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Carbon torna-se a maior blindadora de veículos civis do mundo e domina o mercado brasileiro

Aporte até 2024 inclui compra de fábrica de vidros e expansão da produção


Pedro Kutney, AB

Com apenas seis anos de existência, a Carbon tornou-se a maior blindadora de veículos civis do mundo e dominou o mercado brasileiro. A produção recorde de 3,7 mil veículos em 2021 equivale a fatia de 20% das blindagens de carros no País, porcentual quase três vezes maior do que a soma de segundo (4%) e terceiro (2,5%) colocados do segmento. A projeção é de crescimento contínuo nos próximos anos, incluindo até exportações, o que fez a empresa definir investimentos de R$ 50 milhões até 2024 para ampliar suas linhas, eliminar gargalos e verticalizar parte da cadeia de suprimentos.

A maior parte dos recursos, R$ 25 milhões, já foi aplicada na compra em setembro passado da Graffeno, fabricante de vidros balísticos instalada em Atibaia (SP), que vai passar a direcionar toda a produção para a linha de montagem da Carbon em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. A intensão é eliminar o que é considerado um gargalo ao crescimento da blindadora, pois vidros são o principal insumo da blindagem, representando quase 50% dos custos.

Nesse sentido, mais R$ 10 milhões serão investidos para triplicar a capacidade de produção da Graffeno de 200 para até 600 kits por mês, suprindo assim as necessidades atuais da Carbon, que hoje consome mais de 300 kits/mês de seis fornecedores, ao mesmo tempo em que já assegura o fornecimento para a expansão prevista – a empresa projeta blindar 4,2 mil carros em 2022 e chegar a 5,3 mil até 2024. 

Também no sentido de eliminar gargalos, R$ 9 milhões serão investidos na formação de estoques estratégicos, principalmente insumos importados, como mantas balísticas. Mais de R$ 3 milhões vão ser direcionados ao desenvolvimento de produtos e outros R$ 3 milhões vão para comunicação e marketing. 

Estratégia de fabricante de veículos para crescer

Alessandro Ericson, CEO da Carbon Blindados, destaca que o crescimento da empresa vem acontecendo pela tomada de terreno, pois o mercado brasileiro de blindados ficou estagnado nos últimos dois anos. Antes do impacto da pandemia, em 2019 foram blindadas 18,8 mil veículos, número que subiu marginalmente para 18,9 mil este ano, enquanto o volume anual da Carbon saltou de 1,97 mil para 3,74 mil agora. 

A Carbon nasceu de uma empresa de tecnologia, a Nava Technology for Business, que fornece serviços para bancos. Segundo Ericsson, a Nava era cliente de carros blindados e enxergou uma oportunidade nesse mercado, até então dominado por blindadoras pequenas, de baixa capacidade de produção e faturamento anual abaixo de R$ 50 milhões – a Carbon já fatura R$ 250 milhões. Com a cultura de crescimento acelerado e uso de estratégias adotadas por fabricantes de veículos, a expansão foi rápida e contínua.

A linha de produção em Barueri, que hoje ocupa 25 mil metros quadrados, foi planejada como se fosse uma linha de montagem de carros. O projeto nasceu ainda no ano da fundação da Carbon, em 2016, quando foi feita uma parceria com a fábrica da Jaguar Land Rover em Itatiaia (RJ) para construir bem ao lado uma planta de blindagem. A montadora inglesa desenhou o projeto e iria bancar os custos de implantação da linha, enquanto a blindadora ficaria com a engenharia e mão de obra especializada. O projeto não foi adiante, mas foi aproveitado para expandir a própria operação da Carbon. 

Atualmente a Carbon trabalha em um só turno e tem pouco mais de 500 empregados, a maioria nas linhas de produção. Com os planos de expansão, novas contratações estão no horizonte, com estimativa de geração de mais 300 empregos nos próximos dois a três anos.

“A Carbon adotou estratégias parecidas com a de um fabricante de veículos. Temos uma linha de montagem produtiva, que pode triplicar a produção atual para até 10 mil veículos por ano em três turnos. Também usamos o mesmo sistema de distribuição, com mais de 240 pontos de vendas em concessionárias e lojas multimarcas”, explica Alessandro Ericsson.

Parceria com fabricantes e exportação de Volvo blindados

Atualmente 70% das vendas da Carbon estão concentrados justamente nas concessionárias e lojas multimarcas parceiras, que em alguns casos vendem carros blindados para pronta-entrega. Outros 20% dos negócios são de blindagens para frotas de empresas, e 10% vêm de clientes particulares. 

A Carbon tem certificação para blindagem de veículos de quatro marcas diferentes: é certificada para modelos Jaguar e Land Rover, homologada pela Toyota e é a blindadora oficial global da sueca Volvo, que após aplicar testes com 15 veículos que receberam mais de 400 tiros, passou a trazer modelos produzidos na Europa para serem blindados no Brasil e depois reexportados para clientes no mundo todo. 

Este ano a Carbon deve exportar cerca de 35 Volvo blindados para clientes particulares na Bélgica, para forças policiais na Itália e embaixadas da Suécia em alguns países, incluindo a renovação da frota usada pela família real sueca. “Como o Brasil tem o maior mercado de blindados do mundo, com quase 40% das vendas globais, temos competitividade e capacidade para atender esses pedidos do exterior com qualidade”, explica Ericsson.

Apesar das parcerias, a Carbon trabalha com a blindagem de carros de qualquer marca e tipo, inclusive elétricos. “Já fizemos a primeira blindagem de um Tesla no mundo e temos feito de diversos Volvo eletrificados. É um processo diferente e mais caro, são necessários mais cuidados com o sistema de alta voltagem, mas também aprendemos a fazer”, diz Ericsson.

Público de alta renda e crescimento blindado

Segundo Lincoln Reis, sócio-fundador do grupo empresarial e chairman da Carbon, o crescimento este ano poderia ser ainda maior se o mercado não estivesse limitado pela produção de veículos abaixo da demanda, devido aos problemas de fornecimento de componentes eletrônicos que vêm paralisando linhas de montagem no mundo inteiro. 

“Em quase todas as marcas há falta de veículos, principalmente nas categorias premium. Temos procura de clientes para os mais diversos modelos e a constante reclamação de falta de produtos ou longa espera. Estimamos que a falta de carros gerou um impacto negativo de no mínimo 25% nos volumes”, afirma Lincoln Reis.

Os custos de produção, muitos deles cotados em dólar caro, subiram mais de 30% este ano, o que fez a média de preços de uma blindagem na Carbon subir de R$ 60 mil há dois anos para R$ 80 mil hoje. Mas, ao contrário de outros setores da economia, este não é um problema para o crescimento do mercado de blindados previsto para os próximos anos. 

Os lamentáveis e crescentes índices de violência no Brasil seguem alimentando o segmento, sustentado por público de alta renda que paga de R$ 200 mil a R$ 1 milhão em um carro, precisa se proteger de assaltos ou sequestros, por isso aceita sem problemas aumentos de R$ 15 mil a R$ 20 mil para blindar seu automóvel, que hoje na Carbon custa de R$ 50 mil a R$ 130 mil e pode chegar a R$ 200 mil, dependendo do modelo e tipo de blindagem.

Ericson conta que a maioria dos pagamentos é feito à vista ou no máximo em três parcelas sem juros. Existem planos de financiamento de 12 meses, mas que agregam juros elevados que esse perfil de cliente não precisa pagar. A inadimplência nesse segmento é praticamente zero, diz o executivo. 

Com a demanda crescente, o faturamento também avança. As receitas da holding, incluindo Carbon e Nava, devem somar meio bilhão de reais este ano e metade disso, R$ 250 milhões, deve vir da operação de blindagem de carros. A projeção é de R$ 650 milhões em 2022 e de R$ 900 milhões em 2024.

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