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Conservação dos manguezais da Amazônia é estratégica global de mitigação da mudança climática

Projeto desenvolve ações socioambientais na costa do Pará visando a conservação desse ecossistema, que estoca carbono e evita emissões de gases de efeito


A conservação dos manguezais da Amazônia, um dos sumidouros de carbono mais potentes do planeta, é estratégica nos esforços globais de mitigação da mudança climática que marcaram as negociações da COP26, a conferência da ONU realizada em Glasgow, na Escócia, com a expectativa de colocar o mundo no caminho do baixo carbono e evitar o pior cenário de impactos ambientais, sociais e econômicos do aquecimento global.

A zona costeira do Pará, Amapá e Maranhão, além englobar a maior faixa contínua de manguezais do mundo, possui mais de 8 mil km de extensão, cerca de 80% dos existentes em todo o litoral brasileiro. O diferencial é que, na Região Amazônica, esse ecossistema encontra-se em bom estado de conservação, comparando-se aos manguezais do Nordeste e Sudeste. Apesar do desmatamento da Floresta Amazônica em terra firme, os manguezais da região têm se mantido em pé junto às riquezas da biodiversidade que ajudam a garantir renda, segurança alimentar e qualidade de vida das comunidades — e a contribuir no equilíbrio do clima.

— O potencial climático se soma à conservação de recursos importantes ao desenvolvimento local e ao futuro das próximas gerações que habitam as áreas de manguezais — afirma Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA) – instituição parceira do projeto Mangues da Amazônia, patrocinado pela Petrobras e realizado pelo Instituto Peabiru e Associação Sarambuí.

O plano é reflorestar de 12 hectares em dois anos, distribuídos em áreas já impactadas em três reservas extrativistas dos municípios de Augusto Corrêa, Bragança e Tracuateua (PA), mobilizando direta e indiretamente cerca de 7,6 mil pessoas. Além do plantio de mudas e atividades socioambientais de educação, empoderamento social e organização comunitária, o projeto desenvolve estudos para suporte a práticas sustentáveis de manejo do caranguejo-uçá e outros recursos naturais, bem como para o conhecimento sobre a relação entre os manguezais amazônicos e a mudança climática.

Sob influência dos sedimentos levados pelo Rio Amazonas até a foz, no Oceano Atlântico, os manguezais da região acumulam grande quantidade de matéria orgânica no solo e nas plantas, funcionando como uma “bomba de carbono”, de acordo com pesquisas científicas já realizadas. “Queremos entender mais a fundo o papel da conservação desses ecossistemas no estoque de carbono e na redução de emissões para atmosfera”, explica Fernandes.

Dessa forma, um dos objetivos do trabalho é medir o potencial de contribuição do reflorestamento à captura e redução de gases de efeito estufa, com base em padrões científicos, comparando áreas conservadas com as que se encontram degradadas e com as de florestas de mangue-anão nativas, que são mais abertas e menores, além das áreas impactadas por atividades antrópicas, como a construção de estradas.

— Muito se fala sobre os manguezais pela proteção natural das zonas costeiras contra a elevação do nível do mar, mas eles sofrem riscos e estão entre os principais prejudicados pelos impactos da mudança climática — ressalta o biólogo Hudson Silva, pesquisador do LAMA ligado ao trabalho que compara as áreas em diferentes estágios de conservação. A meta é expandir o levantamento das emissões de metano e dióxido de carbono nos manguezais de reservas extrativistas, com o desafio de fazer o monitoramento de alterações no solo devido a mudanças no padrão de chuvas e do nível do mar, por exemplo. É na lama dos manguezais onde se concentra a maior parte do carbono estocado nessas áreas, em contribuição para o clima global.

Segundo Silva, os mangues emitem menos carbono por conta da interação química com a água do mar, no vaivém das marés. — Como os manguezais seguram grande quantidade de carbono, a consequência dos impactos da ação humana — principalmente nas áreas mais secas – é de uma rápida emissão para a atmosfera — aponta o pesquisador. Ele lembra que o caranguejo participa do processo de decomposição ao se alimentar das plantas, e a redução da espécie pela captura não sustentável “dificulta o papel do manguezal como sumidouro de carbono”.

Projeto Mangues da Amazônia — O Mangues da Amazônia é um projeto socioambiental com foco na recuperação e conservação de manguezais em Reservas Extrativistas Marinhas do estado do Pará. É realizado pelo Instituto Peabiru e pela Associação Sarambuí, em parceria com o Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), e conta com patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental. Com início em 2021 e duração de dois anos, o projeto atua na recuperação de espécies-chave dos manguezais através da elaboração de estratégias de manejo da madeira e do caranguejo-uçá com a participação das comunidades.

Perfil — A Associação Sarambuí é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) com sede em Bragança – Pará, constituída em 2015, cuja missão é promover a geração de conhecimento de maneira participativa, em prol da conservação e sustentabilidade dos recursos estuarino-costeiros. Nossas ações são direcionadas ao ecossistema manguezal, ao longo da costa amazônica brasileira, em particular no litoral do Estado do Pará. É uma das organizações realizadoras do projeto Mangues da Amazônia.

O Instituto Peabiru é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) brasileira, fundada em 1998, que tem por missão facilitar processos de fortalecimento da organização social e da valorização da sociobiodiversidade. Com sede em Belém, atua nacionalmente, especialmente no bioma Amazônia, com ênfase no Marajó, Nordeste Paraense e na Região Metropolitana de Belém (PA). É uma das organizações realizadoras do projeto Mangues da Amazônia.

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