidade política
O ano que vem não será fácil na avaliação da Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores), como também revelam os números do balanço trimestral da entidade divulgado na terça-feira, 5.
Em parte, porque o cenário antes tão positivo para este ano não deve mais se concretizar, já que a entidade precisou revisar para baixo a maioria de suas previsões de vendas no mercado brasileiro de automóveis e veículos leves.
Assim como fez a Fenabrave, que ontem divulgou uma estimativa de vendas para 2021, que caiu dos anteriores 2,159 milhões para os atuais 2,011 milhões, a Abeifa seguiu o mesmo caminho e diminuiu sua expectativa de 2,160 milhões para 2 milhões.
“A gente sabe que a crise dos semicondutores é severa e não enxergamos melhoria no curto prazo. No melhor cenário, ela deve perdurar até o primeiro semestre de 2022. Lembrando que na Abeifa, por se tratar muito fortemente de importação, tem um reflexo que dura três meses depois, que é o tempo médio de o veículo ser fabricado lá fora e ficar disponível para venda no Brasil. Portanto, para Abeifa, o impacto deve durar até setembro do ano que vem”, disse João Henrique Oliveira, presidente da entidade.
Oliveira lembra ainda que 2022 também terá desafios no ambiente econômico, especialmente por causa de um câmbio que deverá manter o dólar valorizado, mas também devido à expectativa de uma pressão inflacionária e da queda da previsão do PIB – a Abeifa trabalhava para o ano que vem com cerca de 2,5% ou até acima e agora reviu o índice para 2,1%. “São pontos que acabam pressionando nosso potencial de fazer negócios em 2022”, justifica o presidente da associação.
Instabilidade política afetando os negócios
Outro aspecto que também é um ponto de atenção é quanto à possibilidade do clima de instabilidade política e das eleições impactarem no cenário econômico. “Devemos ter uma moeda fechando o ano que vem ligeiramente mais desvalorizada do que agora [a previsão para este ano é de um dólar a R$ 5,33], sofrendo pressões pontuais dependendo de como o processo político se desenrole”, analisa Oliveira. “Isso é algo que a gente vai ter de tratar no ano que vem junto com a questão do desabastecimento. Não será um ano fácil, mas acreditamos que mesmo assim será possível fazer um bom trabalho.”
Apesar do futuro menos otimista do que o esperado no início do ano, a entidade comemora a normalização do clima de negócios com o avanço da vacinação e a redução cada vez maior do risco de contágio pela Codiv-19, em grande parte embalada por alguns números de vendas positivos revelados pela Abeifa.
No acumulado do ano até setembro, a entidade apresentou um crescimento bem acima da média. O mercado brasileiro total cresceu 13,2% em relação a 2020, mas registrou uma queda de 24% comparado a 2019, ano que foi considerado “normal”, sem o impacto da pandemia. Já as vendas das marcas associadas à Abeifa tiveram um aumento de 50% em relação a 2020 e 23,5% sobre 2019.
Esse bom desempenho deve-se principalmente às marcas que produzem no Brasil, que é o caso da Caoa Chery, responsável por quase metade das vendas totais da entidade. Quando colocamos os importados na conta, a situação é menos favorável.
O mercado brasileiro até registrou um crescimento de vendas de veículos importados neste ano de 13,2% sobre 2020, mas caiu 24% quando comparado a 2019. Já os importados da Abeifa tiveram um crescimento de apenas 2,9%, que foram impactados tanto pela crise dos chips quanto pelo efeito do câmbio valorizado.
Sai BMW, pode entrar Great Wall
Todas essas estatísticas foram calculadas já excluindo os números da BMW, que no mês passado deixou de ser uma associada da Abeifa, da qual fez parte por 30 anos. Agora a montadora alemã passa a integrar apenas a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Tradicionalmente a Anfavea está mais ligada à produção local, enquanto a Abeifa sempre ficou mais associada à importação, por isso costuma ser a porta de entrada para marcas que estão estabelecendo no Brasil.
Dentro desse espírito, a Abeifa informou que no momento está em negociações para ter como nova integrante a chinesa Great Wall, que vai iniciar em 2022 sua importação e em 2023 para produção local em Iracemápolis (SP), na fábrica recém-adquirida da Mercedes-Benz.