Carlos Zarlenga deixa a presidência da General Motors para assumir uma nova empresa

Empresa de private equity também terá Francisco Valim, ex-Via Varejo, e Barry Engle, ex-Ford e GM, na operação na América do Sul


Foi em menos de um mês que o executivo Carlos Zarlenga deixou a presidência da General Motors na América do Sul para assumir nesta quinta-feira, 7, uma nova empresa na região, a Qell Latam Partners (QLP), que tem como principal modelo de negócio o private equity, o investimento em participação em empresas, visando a busca e posterior aquisição de companhias do setor automotivo por meio de recursos de fundos nacionais e estrangeiros.

O executivo entra na empreitada junto com Barry Engle, outro nome forte dentro da GM durante anos além de ter sido CEO da Ford no Brasil, e Francisco Valim, que no passado foi presidente da operadora Oi e da Via Varejo. Engle é o fundador da Qell nos Estados Unidos e, aqui, será o presidente do conselho de administração da QLP. Zarlenga será responsável pelos assuntos ligados ao setor automotivo. Valim, por sua vez, pelos negócios em outros setores.

À Automotive Business, Zarlenga disse que o momento no País é promissor em termos de reestruturação de ativos. “O desinvestimento das matrizes no Brasil e na Argentina está acontecendo muito antes da pandemia, com empresas fechando operações na região. Nossa ideia é buscar ativos subutilizados, comprá-los e melhorar sua operação. Também buscamos fusões de empresas que, juntas, podem ter um desempenho melhor”, disse.

Por ora a companhia executa processo de mapeamento da indústria automotiva nacional em parceria com consultoria especializada no sentido de encontrar empresas com este perfil, sejam montadoras ou autopeças. “Nas matrizes há uma discussão muito forte a respeito dos seus ativos em vários mercados do mundo, dada a transformação pela qual passa a indústria”, contou o executivo.

Lucros cada vez menores no Brasil

O Brasil, de fato, tem representado cada vez menos oportunidades de lucros às casas matrizes que mantêm operação local. No primeiro semestre, por exemplo, as remessas de lucros e dividendos que as empresas brasileiras do setor automotivo enviam para suas casas matrizes caíram mais da metade. Segundo dados do Banco Central, montadoras e autopeças multinacionais instaladas aqui remeteram até junho US$ 150 milhões às suas sedes em lucros e dividendos, um valor 57% menor do que aquele remetido no janeiro-junho do ano passado, que foi de US$ 351 milhões.

O histórico de baixa lucratividade nos últimos anos levou a General Motors, sob a batuta do próprio Zarlenga, a cogitar sair do País por esta razão, assim como a Ford que, de fato, encerrou sua produção local.

Dados do BC mostram que as remessas de lucros deixaram a casa dos bilhões de dólares a partir de 2014, quando o volume enviado às matrizes no ano foi de US$ 819 milhões. Em 2016, caiu para US$ 114 milhões e, desde então, vinha apresentando perfil de crescimento até desabar, de novo, em 2020 por causa da Covid-19.

Encarar a indústria de outro jeito

O investimento direto das matrizes, por meio dos empréstimos intracompany, também caiu no primeiro semestre. Os dados do BC mostram que foram injetados nas montadoras e autopeças instaladas no país US$ 3,696 bilhões até junho, valor 30% inferior àquele investido no primeiro semestre do ano passado.

“Eu saí da GM para abrir esta empresa. É muito consistente o que estamos falando há muito tempo a respeito da operação das empresas do setor. Sempre falei que tínhamos de encarar a indústria de outro jeito, e seria muito difícil realizar qualquer transformação ocupando uma cadeira dentro da própria indústria”, comentou o executivo a respeito do seu desligamento da montadora ocorrido no mês passado.

A QLP mantém sede em escritório localizado em São Paulo (SP). Os recursos que afirma ter disponível para aquisições podem chegar a até US$ 3 bilhões. Além da busca por oportunidades na cadeia automotiva a companhia de private equity mira negócios envolvendo etanol. “Nossos recursos vêm de laços sólidos que mantemos com investidores no exterior, mas queremos expandir nosso alcance por meio de investidores locais”, finalizou o executivo.

Publicidade